Com apenas uma câmera, Ester conscientiza a sociedade em época de pandemia
Por Giovana Rodrigues
Foto: Ester Vasconcelos
Em janeiro de 2001, no município de Campina Grande - Paraíba, nascia uma pequena menina que, em breve, se apaixonaria pela arte de fotografar, e impactaria as pessoas com seu talento. O dom foi descoberto aos 15 anos, mas pode-se dizer que foi aperfeiçoado aos 19, num contexto nem um pouco esperado. Inserida em um cenário de isolamento social, olhou para sua câmera parada e decidiu que a usaria para fazer uns cliques. Aos poucos, isso se tornou um propósito maior: retratar a história para as próximas gerações e conscientizar a atual. Assim, surgiu o trabalho de fotojornalismo da pandemia, que ela acredita ser uma missão que lhe foi dada, antes de tudo, por Deus.
Essa é a história da estudante de Jornalismo Ester Vasconcelos. O amor à fotografia surgiu bem cedo, e incentivou até na escolha da graduação. Tudo começou bem por acaso, quando ela pegou a câmera do pai para fazer umas fotos sem seu consentimento. No final das contas, o resultado foi positivo e os cliques ficaram cada vez melhores. Para adquirir mais conhecimento, fez um curso extensivo de fotografia na Universidade Federal de Campina Grande (UFGC). A partir daí, o que era paixão, também, tornou-se um trabalho. Ela começou registrando todo tipo de coisa, desde festas de aniversários, até ensaios. No início do ano, ela e uma amiga criaram uma microempresa de fotografia para casamentos. Mas com o isolamento social, a maioria dos eventos foram remarcados, apesar de ela ter registrado, recentemente, uma cerimônia civil por meio de videoconferência.
Agora, o foco do seu ofício é o fotojornalismo em tempos de pandemia. A atividade é totalmente autônoma e é compartilhada em suas redes sociais. A estudante realiza todos os processos necessários sozinha, não ganha nada por isso e muito menos cobra para que as imagens sejam veiculadas. De maneira despretenciosa, a paraibana começou o trabalho com umas fotos no centro da cidade. Ao gostar do resultado e receber elogios, decidiu fazer disso um compromisso. O processo aconteceu de forma bem natural. “Eu não me forcei”, relata transparecendo a sinceridade de sua afirmação.
Hoje, para realizar o trabalho fotojornalístico, ela pede informação, pega contatos, procura fontes e órgãos públicos. Os registros são feitos em diversos locais, como UTI - Unidade de Tratamento Intensivo -, SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - e presídios. O objetivo é retratar o momento de pandemia que estamos vivendo e “contribuir com os arquivos históricos da cidade, e, quem sabe, do Brasil”. O pagamento é ter o carinho e a admiração das pessoas pelo seu trabalho. “É melhor que receber dinheiro”, conta sem conseguir esconder a felicidade.
Foto: Ester Vasconcelos
Foto: Ester Vasconcelos
Foto: Ester Vasconcelos
Durante as idas e vindas para fotografar na pandemia, tiveram momentos que a marcaram bastante. Alguns de forma bem positiva. Um deles foi quando ela esteve na UTI. Naquele dia, Ester presenciou um médico fazendo estímulos para que um paciente recobrasse a consciência. O doutor pediu para que o enfermo apertasse sua mão caso estivesse o ouvindo. Na segunda tentativa, ele balançou a cabeça e respondeu ao pedido. Nesse instante, Ester conta que preparou a câmera e registrou o acontecimento. Ter a oportunidade de testemunhar e capturar o ocorrido a deixou muito emocionada. “Eu comecei a chorar”.
Momento em que o paciente aperta a mão do médico / Foto: Ester Vasconcelos
O dia a dia da fotojornalista mudou bastante com a quarentena. Antes, acordava bem cedo para pegar o ônibus às 6:30 e ir para universidade. Ficava lá até 12:30/13:00. Em seguida, costumava ajudar os pais no trabalho. De lá, ia para uma empresa que trabalhava na época. Por fim, chegava em casa e resolvia as coisas da faculdade e da sua microempresa. Agora, a rotina é bem menos movimentada. Ester relata que só costuma sair quando tem pauta para fotografar, e sente que "a questão da procrastinação tem aumentado ainda mais", uma vez que ela está totalmente sem aulas.
"A comunicação é o segredo de tudo", essa era uma afirmação que a fotojornalista costumava escutar de um professor da faculdade. Mas foi com o contexto que estamos vivendo, que ela entendeu o quão real é essa sentença. Para a estudante, dialogar tem sido sua "válvula de escape" em um momento como esse. "Compartilhar com as pessoas a minha experiência, como eu estou fazendo no Twitter, como eu estou fazendo no Instagram também, me ajuda a entender tudo o que está acontecendo e levar de uma forma até profissional". Ela acredita que a comunicação pode desempenhar um papel relevante nesse cenário, a partir do momento que permite que as pessoas troquem vivências e coloquem os pensamentos e as frustrações "para fora". "(...) É um dos principais aliados para que, pelo menos, dê essa sensação de que pode ficar tudo bem".
Diferente de muitos, Ester comenta que o uso da máscara não é um problema para ela, e conseguiu se adaptar perfeitamente. No início, não gostava muito, mas com o tempo, acostumou-se. "Estou achando até melhor (...) eu não preciso passar maquiagem, porque a máscara cobre o rosto", conta rindo e revelando um lado descontraído de sua personalidade.
Apesar de saber que vivemos tempos difíceis, Ester acredita que isso "pode ser uma oportunidade de amadurecimento". Depois de perder um amigo muito querido para a COVID-19, a paraibana aprendeu a prezar mais pelos relacionamentos. "A morte causa esse sentimento de que a gente precisa valorizar mais as pessoas (...) e saber que a vida é passageira, a gente tem nossos dias contados aqui na terra, (...) brigas e intrigas não podem ser mais altas que o amor que a gente deve ter pelo próximo". Além disso, tem sido um momento de aperfeiçoar e ressignificar o dom que lhe foi dado. "Eu entendi o propósito de estar fazendo Jornalismo (...) ninguém pode tirar isso de mim, que é fazer o fotojornalismo e fazer bem feito".
Para mais informações sobre o trabalho de Ester, acesse:
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