Vegetarianismo e o meio ambiente: “comer também é um ato político!”

Entenda a mudança na alimentação de estudantes da UFF e como isso influencia no meio ambiente

Por Júlia Martins


Foto: Victória Shintomi

O movimento vegetariano/vegano, ao contrário do que pensam, não é uma iniciativa recente. Compartilhada por civilizações do Egito Antigo, Grécia e Índia, a dieta sem carne ou derivados de animais teve sua popularização moderna apenas na década de 60, e permanece em alta até os dias atuais. 

A contínua adesão ao movimento, principalmente por parte dos jovens, ocorre graças a uma ferramenta: a informação. Há um crescimento de pesquisas na área que buscam entender em números o impacto do consumo de carne no planeta e como isso altera o nosso ecossistema. A criação de animais para abate vai além da relação produtor e consumidor. Ela engloba também a questão do desmatamento para o pasto e o direcionamento dos recursos hídricos, visto que são necessários 15,4 mil litros de água para produzir 1kg de carne bovina, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa). 

Alguns estudantes da Universidade Federal Fluminense já demonstraram-se atentos a isso e adotaram uma nova filosofia de vida. “Comer é um ato político”, diz Gabriel Moreira, vegetariano, aluno do 3º período de Serviço Social e membro do coletivo estudantil Afronte!. “Creio que a comida que colocamos no prato representa o modelo societário que acreditamos. Ao consumir carne, concordamos com a lógica dessa indústria que destrói o meio ambiente e maltrata os animais”, complementa. 

Moreira nega a alimentação vegetariana ou vegana como um ato isolado, ampliando a questão sobre o sistema econômico vigente: “De acordo com Marx, um dos fins do capitalismo é a destruição do planeta, e isso é o que as grandes indústrias fazem ao se apropriar dos recursos do meio ambiente. Eles desmatam muito e não utilizam esse espaço todo para a produção, é apenas uma lógica de acumulação de terras”, explica. 

O estudante ainda acrescenta: “É muito importante sermos vegetarianos e principalmente veganos, mas não podemos nos esquecer dessas questões a respeito do capitalismo, da exploração do meio ambiente e de trabalhadores”. Moreira completa dizendo que “enquanto eu tô comendo num restaurante vegano, tem trabalhador sendo explorado e povos indígenas sendo mortos pelo agronegócio, sabe? A gente tem que se mobilizar e lutar para que isso deixe de acontecer. Mudar a alimentação é um pequeno passo”. 

Embora haja maior proliferação de informações acerca do que consiste o movimento vegetariano, muitos brasileiros não possuem acesso a esse conteúdo ou condições de arcar com a dieta sem carne. “Comer é um ato político, mas, primeiro, precisa ter comida na mesa”, diz Gabriela Navega, vegana e estudante do 3º período de Psicologia da UFF. “Quando contei para minha vó que eu não comia mais carne, ela ficou relutante, sem entender. Teve algumas fases da vida dela em que ter um prato de carne na mesa era festa. Além disso, a carne também tem um status social”, explica a menina. 

O estudante de Serviço Social, Moreira, concorda que o vegetarianismo “acaba sendo um debate elitista. O vegetarianismo tem a questão de não apoiar as grandes indústrias, mas, como o mercado funciona à base de oferta e procura, o preço de certos alimentos produzidos sem origem animal sobe. Ainda assim, pode-se consumir alimentos veganos, porém, a informação de como balancear a alimentação sem carne não chega às pessoas de classe mais baixa, a gente cresce com a ideia de que precisa ter uma carne no prato para sermos saudáveis”.

Foto: Victória Shintomi

Moreira acrescenta ao debate: “Querendo ou não, a carne enche. Quando paramos de comê-la, precisamos nos alimentar em maiores porções. E estamos falando de trabalhadores, pessoas com dupla e até tripla jornada de trabalho. É difícil separar um tempo para cuidar de uma alimentação sem derivados de animais quando não são oferecidas tantas opções igualmente acessíveis. Mesmo assim, já tem uma galera preta iniciando esse debate nas favelas, e é um projeto lindo”, afirma.

Outra iniciativa nessa área é a marca de comidas veganas e caseiras criada pela Gabriela Navega. A iniciativa começou quando uma de suas amigas pediu encomenda das marmitas veganas que a estudante fazia para ela mesma devido à dificuldade de encontrar comida sem derivados de animais em cantinas ou lanchonetes não especializadas. “A coisa foi passando de boca em boca pela UFF, as pessoas começaram a entrar em contato, aí criamos a Navegana.”, disse Gabriela. “É comida caseira, sem crueldade animal, a preço acessível e de embalagem retornável. Fico muito feliz em contribuir, mesmo que um pouco, para a vida das pessoas e do planeta também”, completa a estudante.

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O projeto do delivery Navegana está no instagram como (@naveganavegana)

E o projeto vegano nas favelas citado por Gabriel encontra-se no instagram como @movimentoafrovegano

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