Devido à pandemia de COVID-19, MEC adia o SiSU 2020.2
Por Giovana Rodrigues
Foto: Google
Era janeiro de 2020. O primeiro SiSU - Sistema de Seleção Unificado - do ano acabara de começar. Para Mariana, era a oportunidade de alcançar um de seus maiores sonhos, a aprovação no curso de Letras Português - Inglês da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os dias se passaram. O período de inscrição quase se esgotava. Quando, por um triz, ela perdeu a vaga. Movida pelo desespero, decidiu optar pela alternativa mais segura: Pedagogia. Mas naquele momento, era impossível imaginar as consequências de uma decisão tomada às pressas, e, muito menos, que uma pandemia ameaçaria a chance de consertar essa escolha: o segundo processo seletivo do ano.
Moradora do Rio de Janeiro, Mariana Moreno tem 18 anos, e concluiu o ensino médio em 2019. Foram três anos bastante intensos, em especial, o terceiro. Com projetos, redações, trabalhos, aulas e simulados, a jovem alcançou seu limite. A dedicação era cada vez maior. O café, consumido exageradamente para que as madrugadas de estudos fossem suportadas. Enquanto isso, a imunidade despencava. A alimentação deixou de ser prioridade. As dores de garganta eram frequentes e as crises de ansiedade, parte da rotina. Depois de todo esforço, frustração é o sentimento que parece definir Mariana. A incidência do coronavírus no país não só levou tudo o que ela tinha, como também tudo que ela almejava ter.
Com os crescentes números de infectados pela doença, a estudante acredita que o ano talvez esteja perdido, e teme que o segundo processo seletivo não seja realizado. A abertura das inscrições para o Sisu do segundo semestre foi programada para o dia 16 de junho. Mas só no próprio dia 16 que o MEC - Ministério da Educação - se pronunciou para decretar o adiamento. A atitude revoltou muitos vestibulandos, inclusive, Mariana. “Eu esperava que eles tivessem o mínimo de respeito com a gente, porque o que eles fizeram foi um descaso total. É uma falta de respeito imensurável”, afirma com convicção.
2017. 2018. 2019. Foram três anos em que uma coisa se repetia: a rotina pesada e regrada. Em 2020, talvez tudo isso se mantivesse, mas não foi bem o que aconteceu. Com a pandemia de COVID-19, Mariana vive seus dias de maneira nada sistemática. Sem “um propósito maior”, ela não dorme antes das 02:00 da madrugada, e acorda lá pelas 11:00. Para almoçar, não tem mais horário, isso, se almoçar. Ao viver um ano cheio de incertezas, os problemas psicológicos só agravaram. A fim de descontar a "montanha-russa" de sentimentos que acontece dentro de si, Mariana come demasiadamente, ou, então, não come nada. “No momento, a única certeza que temos é que não sabemos quanto tempo isso vai durar”, desabafa revelando o quanto isso a afeta.
Para tentar amenizar todos os desafios que o contexto atual traz, Mariana precisou se redescobrir. Ela assiste séries, lê livros, testa várias maquiagens e cozinha bastante. “Essas coisas me distraem”. Além de ser um momento de conhecimento próprio, o isolamento social também tem sido uma oportunidade de melhorar a convivência familiar. Na vida de uma jovem que sempre teve uma relação bem conturbada com os pais, isso tem muito valor.
A mãe tem depressão há mais de 10 anos. Já o pai é uma pessoa extremamente “fria e fechada”, personalidade que não ajuda quando se tem uma mulher que tentou suicídio três vezes e uma filha que sofre de ansiedade. Apesar dos empecilhos, eles estão convivendo melhor no momento. O segredo disso? Empatia. Não é só a estudante que tem passado por tempos difíceis. A mãe não está podendo ir nos médicos que precisa e o pai, que trabalha na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), não tem a opção de ficar em total isolamento, tendo que cumprir algumas atividades remotamente
A apreensão com o quadro do país também atormenta os pensamentos de Mariana, principalmente, depois que a mãe de um amigo foi infectada por COVID-19 e logo veio a óbito. "Quando isso aconteceu que eu caí na real". Agora, toda vez que o pai sai, ela fica aflita. "Ele se cuida, mas sempre fico paranóica e super preocupada. Quando ele chega em casa, mando direto para o banho, não deixo encostar em nada, mas o risco não deixa de existir", conta sem conseguir disfarçar o desespero.
O isolamento social é um privilégio que faz parte da realidade de Mariana. As saídas de casa são raras, só costumam acontecer quando ela precisa fazer compras ou entregar os doces que vende. Mas as remotas idas ao mercado viraram sinônimo de pânico. "Tento não encostar em nada, passo álcool em gel a cada cinco minutos (...) se alguém se aproxima de mim, já me afasto e vou para outra parte mais vazia", relata sem conseguir esconder o pavor. Ainda assim, Mariana considera o medo essencial no atual contexto. "É a única coisa que vai fazer as pessoas ficarem em casa, o governo precisa jogar com isso". "A consciência de cada um é o nosso maior aliado”.
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