Biblioteca Central do Gragoatá disponibiliza parte do seu acervo digitalmente durante o período de ensino remoto
Alunos poderão ter acesso a materiais de seus cursos através da internet durante o período de isolamento social
Por Luiza Martins
A rotina de um estudante da Universidade Federal Fluminense era, até então, algo pouco mutável. Nós acordávamos, tomávamos o café da manhã e começávamos a nossa longa jornada diária. A faculdade, para muitos, já era própria casa. Assistíamos as aulas, contribuíamos com a produção de pesquisas acadêmicas, comíamos no Restaurante Universitário e tentávamos repor a energia do corpo e da mente já cansados nas noites na Cantareira. De forma geral, essa era a rotina esperada para um estudante da UFF Niterói, mesmo que não necessariamente nessa ordem. Todavia, como tudo no mundo no ano de 2020, o ciclo teve que ser alterado. A pandemia de Coronavírus afetou todas as atividades às quais já estávamos acostumados e foi responsável por uma reestruturação completa de nossa rotina, que agora é inteiramente digital.
A mudança repentina fez com que não apenas os alunos, mas também a UFF tivesse que se adaptar à nova realidade. Para oferecer o suporte necessário e manter a produtividade dos estudantes no período remoto apesar de todas as dificuldades, a faculdade conta com algumas iniciativas. Uma delas está relacionada a uma das aliada dos alunos no período presencial: a Biblioteca Central do Gragoatá (BCG). Diante à pandemia e a impossibilidade de retornar ao campo físico, uma parte de seu acervo vem sendo disponibilizado de forma online para os estudantes. O material conta com e-books, teses, dissertações e afins para os cursos como Jornalismo, Letras, Estudos de Mídia, Pedagogia, Psicologia, Cinema, Biblioteconomia e Documentação, Serviço Social dentre outros atendidos pela Biblioteca. A seleção é feita considerando as bases curriculares e até mesmo a pedido dos próprios alunos em alguns casos.
Segundo pesquisa realizada em maio de 2018 pela Associação Nacional Dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 70,2% dos estudantes de universidades federais têm renda familiar de até 1,5 salários mínimos. Considerando o número expressivo, nota-se que ter uma biblioteca com um acervo vasto no próprio campus é uma alternativa para os que não podem gastar dinheiro com a aquisição ou xerox do material de seus cursos. A ex-aluna de Letras, Thayná Caldas, de 25 anos, em entrevista para o Alô! Gragoatá, relatou como a BCG foi importante para sua formação:
“Ela [a biblioteca] é muito importante. Eu me formei em Letras e eu não tinha como tirar xerox do material todo que os professores usavam porque eram muitas e ficava muito caro. Às vezes, eles queriam algo específico para pesquisas e encontrar os autores pedidos na internet era difícil, principalmente porque eles trabalham com muitos livros antigos lá. Antes mesmo de ir tirar a xerox, eu conferia se tinha o livro na Biblioteca e sempre tinha, e até mais de um exemplar, então eu podia pegar emprestado. Já aconteceu de eu escolher um livro literário para fazer um trabalho baseada na quantidade de cópias que havia lá. Tinha que ter para o meu grupo inteiro. E teve.” Perguntada sobre a nova funcionalidade da Biblioteca, Thayná alegou achar a iniciativa excelente. “Como não é viável pegar o material fisicamente, ter isso disponibilizado de forma digital seria um auxílio grande para os alunos. Inclusive, seria muito bom até no período pós-pandemia. Várias pessoas poderiam ter acesso ao material ao mesmo tempo e os livros raros permaneceriam na biblioteca, mas ainda teríamos acesso a eles. Não acho que substituiria a biblioteca e nem o espaço cedido para estudo de forma nenhuma, mas acho que seria, sim, de grande ajuda.”
Apesar da BCG ainda não estar funcionando de forma física, a estratégia tem sido bem vista pelos alunos, que podem continuar recorrendo a ela para obter parte do material didático necessário para seus estudos sem sair de suas casas. O Alô! Gragoatá teve a oportunidade de entrevistar a bibliotecária Maria Helena Xavier, que trabalha na BCG e está fazendo parte do processo. Ela relata que a procura está sendo maior a cada dia, uma vez que os professores estão alertando os alunos durantes as aulas remotas e há uma divulgação ampla acontecendo nas redes sociais. Infelizmente, no entanto, segundo a bibliotecária, a possibilidade de ter o acervo disponibilizado de forma integral durante ou como um projeto para a pós-pandemia, como no modelo citado por Thayná, não é viável. Maria Helena diz que
“A pandemia obrigou a equipe da BCG a reinventar seus processos em um curtíssimo período de tempo. E uma das primeiras coisas que fizemos foi promover os e-books provenientes das bases Lectio (Editora Jorge Zahar), Proquest Ebook Central e Cambridge, que a UFF possui. Infelizmente o material disponível nas bases de dados não corresponde ao quantitativo do acervo físico da BCG, uma vez que ela possui 270 mil itens (livros, periódicos, teses, dissertações, obras raras, entre outros) sob sua custódia. Por entendermos a importância do nosso acervo e pensando exatamente em nossos usuários, quando possível atendemos pedidos de digitalização de material, respeitando os protocolos de segurança de saúde internacional. Fazemos a digitalização por completo de teses/dissertações. Porém, quanto ao livro, podemos enviar apenas um capítulo, devido aos direitos autorais da obra. As bases supracitadas foram adquiridas por meio do modelo de negócio de compra perpétua o que nos garante o acesso às coleções eternamente.”
Maria Helena contou, também, como manter o modelo está sendo trabalhoso para os funcionários. A bibliotecária disse que este tem sido um grande desafio e que, para que ficassem adaptados às novas demandas, ela e a equipe da BCG tiveram que fazer vários cursos, incluindo um específico para a utilização do CANVA, uma ferramenta de design gráfico que os auxilia a alimentar a parte visual dos posts nas redes sociais, que estão fazendo grande sucesso. Maria Helena disse ainda que, no momento, eles “estão caminhando para a promoção de palestras online e, também, articulando com professores a realização de cursos online para o ano que vem”. E além de toda a novidade, os funcionários da BCG ainda são responsáveis por executar suas antigas funções de forma remota, como ressalta Maria Helena: “Os processos de trabalho da biblioteca não estão parados. Continuamos a fazer os acertos dos registros da base Pergamum, a cotação de obras para aquisição, elaboração/atualização de listagens de bibliografia básica e complementar junto às coordenações dos cursos, atendimento aos usuários que necessitam de ficha catalográfica e Nada Consta, alimentação do RIUFF - Repositório Institucional da Universidade e Pergamum-UFF (cadastrando e-books da EdUFF, teses/dissertações e periódicos online), entre outros trabalhos que podem ser realizados de forma remota.”
Para ter acesso ao material disponibilizado pela Biblioteca Central do Gragoatá, basta se cadastrar no site. A BCG está no Instagram, Facebook ou através do e-mail bcg.sdc@id.uff.br.
Pauta extremamente útil e relevante, Luiza! Excelente! Não só por esse uso que se mostrou de grande importância para tantos estudantes, como também pelo tema leitura ter estado muito em alta durante o isolamento graças a uma reconquista de hábitos. Talvez tivesse sido legal mencionar esse último. Penso que a inserção dos dados se deu como uma importante elucidação do depoimento da 1a entrevistada (que veio logo em seguida). Inclusive, ótimo o rumo que você escolheu dar/destacar. Também foi interessante já estarem incluídas respostas para a sugestão de continuidade dada pela estudante, ainda que essas não tenham sido as que ela- e penso que provavelmente a que muitos leitores - esperava ter. Sinto que isso "arredondou" o texto de uma forma muito legal. Ficaram faltando os links e a fonte da imagem. Também fiquei pensando se esse período poderia ter sido construído de outra forma, mais pelas três primeiras vírgulas: "Infelizmente, no entanto, segundo a bibliotecária, a possibilidade de ter o acervo disponibilizado de forma integral durante ou como um projeto para a pós-pandemia, como no modelo citado por Thayná, não é viável." No mais, senti o fluxo do texto bem fluido e prazeroso. Em alguns momentos, pensei em trocar a sigla BCG por apenas "biblioteca". Se fosse acrescentar algo, tentaria selecionar alguma obra/título do acervo que julgasse ser capaz de despertar ou prender mais a atenção das pessoas (por ser muito conhecida ou algo do tipo), visando construí-lo melhor, assim, no imaginário de quem está tendo contato com a sua matéria.
ResponderExcluirLuiza Menezes que comentou.
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