As novas perspectivas que a covid-19 trouxe na vida de Lily Serrão
Por Giovana Rodrigues
Moradora de Viana, uma das cidades mais antigas do Maranhão, Euzelida Ferreira Serrão ou Lily Serrão, como é mais conhecida, tem 27 anos, é empreendedora e estudante de Letras e Serviço Social. Logo no início da pandemia, Lily começou a tomar todos os cuidados necessários para não se contaminar. Até que no dia 05 de maio, quatro dias após receber uma visita para jantar em casa, tudo mudou abruptamente em sua vida: os primeiros sintomas do novo coronavírus começaram a aparecer, determinando o início de uma batalha, que depois de vencida, traria grandes ensinamentos para a estudante.
Lily trabalha com uma loja virtual em que as retiradas dos produtos acontecem em sua residência. Por conta do emprego informal, da preparação do TCC - Trabalho de conclusão de curso - da graduação de Serviço Social e das aulas virtuais do curso de Letras, ela teve a opção de ficar em casa. Mas, devido às entregas de mercadoria, o contato com as pessoas não deixou de existir. Somado isso, o irmão da empreendedora trabalha como motorista de uma casa de material de construção, o que faz com que tenha contato constante com outras pessoas. Assim, a família decidiu que seria melhor que, por serem idosos, os pais se isolassem em outra cidade.
No início de maio, a estudante recebeu um amigo que jantou em sua casa. Em alguns dias, começou a sentir os sintomas da covid-19, mas procurou o médico só cinco dias depois dos indícios da doença, devido à uma reação alérgica ao Ibuprofeno. “Meu rosto ficou todo deformado por conta da alergia ao medicamento”. Lily entrou em contato com os profissionais da saúde 15 dias após o surgimento dos sintomas. Por conta disso, não se enquadrava mais no perfil de teste rápido, que era realizado com um tempo de 10 a 12 dias. Nesse período, Lily conta que já sentia melhor: “só estava sem o olfato, sem o paladar, sentindo muito cansaço”. “Procurei um médico, esse médico me receitou Dipirona, mesmo eu falando que era alérgica (...) No outro dia, eu fui em outro médico, foi quem me diagnosticou com covid”.
Lily não conseguiu fazer logo o teste rápido, mas fez o tratamento da doença, foram no total 29 dias de isolamento. No vigésimo terceiro dia, fez um teste de sorologia, exame que busca determinar a quantidade de anticorpos no soro do sangue de uma pessoa. O resultado do procedimento apontou que Lily de fato tinha sido infectada, mas a doença já havia sido superada e não existia mais o risco de contaminar ninguém. A sensação de saber que estava curada foi de alívio e felicidade. No mesmo dia que o exame sorológico foi realizado, a empreendedora revela que o olfato já tinha voltado a funcionar. Dois dias depois, o paladar também voltou. “Aí eu comecei a tentar voltar à minha rotina normal”.
Durante o período de contaminação, uma das coisas mais difíceis de lidar foi a questão do isolamento. Lily conta que já vinha se preparando para isso: “eu já vinha trabalhando isso na minha mente, porque era uma questão que todo mundo podia pegar, e eu ouvia muito falar que o pessoal fica emotivo pelas questões de isolamento, afastamento, solidão e tudo”. Mesmo assim, quando você vivencia a situação é totalmente diferente, principalmente quando se vê “um irmão, um parente vindo e tendo que deixar as coisas na porta (...) a gente se sente o mal da humanidade”, revela bastante emotiva. “É como se fosse uma rejeição”, completa com dificuldade de encontrar palavras que expressem a sensação.
Mesmo depois de vencer a doença, Lily ainda enfrentou certos obstáculos, o principal deles foi o preconceito. A estudante conta que muitas pessoas, inclusive os clientes da sua loja, pareciam ter receio de chegar perto dela, ainda que soubessem que já estava curada. “Para ter uma noção de quantas coisas eu passei, teve uma amiga minha que veio deixar um dinheiro, um pagamento. Chegou no portão, ela jogou esse dinheiro como se só pelo fato de eu chegar perto dela, ela fosse se contaminar”. “Aquilo me doeu muito”. Apesar de ficar chateada ao vivenciar situações como essa, Lily relata que prefere acreditar que pessoas assim são apenas desinformadas.
Por conta do preconceito, Lily chegou a ficar um pouco desanimada para fazer as postagens de divulgação dos produtos da loja. “Quase não tinha retorno nessa época”. A empreendedora conta que para continuar as vendas, precisou lançar novas estratégias dentro das limitações do contexto. “Com isso, intensificaram as vendas”. Quanto a sua rotina, “já voltou ao normal”, uma vez que, em Viana, o comércio já foi liberado e tudo está começando a funcionar normalmente.
Apesar de já está curada, o covid trouxe marcas na vida de Lily, algumas ruins, como a questão do preconceito que é enfrentado até hoje, e outras bastante positivas. A estudante sofre de ansiedade e tinha muitos problemas de autoestima. “Minha autoestima era zero”. O período de contaminação estimulou um processo de reconhecimento e aceitação pessoal. “Na verdade, nesse período, eu tive um encontro com meu ‘eu’”.
A doença também ensinou a “valorizar cada segundo da vida, porque muita gente não teve a mesma ‘sorte que eu de sair viva para contar sua história”. “Empatia, respeito e lealdade das pessoas”, essas foram mais algumas das lições que o covid trouxe, principalmente, porque ela pôde entender quem realmente estava ao seu lado e podia contar nos momentos difíceis. Lily revela que as mensagens diárias dos amigos e familiares eram essenciais para se manter forte em um momento como esse. Uma das coisas que mais a marcou foi uma frase de Ernest Hemingway que recebeu: “ - Quem está nas trincheiras ao teu lado?” “ - E isso importa?” “ - Mais que a própria guerra ”. Ela afirma que vai levar isso para vida. Hoje, o recado que Lily gostaria de dar para quem está enfrentando a doença é: “Força, tudo passa! Deus cuida de tudo!”, afirma deixando o otimismo transparecer.
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