Companhia Resistência Bellyblack: Raízes

Um evento sobre ancestralidade e resistência

Por Keila Marques
O Projeto Arte na Rua, realizado pela prefeitura de Niterói, através da Cultura Niterói, trouxe nesta terça (22) um evento com a participação do grupo A Cia Resistência Bellyblack. A atividade contou com show de abertura da Banda LIMO na Praça Zumbi dos Palmares (Niterói).

O Alô, Gragoatá! entrevistou uma das bailarinas, Odara Nur, que falou um pouco sobre a história do projeto. A Cia Resistência Bellyblack foi fundada pelas dançarinas de ventre Mariana Paixão, Nubia Candace e a própria Odara Nur em 2017. O grupo cresceu em 2018, quando Samara Makal, Hanna Bastet e Milena Saree começaram a fazer parte da companhia.

“(...) A nossa companhia apresenta como proposta a divulgação da arte da dança do ventre pela perspectiva da mulher negra. Esse projeto coletivo teve início após presenciarmos eventos com a prática racista conhecida como blackface, retratando a mulher negra de forma caricata. Além disso, a ausência de bailarinas negras, nas aulas ou em espaços relacionados às danças orientais é gritante. Outro fator que nos mobilizou para criarmos nosso grupo foi a pressão para que bailarinas negras se enquadrassem em padrões eurocêntricos. Há um embranquecimento/apagamento da origem negra da DV, já que uma da suas origens remete ao Antigo Egito, ou melhor, Kemet” explica ela.

As mulheres do Bellyblack se inspiram em Abdias Nascimento, criador do Teatro Negro, e em Mercedes Baptista, que foi a primeira bailarina negra do Teatro Municipal, responsável por introduzir a mesclagem do balé clássico com técnicas e elementos da dança afro-brasileira. O grupo associa também a dança do ventre e tais elementos das danças orientais com a estética e simbologias da dança afro-brasileira, as quais, segundo elas, resgatam sua ancestralidade.

Odara Nur acrescenta: “Nós, da Cia Resistência Bellyblack, entendemos o fazer artístico como forma de expressão e técnica corporal. Contudo, ampliamos nossa visão do fazer dançante, instigando-a como uma linguagem que tem o poder e o papel de autorreflexão [das participantes do grupo] e, concomitantemente, levar o público à reflexão, seja sobre nossa própria condição enquanto mulheres negras, quanto acerca do resgate do pensamento crítico que conduz a arte. Nosso trabalho já foi vítima de racismo cibernético. Mas de modo geral temos tido experiências importantes em relação ao público e também quanto ao aprimoramento das nossas concepções artísticas”.

A Cia Resistência Bellyblack realiza a comissão de frente da escola Garra de Ouro, em Niterói, bem como participa de eventos relacionados às danças orientais, fazendo parceria com artistas negros para figurinos e desenvolvimento de alguns trabalhos e projetos. O principal objetivo do grupo, no momento, é ter um espaço para oferecer aulas regulares.

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