Três relatos de uma história de pandemia sob o mesmo ângulo de quem divulga seus trabalhos através das mídias sociais.
Por Vitor Guedes
Foto: Arte nas redes sociais - fonte: folha de São Paulo“Aulas!”. É com a gíria carioca que Gabriel Andrade inicia seus relatos. Gabriel é aluno do quarto período de Jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF) e uns dos criadores do “Fim de Papo”, projeto de Jornalismo Esportivo voltado para as plataformas digitais. Quando indagado por um professor sobre o porquê da escolha de Jornalismo, pergunta que todos respondiam com “Eu gosto de ler”; “Eu gosto de me comunicar com as pessoas” e afins, ele disse que queria construir seu legado através de seu avô. Gabriel sempre consumiu jornalismo – principalmente o esportivo – através de seu avô, que o impulsionou a acolher os esportes e a começar trabalhar com isso. Depois de alguns anos, seu avô veio a falecer. Gabriel cita que, trabalhando com jornalismo, ele se sente na companhia o avô e diz que gostaria de se formar com ele assistindo, pois acredita que é o legado dele que está levando à frente.
O “Fim de Papo” é um projeto que vem de alguns anos, como conta Gabriel. Foi criado junto com um amigo dos tempos de escola que, assim como ele, sempre foi muito interessado em esportes, fato que os levou a pensar sempre pensaram na possibilidade de criar o programa. “Hoje em dia, todos nós, jovens, somos muito influenciados pelas mídias sociais, e é algo que vem dando muitos frutos e muita visibilidade. A UFF é uma das melhores universidades do Brasil e dá o maior suporte. Eu acredito que não só o ensino vai te fazer um bom jornalista, você tem que praticar também. E nesse momento, também por conta da pandemia, eu ainda não consegui um estágio e eu acho que só vou conseguir ser um bom jornalista se eu conseguir praticar o que me foi ensinado”.
Nesse momento, na qual o tempo é rarefeito, conciliar o projeto com outros afazeres é um desafio. O “Fim de Papo” , por enquanto, tem apenas um quadro: o “Resumão Carioca”. Gabriel ressalta que não está podendo fazer muita coisa, mas ele e os demais integrantes tem planos de aumentar o número de quadros. Entretanto, as ideias só vão se concretizar quando a pandemia passar. Gabriel cita o que disse aos colegas de equipe: “O cenário está muito difícil, a gente tem as aulas, então vamos pegar leve por enquanto e ver se vai dar certo. Por enquanto, vamos ficar só com o Resumão”. Ainda sobre os planos para o futuro, ele pontua: “Queremos agregar mais gente. Pode até não ser só futebol, pode abranger mais coisas e pode ser de uma maneira um pouco mais descontraída. Mas só futuramente, e principalmente depois dessa pandemia” conclui.
Quanto à importância dos trabalhos através das mídias sociais, o estudante destaca: “Há algum tempo, eu venho pensando que é algo que agrega muito. As mídias sociais hoje, e digo pelas aulas, pelos cursos online... por todas as informações que se podem colher através de um celular ou de um notebook, são coisas essenciais. A informação circula muito rápido, e através de nossos celulares, de nossos aparelhos, a gente consegue estar sempre por dentro.
Em relação ao modo como a pandemia tem lhe afetado, Gabriel detalha: “Eu vejo que me dificultou muito também, porque eu possivelmente poderia estar buscando um estágio, poderia estar tendo aulas presenciais. O Corona vírus causou um impacto muito grande em todos os âmbitos. A pandemia foi um regresso pra mim, mas um regresso necessário. A prioridade, enfim, é a saúde, o bem estar das pessoas. Pro resto, a gente se adapta.”
“Uma pessoa sempre em movimento” assim se declara Fernanda Nunes, aluna do segundo período de Jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF). Fernanda conduz três trabalhos: O Podcast “Lado B”, sobre a Baixada Fluminense; a página de fotografias “Diga BXisD”; e o projeto “Autoestima Diva”, voltado para o desenvolvimento pessoal da mulher – todos iniciados no período de quarentena –, além de ser Social Media da consultoria empresarial de seu pai. Fernanda trabalhou por dois anos, pediu demissão do emprego, e logo em seguida deparou-se com a pandemia. “Conforme o tempo foi passando, as pessoas foram me chamando para participar das coisas”. Fernanda enfatiza: “Eu gosto muito de comunicação comunitária e coisas assim... feitas pela mobilização popular, eu acredito muito nisso. Projeto social, movimento social. Eu acredito muito no ‘nós por nós’, se não pegarmos pra fazer, ninguém fará por nós”.
Quanto ao “Lado B”, Fernanda conta que foi convidada por um amigo a participar da primeira rádio de comunicação comunitária de Queimados, onde ela mora, e destaca o contexto da criação do podcast: “Eu sempre quis muito ter a experiência de trabalhar em rádio. Eu gosto de todas as áreas da Comunicação e o que eu puder explorar, eu vou. A gente fez esse projeto que era só pra rádio, só que percebemos que as pessoas da nossa cidade não consomem muito essa mídia. Eu não escuto rádio. Então a gente parou e pensou ‘como vamos fazer para isso chegar até as pessoas da nossa idade? Então vamos fazer um podcast’. Começamos a veicular da rádio (estúdio) e está sendo muito legal essa experiência. A maior motivação do “Lado B” é conectar pessoas, formar redes, propagar o conhecimento do que as pessoas produzem ao redor, e fazer com que o pessoal de fora perceba que a gente a Baixada produz sim. É fazer algo pelo meu território e mudar essa narrativa de que ‘aqui não tem nada’ ou ‘aqui só tem violência”.
Ao falar sobre o “Autoestima Diva”, Fernanda declara: “É sobre decodificar a comunicação. Às vezes o que a gente vê na internet não é o que está chegando pra vizinha. Acreditamos que só porque todos estão falando na internet ou na televisão, todo mundo está ciente. Hoje a gente está trabalhando pelo Instagram - por conta da pandemia, mas a gente tem pensamentos de fazer trabalhos presenciais e fazer essas discussões chegarem até certos grupos de mulheres”, conclui.
“É uma comunicação universal”, assim Fernanda resume o “Diga BXisD”, projeto de fotografias. “A fotografia tem esse poder de passar para as pessoas aquilo que você sente naquele momento”. A estudante tem ímpeto de criar algo maior com a fotografia, em suas palavras: “Comunicar algo... talvez fazer um filme, um documentário. Eu gosto muito da ideia de documentar algo. Eu gosto muito de documentar coisas, ter registros. É a nossa história. E, quando não se tem nada registrado, a memória é apagada”. Ela também conta um pouco seus planos e expectativas para seus outros projetos: “Para o ‘Lado B’, eu tenho plano de formar uma rede de comunicadores pela Baixada Fluminense. Ter correspondentes, fazer eventos, festivais. Passar do podcast para o vídeo. Fazer Comunicação”. Quanto à questão territorial, Fernanda suscita um debate: “Na Baixada, não tem curso de Comunicação, só na Rural (UFRRJ) de Seropédica e é muito longe. Nem nas Faculdades particulares temos o curso. E eu não acho que isso é por acaso. Se você não dá ferramentas para a periferia produzir notícia, produzir informação, ela simplesmente recebe informação de uma pessoa que tem um olhar de fora. A gente consome informação de pessoas que não são daqui, e isso afeta diretamente o nosso olhar a respeito do nosso próprio território”.
Levantada a questão da importância desses projetos e da arte num geral, Fernanda discursa: “Eu acho que as pessoas no Brasil têm uma mania muito feia de considerar as coisas muito importantes como fúteis. A arte é política, a arte nasceu política. Aqui se tem aquele ditado ‘Futebol, Política e Religião não se discutem’, só que essas coisas são muito importantes para nós discutirmos relação social. Como é que você não vai discutir Política? Religião? Até mesmo o Futebol, que é repleto de ideologias e utilizado como disseminação ideológica. E a arte é algo que é muito visto como hobby, porque se você for levar a sério a arte, você vai ter que sair da sua zona de conforto. A arte fala de problema do cotidiano, de problema político. De todas as coisas que as pessoas deveriam estar prestando atenção, só que ninguém quer lidar com isso. As pessoas preferem ignorar, ver uma pintura ‘bonitinha’ e não saber o significado dela.”
Os dilemas da pandemia são diversos. Para o “Autoestima Diva” os projetos de território foram travados. No “Lado B”, a estudante cita que há um lado bom e um ruim: “Ficar mais em casa, produzir mais. Só que também foi ruim pelos planos além do estúdio, como os festivais, por exemplo”. Quanto ao “Diga BXisD”, ela relata a falta do equipamento adequado para o momento.
“Será que de vez em quando a gente pode dar uma pausa? É que eu tô esperando outro cliente chegar aqui”. Assim, em seu local de trabalho, numa barbearia e utilizando máscara, foi que Rebeca Machado, formada em Artes pela Universidade Federal Fluminense (UFF), relatou sua vivência como uma artista das mídias sociais. Rebeca detalha o que lhe motivou a fazer o curso de Artes: “Sempre fiz muito desenho. Eu cantava no coral da escola e sempre fui muito ligada às artes. E aí, quando chega nesse momento da sua vida que você tem que decidir o que fazer, eu decidi fazer todas as provas possíveis que se relacionassem a algum tipo de arte: Arquitetura, Design, etc... E quando eu passei pra UFF, morando em Niterói, pensei ‘é esse caminho que vou seguir’. Quando entrei nesse curso de artes da UFF, era bem diferente: era um curso de arte contemporânea. Alguns colegas saíram, foram pra Arquitetura, Design e afins. Eu acabei me apaixonando pelo curso e quis completar. Consegui me formar e então veio a pandemia. Recebi meu diploma online, mas tá valendo (risos). E continuo nesse caminho, me encontrando ainda nas artes nesse procura eterna. Essa motivação pra ter feito esse curso é a vontade de criar, de produzir, de colocar alguma coisa no mundo”.
A página no Instagram de Rebeca, @arte.rb, funciona como um portfólio em que a artista apresenta seu trabalho e interage com seus seguidores. “Exige uma dedicação, estar sempre ali presente. Querer mostrar as coisas novas, que as pessoas querem ver”. Rebeca explica um pouco sobre a origem do projeto: “Eu conheço alguns artistas contemporâneos que trabalham com tatuagens, e foi de onde veio um pouco essa vontade de fazer. Enquanto eu estava fazendo a faculdade de Artes, eu trabalhava aqui, na barbearia e comecei a fazer amizade uma galera que tatua. Falei que fazia o curso de artes. Os interesses foram se entrelaçando.”
Rebeca conta um pouco de seus planos e expectativas: “Eu sou aprendiz, ainda não tenho meu estúdio, mas quero ter algum dia. E também estudar um pouco melhor sobre como eu posso divulgar o meu trabalho nas redes sociais. Algo do tipo: ‘Como serão as fotografias que eu vou tirar?’ ‘Qual a importância de estar sempre ali presente no Instagram?’, que não é só minha ferramenta de trabalho, mas de divulgação também, pois além de ser tatuadora, eu sou artista. Então, eu pretendo fazer um curso que me direcione melhor nessa questão, para eu poder divulgar melhor meu trabalho no Instagram”. Ela dá continuidade : “Mas esse é um plano pra quando tiver dinheiro. Primeiro, preciso aperfeiçoar o meu trabalho para poder investir nele de vez, porque sou gerente aqui na barbearia e também tatuadora. E também sonho em poder levar o meu trabalho para o exterior.”
Perguntada a respeito da importância desses projetos e da arte num geral, Rebeca explica: “As pessoas dizem: ‘só precisamos da medicina, das leis, para manter a ordem’ e isso não corresponde. A arte é mais que essencial pra nossa alma, acho que a gente não saberia viver sem isso no dia a dia. A arte, para mim, nunca foi só uma questão de entretenimento. Eu faço arte para marcar a pele das pessoas. Como é que isso não fala de memória? Não fala de permanência? Tudo isso engloba mais um pouco do que temos para falar, de quem é a gente, para onde a gente vai. Acaba sendo um meio não só filosófico, mas também um pouco científico, no quesito de pensar: ‘o ser humano foi criado para que? Para produzir o que? Para onde a gente vai?. Acredito que é devido a essas grandes dúvidas que sempre acabamos voltando para a arte: para procurar por uma resposta.”
A pandemia, para Rebeca, atrapalhou muito, mas também teve seus pontos positivos, como ela explica: “Atrapalhou meu andamento, com certeza. Eu estava estudando e tive que parar porque não tinha segurança. Estávamos confusos sobre as medidas que tínhamos que tomar e não era permitida a abertura de estúdios de tatuagens, da barbearia, nem de lugar nenhum. Acabou que tivemos essa pausa de três meses, e foi bem complicado. Eu pude parar por que trabalho na barbearia também, mas sei que outros tatuadores não. Mas foi quando eu encontrei uma maneira de divulgar um pouco mais o meu trabalho. Eu só queria tomar esse tempo um pouco mais para mim, porque eu sempre trabalhei muito então acabou sendo um bom momento para eu me afastar um pouco e poder fazer essas coisas: postava a foto, divulgava o trabalho e continuava estudando em casa. Parar, estudar, e pensar no futuro. Pensar em como é que vai ser esse retorno.”
Eu gostei do título da matéria achei bem interessante, acho que deveria repensa o subtítulo, está um pouco confuso na minha opinião, o que não tira o mérito da matéria que está bem escrita e bem formulada, pois apesar de ser grande não é repetitiva, nem cansativa. Eu acho que casaria melhor com a matéria a inversão do primeiro com o segundo paragrafo. Gostei bastante dos relatos dos estudantes, agregou bastante a matérias. Falta certa clareza nessa frase,poderia ser revisada ''...fato que os levou a pensar sempre pensaram...''.
ResponderExcluirNão sei porque saiu anônimo mas quem comentou fui eu,Raisa Proeza.
ResponderExcluir