Emoji de coração laranja

A linguagem de pandemia da Alessandra

Por Karine Bitenbender
Foto: Instagram


Ela é a Alessandra da Silva Laurindo, "não é mais uma Silva", é a Alessandra. Tem 24 anos, gosta de futebol, e é jogadora. Na vida e no campo. Ela mora em São Gonçalo, município vizinho a Niterói. A Alessandra fala quando sente o aperto de ter que falar, não quando quer. A ansiedade é a sua companheira fiel mesmo antes da pandemia. Alessandra queria estar na faculdade, "trabalhando de carteira assinada", e jogando bola com os amigos. Ela também queria ter sido entrevistada por videochamada, mas, às vezes, nem todo o seu querer genuíno é atendido apenas pela força de vontade. Alessandra escreveu cinco vezes para contar que falaria tudo por mensagem e não por áudio. Em tempos de pandemia, pudera os desencontros entre o querer o poder fazer, ninguém supunha que o mundo teria que ser reconfigurado com tanta urgência. 


Entre uma mensagem e outra, a evidência dos anseios em conviver com agonia de sentir as necessidades de alguém de 24 anos batendo à porta. Sobretudo quanto a trabalhar e estudar, pontos que entraram na conversa mais de uma vez.

 "Antes da Pandemia trabalhei em curto prazo (...) voltei a colocar currículos em sites e sempre que surge oportunidade envio para conhecidos que dão uma força, mas como o desemprego só aumenta, foi ficando mais complicado (...) para não ficar totalmente parada, estou junto ao meu padrasto fazendo locações de mesas e cadeiras, lonas, entre outros (...) claro, com todas as orientações para prevenir o contágio da covid-19." 


Alessandra conta do terror de viver em São Gonçalo na pandemia. Segundo ela, quase nao existiu medidas de isolamento e prevenção do coronavirus. "Bares, comércios, festas(...) pessoas sem máscaras ou usando de forma inadequada, hospital de campanha que foi inaugurado com atraso, médicos sem salários, ocupação nos leitos para Covid (...) não sei onde São Gonçalo vai parar caso surja uma nova onda de covid."


Embora não tenha vivenciado a perda de ninguém próximo, Alessandra teme todos os dias pelo contágio. Para ela, a maior preocupação é justamente porque há uma complicação muito grande no grupo social a que faz parte. Quanto a isso ela afirma: "o papel do cidadão é o papel de todos, quer dizer, deveria ser. Tratando da parte mais prejudicada, com milhões de pessoas sem os serviços básicos à disposição, com medidas, cuidados e orientações aplicadas e necessárias e sem a ajuda devida do governo/prefeituras não vejo outra solução de então cada um fazer o seu máximo se protegendo e protegendo uns aos outros." A precariedade de tudo a apavora. Com o mesmo horror da impotência de não poder controlar o incontrolável: "a possibilidade de contágio a qualquer instante".


Para a jovem, o isolamento é essencial. Ela ri com o famoso "kkkkk" das conversas de whatsapp e conta sobre como já perdeu as contas de quantas vezes teve "dor de cabeça" para tentar explicar a necessidade de evitar aglomerações às pessoas que são contrárias as medidas de quarentena, principalmente as que acreditam na falácia da "gripezinha'".


 Apesar da consciência da necessidade de se manter em isolamento, não é fácil para Alessandra conviver com essa situação. Ela conta sobre os principais incômodos de se estar isolada, principalmente dos que lhe são caros. "Não está sendo fácil. Afinal, sou tão acostumada a interagir, fazer planos, atividades físicas (...) fica mais difícil lidar com a ansiedade. Então resolvi iniciar uma rotina de exercícios em casa mesmo (...) não abro mão. É o que mais me ajuda com a ansiedade." 


Entre longas escritas, risos, emojis e afirmações frequentes de que vai continuar porque quer ser ouvida, Alessandra faz algumas observações importantes sobre o benefício das redes sociais neste período de pandemia. "A internet e as redes sociais trazem bastante benefícios para grande parte da população. Surge possibilidades de  trabalhos, aulas on-line e distrações (...) Se tornam aliadas fiéis para muitos. Embora eu, particularmente, tenho visto as redes sociais muito tóxicas também. (...) Tenho sido bem crítica com as situações atuais e com pensamentos e comentários absurdos que venho lendo. Me afasto das redes quando identifico algo que me faz mal. Mas também tem feito um bem tremendo para muitos."


Alessandra da Silva Laurindo, 24 anos e o triplo disso em coragem de perceber o mundo e enfrentá-lo com a força que tem. Ela agradece pelo que chama de "paciência" da minha parte. Diz que se animou com a entrevista, manda um emoji de coração laranja e sorri, dessa vez com o "rsrsrs".

Comentários

  1. Muito interessante,a Alessandra se posiciou muito bem, é a realidade em que vivemos em São Gonçalo, ninguém liga para nada e não fazem nada pelo nosso município 😕

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    1. Vem conversar com o Alô, Gragoatá! e contar pra nós a tua narrativa da pandemia também. Se quiseres falar, queremos te ouvir 🧡

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