Sob os olhos de um jovem: estudante na vida e na pandemia

A narrativa de Daniel Zabot   
Por Karine Bitenbender

Foto: Instagram de Daniel Zabot

Daniel Zabot, 17 anos, é estudante do terceiro ano do ensino médio numa escola privada de São Gonçalo. Daniel é representante de turma e de suas próprias convicções. Antes da Pandemia, o guri de São Gonçalo, que é metade catarinense, no sangue e no gosto pelo chimarrão, conta que fazia o pré-vestibular social da UFF (Universidade Federal Fluminense) e que ainda não sabia o rumo a tomar depois da conclusão da escola básica. 

Agora, muitas coisas mudaram para ele, inclusive sobre a profissão. Daniel quer ser professor de matemática ou de física, porque os números são a "sua praia" - ele afirma. Apesar das mudanças, há coisas que  permanecem firmes, como o seu gosto pelo chimarrão -  brinca Daniel, que me cobra um mate pós-pandemia nessa mesma fala. O humor chega antes das suas perplexidades sobre o contexto social da atualidade. Isso tem a seu favor. 

Além de estudar, ele trabalha com a mãe, "para ajudar nas contas e ganhar independência financeira. Também ajudo a manter a casa limpa e organizada." O jovem Daniel, apesar de risonho e otimista, viu de perto a tragédia trazida com o Coronavírus. "Teve um amigo do meu padrasto, (...) eu cresci perto dele, é alguém próximo. Ele pegou o vírus quando foi socorrer seu pai. O pai dele acabou falecendo devido ao vírus e ele ficou muito mal (...) ficou hospitalizado, fez o tratamento, e apesar de muita dificuldade, ele se recuperou." Daniel comentou apreensivo sobre a situação de São Gonçalo durante a Pandemia: "eu acho que o Prefeito não fez nada eficiente. Prova concreta disso é o número de indivíduos andando sem máscara nas ruas, os bares e restaurantes lotados, como se estivéssemos de férias. (...) O próprio Alcântara, por exemplo, é tipo um centro comercial, e tem ficado superlotado de pessoas."

A preocupação do rapaz se transparece em sua fala titubeante diante de tanta irresponsabilidade no contexto social de que ele faz parte. O silêncio de 36 segundo em meio à sua fala cortou não só o áudio, mas a possibilidade de seguir otimista diante de tamanho desconsolo na percepção. 

Mas Daniel carrega no discurso a força mitológica do renascimento da fênix, como bom escorpiano que é, segundo me conta entre alguns risos. Ele tem não só percepção de mundo, mas opinião sobre ele, sobretudo quanto à atualidade e o seu papel de jovem estudante. 

Para Daniel, é equivocado levar ao sentido literal a expressão que localiza os jovens como futuro da humanidade. "Os jovens são aqueles que têm o conhecimento nas mãos com mais fácil acesso e estão aprendendo a usar isso em benefício da sociedade. (...) Através da internet estão criando as hashtags com as suas insatisfações sobre o momento atual. São os que têm lutado pelos direitos de todos. Vemos isso, por exemplo, com 'Vidas negras importam', ou no carnaval com o 'Não é não', que são movimentos que começaram com os jovens." 

Sobre as principais mudanças na vida de Daniel durante a Pandemia, ele comenta sobre a prática da atividade física de que sente falta, mas principalmente sobre os formatos de aulas remotas e de como se sente prejudicado. "Antes da Pandemia eu andava de bicicleta, jogava vôlei, e com o isolamento eu fui impedido de fazer isso. Então (...) eu uso o videogame, fazendo atividade física enquanto me divirto jogando. Outra coisa que eu gostava muito de fazer era ir à casa dos meus amigos e parentes, passei a tentar suprir isso fazendo chamada de vídeo com eles (...) e pra não enlouquecer, comecei a fazer consulta com uma psicóloga e passei a meditar, exatamente para tentar manter a calma", ele conta. "É mais difícil ter aula à distância, eu redobrei o estudo para tentar compensar. Antes eu estudava uma hora por dia, agora estou estudando entre duas ou três horas."

Daniel conclui sua fala com um pedido à sociedade : "eu tenho uma coisa para dizer às pessoas que acham que é 'só uma gripezinha', esse vírus pode te matar, então não leve  na brincadeira."
Esperançoso, ele sorri, me cobra mais uma vez o chimarrão pós-pandemia e agradece por estar vivo e fazendo esses pedidos.

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