Ação Social: uma pequena iniciativa que inspira grandes mudanças
Por Giovana Rodrigues
(Foto: Thinkstock)
Alice Xavier é mineira de Belo Horizonte e vive no Rio de Janeiro. Farmacêutica, ela trabalha em um laboratório de desenvolvimento de cosméticos, e teve a rotina bastante alterada pela pandemia do coronavírus. Apesar das mudanças, a questão financeira não sofreu nenhum impacto. Essa, que é uma realidade bem distante para muitos brasileiros. Ciente da desigualdade no país, Alice procurou diversos projetos para ajudar nesse período, principalmente os ligados à educação e ao fornecimento de itens básicos à população carente.
A principal alteração em sua rotina profissional foi a ausência do contato presencial com os colegas de trabalho, já que grande parte dos afazeres tem sido realizados em casa. “A gente teve que aprender a estar longe um do outro (...) estar perto só digitalmente”. As atividades desenvolvidas no laboratório passaram a ser realizadas por meio de um esquema de revezamento, mas com uma capacidade bem reduzida. A farmacêutica revela que o que mais faz falta é encontrar os colegas no corredor e chegar no trabalho dando “bom dia” para todo mundo. “Isso não tem mais”, revela deixando a saudade transparecer em seu tom de voz. Mesmo com as dificuldades, Alice considera que a adaptação ao novo modelo tem sido boa e não prejudicou a qualidade do trabalho. “Alguns projetos sofreram atrasos, mas o impacto não foi muito grande (...) as pessoas estão muito engajadas e dispostas a fazer acontecer”. Além disso, o cenário também foi favorável para o surgimento de outras iniciativas, como um “maior suporte ao marketing digital”.
A falta de contato com as pessoas não afetou só a vida profissional, mas também a pessoal. “Eu achei muito difícil me acostumar a ficar sem interagir com as pessoas pessoalmente”. O fato de morar sozinha também intensificou o sentimento de solidão. “Embora eu tenha muitos amigos e família, as videochamadas não substituem o contato presencial”. Somado a isso, todo o cenário político e social que enfrentamos também afetou o psicológico de Alice. Diante de todos os problemas do país, a sensação de impotência dominou seus pensamentos. “Teve um momento que eu pensei que nada que eu fazia tinha algum impacto, porque eram questões muito grandes”.
Para superar a dificuldade, contar com o apoio da família e dos amigos foi essencial. A terapia também teve um papel fundamental nessa melhora. “Foi mais importante que nunca”. A partir daí, ela conseguiu ter mais consciência de que “a gente não consegue combater um problema coletivo sozinho, a gente precisa de pessoas juntas, e quanto mais pessoas a gente consegue impactar, mais alcance vai tendo o que você faz”, conta deixando transparecer uma face otimista de sua personalidade.
Ao entender melhor seu papel na sociedade, Alice conseguiu ficar mais em paz consigo mesma, começou a valorizar seus esforços para melhorar certas situações e achou momentos para relaxar, “não pensar tanto nas dificuldades e aproveitar o tempo em casa”. A farmacêutica conta que o que mais a afetou foi pensar em quantas pessoas perderam o emprego e ficaram sem aulas pela pandemia. Ela acredita que o cenário só potencializa as desigualdades que sempre existiram na sociedade. Movida por essa revolta, procurou ajudar muitos projetos. Um deles é o Cápsulas do Saber, iniciativa que tem como objetivo levar a informação às pessoas mais impactadas pela pandemia.
A ideia surgiu por meio de uma amiga que conhecia uma pessoa que trabalhava na ong - Organização não governamental - Ecos do Futuro. Essa ong tinha uma espécie de pré-vestibular em parceria com a faculdade Estácio. Com o isolamento social, as aulas que aconteciam presencialmente todos os sábados tiveram que ser suspensas. A partir disso, Alice recebeu o convite da amiga para fazerem algo que pudesse ajudar essas pessoas. Assim, com o apoio da ong, juntaram amigos e parceiros para criar o projeto.
O foco do Cápsulas do Saber é ajudar a informação a se disseminar. Para isso, tudo é feito por whatsapp, já que “é uma plataforma que, mesmo quando acaba seu pacote de dados, você ainda consegue receber vídeo, foto, áudio, esse tipo de conteúdo”. “A gente selecionou alguns parceiros no Youtube. Então a gente baixa essas aulas do parceiro e envia para o aluno (...) a gente manda também exercícios e tem uma equipe de monitores que está disponível para tirar dúvidas desses alunos”. O projeto ainda é muito recente e a equipe ainda está “conhecendo como vai funcionar”. Mas Alice já adianta que estão muito otimistas.
A farmacêutica também faz parte da One Young World, uma “rede mundial de jovens líderes que falam e atuam com o desenvolvimento sustentável”. No mês de julho, está sendo realizado o Caucus, um evento que propõe discussões, que ocorrem virtualmente aos sábados, sobre diversos temas importantes no contexto atual.
Preocupada com questões sociais, Alice demonstra bastante revolta com a negligência governamental frente às desigualdades do país, principalmente em um cenário de pandemia. “No mínimo deveríamos ter as obras de saúde respeitadas, mas vemos que os nossos políticos enxergaram mais oportunidade para a corrupção”. Para a farmacêutica, existe uma clara falta de liderança em gestão de crise. “O presidente totalmente passional e que não leva em consideração a voz técnica (...) fora a falta de infraestrutura, a falta de testagem em massa e a não confiabilidade nos dados”. Mesmo com um cenário político conturbado, hoje Alice não desvaloriza mais suas iniciativas e acredita na importância delas. Ainda que não consiga mudar o país, com pequenas ações, já consegue melhorar realidades e inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo. “À medida que a gente vai espalhando as ideias, isso vai tomando outra proporção”
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