Cine debate virtual

Valorizando a arte e tudo que ela envolve, principalmente a arte nacional brasileira, o Centro de Artes UFF continua seus projetos de maneira virtual 

Por Lanna C. Oliveira

Foto: Facebook do CineArte UFF


Um dos vários projetos que o centro cultural está disponibilizando de forma remota e gratuita é o Cine Debate, onde é passado um filme, em parceria com suas distribuidoras, no canal de Youtube e Facebook do Centro de Artes UFF (ambos com o mesmo nome) e logo em seguida acontece o debate desses filmes com convidados envolvidos nos mesmos (diretores, atores, produtores etc). Querendo saber mais sobre o projeto, o Alô, Gragoatá conversou com a responsável pela programação do Cine Debate e diretora do Cine Artes UFF, Livia Cabrera, que explicou como funciona o evento em tempos normais e as diferenças com o funcionamento atual. “Na programação regular, quinta-feira é o dia que a gente muda a programação, então toda quinta é uma programação nova que a gente chama de Cine Semana. [...] Lançamento, projetos especiais etc., geralmente a gente tenta encaixar na quinta-feira que é o primeiro dia da programação, então o Cine Debate já é uma tradição do Cine Artes UFF e normalmente ele ocorre com lançamento de filmes, geralmente brasileiros. Então a gente recebe alguns artistas, alguns diretores, eventualmente, para fazer um lançamento, as vezes são projetos especiais, por exemplo: quando o Museu Nacional pegou fogo, o pessoal da Comunicação da UFRJ fez um documentário, então vieram pra cá mostrar o documentário e fizemos um debate depois pra discutir o assunto [...] É bem eclético, mas sempre nesse sentido de fazer uma sessão especial que marque a trajetória, o início ou uma trajetória em si que já exista e sempre as quintas-feiras, então é um filme seguido de uma conversa com uma plateia.”

 Segundo a Livia, a ideia de fazer o Cine Debate acontecer online surgiu mais ou menos um mês depois da quarentena começar e receberem a ordem de fechamento e apesar de na época já terem um mês quase completamente programado, quando apareceu  a ideia de tornar online, eles listaram filmes que nunca conseguiram passar por falta de espaço, cine debates que não conseguiram encaixar antes, e assim montaram a grade de programação do Cine Debate, que se aperfeiçoou com o tempo e ajuda dos técnicos e projecionistas do cinema. “A nossa proposta é que sempre fosse acessível, filmes acessíveis que a gente conseguisse dentro dessa programação.” A diretora do Cine Artes ainda disse que devido a maior facilidade de conseguir a liberação pelos direitos autorais, eles ficaram restritos a uma programação de filmes brasileiros e que a escolha da programação acontece com foco em fazer ela o mais diversa possível “então a gente vai olhando os catálogos das distribuidoras; filmes que a gente gostaria de ter passado e não conseguiu espaço, ou filmes que a gente passou e ficou muito pouco tempo e achamos que a qualidade do filme é muito boa e merece ser repetido; filmes que, eventualmente, algumas pessoas oferecem pra gente e que a gente não conhecia, acha bacana e coloca. E os filmes que a gente encaixa dentro de alguma efeméride ou de algum momento, tipo esse mês, mais especialmente essa semana, a gente vai ter esse filme que vai estar conectado com o dia da Consciência Negra (20/11) que é o “Cavalo”, então assim, tem alguns marcos que a gente procura seguir. Ou quando a programação se junta com as outras áreas do Centro de Artes, por exemplo, se o Teatro vai fazer alguma coisa e temos um filme que dá para relacionar, a gente tenta colocar também, entendeu?! Está sendo bem mesclado e diverso nesse sentido, a gente vai conversando e recebe muita ideia do público, de colegas e ai a gente vai negociando com a agenda das pessoas que vão participar do debate.” 

Tirando o receio inicial sobre a recepção, o projeto foi se aperfeiçoando e ganhando forma, e  mantém hoje uma certa estabilidade de público que tem em parte antigos acompanhadores do Cine Artes, mas também conseguiu e consegue conquistar novos, seja pelos filmes que os atraem ou suas parcerias que proporcionam isso. E Livia dá o exemplo de quando passaram “A Rainha Nzinga chegou” e a mediadora foi sua amiga e professora da Federal de Tocantins, Karina Almeida de Sousa, que convidou os alunos dela que ainda nem conheciam o Cine Artes UFF, mas agora acompanham o canal do Youtube e a programação. “Vai trazendo gente de outras esferas, principalmente por conta do debate que a gente consegue estruturar, então os convidados trazem muita gente de fora. Mas a gente tem esse público fixo.” Para ela, por não serem uma sala estritamente comercial, não precisarem diretamente do dinheiro da bilheteria para sobreviver por estarem ligados a Universidade Federal Fluminense, eles chegam a estar numa “zona de conforto” se comparados aos inúmeros outros pequenos exibidores que estão fechando as portas por problemas financeiros. Mas diz também que a pandemia prejudicou os planos, amostras e festivais que já estavam apontados como certos para receberem esse ano e que diferente dos festivais que estão acontecendo virtualmente, o Cine Artes não tem uma plataforma própria e segura para fazer esses eventos e ainda tiveram de restringir as lives para uma vez na semana, tanto porquê os meninos que fazem trabalham em outros setores além do cinema, quanto por ficar cansativo o excesso de lives “ tanto pra quem ‘tá fazendo quanto pra quem ‘tá assistindo. [...] a gente não tem como ocupar essa grade toda de programação, porque a gente não tem braço pra isso e porque talvez não tenha público, já que competimos com muitas coisas acontecendo.” Além disso, o que mais faz falta, segundo a Livia, é a interação direta com o público, o contato da plateia com os convidados  que, diferente do presencial, no virtual acontece de forma intermediada, não acontece diretamente de um para o outro e dá a sensação de ser uma relação um pouco mais fria. E também a qualidade técnica que fica em falta, pois por alguns filmes serem feitos para passarem em uma tela grande de cinema, com um som de qualidade alta, acabem não tendo o mesmo efeito quando assistidos pelo computador. “Mas a grande maioria deles a gente vai passar assim que a gente puder reabrir, então o público poderá rever ou quem não viu ver. A qualidade técnica eu acho que é o grande diferencial.”

E por fim, sobre como enxerga o retorno das atividades presenciais, ainda sem data, e que medidas e adaptações seriam adquiridas por conta das mudanças feitas para este ano, Livia Cabrera diz que terão de se organizar para adotarem novas medidas sanitárias, como diminuir a quantidade de sessões que aconteciam muito próximas umas das outras e espaçar mais a distância entre as pessoas na plateia, que são regras que ela acredita que vão permanecer por bastante tempo, independente de já ter a vacina no futuro. “Agora, a gente também adquiriu uma consciência de registrar esses debates e colocar no canal (do Youtube), acho que são coisas que a gente pretende fazer quando voltar, porque você pode ver o filme de outras maneiras, em outros lugares e recorrer a esses debates, é uma questão de memória, uma questão histórica. Por exemplo, a gente fez um debate com o Vladimir Carvalho que foi incrível, ele é um cara que é uma história viva do cinema e foi um debate incrível e ‘tá lá no Youtube, então quem pesquisa a obra dele pode acessar. Acho que esse tipo de coisa vai ser uma questão importante pra gente no futuro e não tínhamos nos ligado muito.” Durante o fechamento do Cine Artes presencial, um dos planos que não foi cancelado e está sendo preparado para quando reabrirem é o equipamento de acessibilidade que faz decodificação para pessoas com necessidades especiais, “ela vai poder assistir o filme com libras LSE, que é a linguagem de surdos e ensurdecidos, aquela legenda descritiva, e áudio descrição. A  gente vai ter esse equipamento, então acho que isso vai ser uma novidade na nossa estrutura física. E quanto a programação, a gente acredita que vai ter muita dificuldade, porque já está uma grande disputa por espaço, muito filme que estava programado pra ser lançado e não foi e isso foi se acumulando. A gente só tem uma sala e uma demanda de filmes bizarramente grande, então isso acho que vai ser uma complicação, pra conseguir dar conta de passar muitos desses filmes que a gente gostaria de passar, ou que nosso publico pede, ou de parceiros nossos já antigos. Mas é um problema que pra gente é bom, né?! É ruim para as distribuidoras, mas pra gente é legal porque teremos um leque enorme de possibilidades.”

As transmissões do Cine Debate acontecem semanalmente, às quintas-feiras, 19h, e apesar dos filmes não ficarem salvos, por direitos autorais, as lives dos debates ficam disponíveis no canal do Youtube do Centro de Artes UFF. E o filme dessa quinta (19) será em homenagem ao dia da Consciência Negra (20/11), chamado “Cavalo”, e é o primeiro longa-metragem feito com edital público do estado do Alagoas, em seguida o debate vai contar com a presença dos bailarinos parte do elenco do filme. 



Canal do Youtube: https://www.youtube.com/c/CentrodeArtesUFFOficial


Página do Facebook: https://m.facebook.com/centrodeartesuff/


Comentários

  1. É muito importante dar visibilidade para o trabalho que o Centro de Artes tá fazendo nessa pandemia. Excelente escolha de pauta, Lanna! Você escreve muitíssimo bem e, aliada à um recorte tão bacana, não tem como dar errado! Meus parabéns!

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