Prainha Play: o que é fazer cinema para você?

Projeto de estudantes do curso de cinema ganha espaço mensal na TV universitária da UFF.

Foto: Youtube


Fruto de uma iniciativa de estudantes, o Prainha Play, que faz referência a um espaço tão presente na antiga rotina desses, surge como o mais novo programa da TV Universitária da UFF. Com primeira transmissão realizada no dia 30 de outubro, o projeto do curso de Cinema e Audiovisual promete entregar, para além daquelas horas complementares tão desejadas, conteúdos mensais que buscarão divulgar a produção acadêmica em todas as suas vertentes, isto é, de maneira a valorizar não só o produto final, mas também seu processo de construção e as importantes e necessárias conversas que essas obras podem e devem gerar. 

Optando por eventos mensais, o programa pretende realizá-los sempre nas últimas sextas do mês, para que haja tempo hábil para a análise dos curtas enviados pelos estudantes (devendo ser tal contato feito pelo Instagram) e para a preparação dos mediadores do debate. Isso porque o projeto é totalmente planejado pelos discentes, que cuidam de suas tarefas da grade curricular ao mesmo tempo. Eloah Toledo, estudante do 5° período do curso e peça fundamental da organização do projeto, contou ao Alô, Gragoatá! um pouco mais sobre a dinâmica dos bastidores. Composta por dois “setores”, a equipe inclui uma área de curadoria responsável por analisar o material que chega para possível uso, e uma de mídias, encarregada da construção visual e identitária do projeto. “A gente se reúne e decide desde as cores base das publicações do Instagram até quais serão as exibições de cada sessão”. Dessa forma, evidencia-se o seu caráter experimental que, para o professor e ex-aluno da primeira turma de cinema da casa, Miguel Freire, é o grande marco do Prainha, “pois essa liberdade é um impulso para que o estudante já se aproxime, o mais depressa possível, do mercado realizador”.

Pensando nisso, um dos curtas escolhidos para a primeira sessão foi “Escola de Comunicação”, cuja direção é atribuída justamente a Miguel, no entanto em sua “versão universitária”. Durante a participação, o convidado contou que a obra havia surgido, na realidade, de uma sugestão dada por ele a seus professores pois, uma vez que havia sido transferido de Brasília, precisava sanar as divergências das grades. Relata que, para a sua surpresa, a proposta foi facilmente aceita e, como não tinha recursos para custear a obra, passou então a “bater de sala em sala pedindo dinheiro para que a gente pudesse pelo menos sustentar o deslocamento para as locações e a posterior revelação que, na época, era ainda mais cara. O engraçado é que a fala começava exatamente com algo que hoje tanto costumo ouvir naquele conhecido uníssimo: ‘professor, a gente está produzindo um filme...’. O meu contentamento de ter feito esse curta é que eu julgo que ele marca um pouco do que eu acredito ser o curso de cinema aqui do IACS, que produz filmes de estudantes maravilhosos, fortíssimos concorrentes nos festivais. Eu vejo que esse atrevimento permaneceu, muitos estudantes se atiram mesmo no mercado, sabe? Eles fazem seus filmes e filmes bons, filmes bem feitos”, pontuou Miguel.

Para Eloah, essa possibilidade de interação não só aviva a conexão do aluno com o curso, como também sua autoconfiança, pois “tendemos a julgar as coisas como muito inalcançáveis quando se trata de nós, como ganhar aquela única vaga para docente de uma grande universidade ou ter várias produções que inspiram os outros na carreira... E aí de repente você se depara com alguém que passou pelos mesmos perrengues que você, que é fruto daquele mesmo ensino, daquele mesmo espaço”. Maria Eduarda D’Elia, que acompanha a colega de turma na mediação das transmissões, ainda reitera a importância da construção desses espaços para além da sala de aula, levando em conta que, por conta de uma rotina apressada e da exigência de contemplar-se uma programação específica, essa oportunidade de troca, muitas vezes, não consegue se estabelecer. Para a estudante, “esses relatos podem trazer tantos ensinamentos quanto o conteúdo teórico”, apresentando-se como um complemento, uma força a mais que se torna fundamental para aqueles primeiros passos mais receosos. 

Com a pandemia e a consequente necessidade de isolamento social, os discentes ainda se viram distantes do ambiente acadêmico, o que Eloah conta ter sido uma das principais motivações não só para o projeto, como também para a escolha de seu nome: Prainha Play. Isso porque o original teria sido “UFFlix”, que logo foi substituído a partir da percepção da equipe de que “cada pedacinho do projeto é realmente pensado e realizado pelos alunos, então precisávamos encontrar um nome que honrasse isso. UFFlix marcaria muito a instituição, mas o que diria sobre nós alunos?”. Da junção dessa ideia à falta do contato próximo e diário, firmou-se então o Prainha: “A gente perdeu diversas possibilidades que o ambiente universitário nos proporcionava, sabe? Lembro da gente caminhando para o Cine Arte, conversando sobre cinema na fila do bandejão e, é claro, dos encontros na Prainha. A Prainha (localizada no IACS, Instituto de Artes e Comunicação Social) é um marco para qualquer aluno que frequenta o casarão rosa. É onde a gente dialoga, troca, convive, é onde a gente sente que pode dizer “olha, esse aqui é o nosso espaço”. Então por que não tentar trazer um pouco disso para o online?”. 

  

Foto: O Casarão

Esse mesmo online que, pensam Duda e Eloah, trazer uma possibilidade de expansão aos limites do espaço acadêmico, de maneira a permitir que o conteúdo que é produzido nas universidades ultrapasse seus muros. Elas apontam para duas grandes vantagens desse formato, atentando para a possibilidade de defesa desse conhecimento que hoje tanto tem sido questionado, e para a de prestígio dos alunos e de suas produções que, muitas vezes, acabam ficando engavetadas.


“Hoje trabalho com colegas que antes eu passava pelo corredor e cumprimentava, mas não fazia ideia do que poderiam realizar” – Eloah Todelo.


Para as meninas, o que fica de herança é principalmente a experiência de coletividade e valorização do outro. “É sobre ter com quem dividir os sentimentos suscitados, sabe? Desde a ansiedade de conhecer o entrevistado até ter internet no dia ou não, os momentos desesperadores mais do que garantidos do aprender a mexer em novos equipamentos e softwares ou aquele sentimento tão gostoso de trabalho cumprido por mais mínimo que tenha sido o degrau”. Destacam ainda, a chance de ampliar seus laços e contatos: “Hoje trabalho com colegas que antes eu passava pelo corredor e cumprimentava, mas não fazia ideia do que poderiam realizar. Nós ainda assumimos responsabilidades uns com os outros, a equipe de artes depende das decisões da curadoria para prosseguir e a curadoria depende da arte para que a sessão seja divulgada. Como não ver isso enquanto um grande potencial de experiência e aproximação com aquilo que encontrarei no futuro?”.

Do lado docente não foi diferente. Miguel declarou-se, a todo momento, feliz e orgulhoso com o resultado, demonstrando plena confiança em uma juventude que enfrenta um mercado de trabalho cada vez mais exigente, mas que também chega à universidade “mais preparada, interessante e inteligente”. “Eu busco como professor o mais possível de aproximar os estudantes da realização. Se tenho a oportunidade, incentivo e fico contente quando eles vão além do filme e começam a fazer cinema. Porque às vezes a gente se esquece do que é realmente fazer. E é exatamente isso o que vocês fizeram aqui na nossa tarde de abertura do Prainha: Cinema”.

Com isso, o curso de Cinema da UFF, que completou seus 50 anos nesse ano, consolida-se desde a produção de “Miguel Freire aluno” nos anos setenta, até o projeto estudantil “Prainha Play datado em 2020, como um espaço no qual o estudante encontra sua liberdade no exercício do fazer cinematográfico e, consequentemente, inúmeras oportunidades para realmente ser e crescer. 


Comentários

  1. Gostei muito da matéria, Luiza! Eu admiro a sua iniciativa de sempre trazer algum projeto pro foco da matéria, projetos esses que as vezes nós estudantes deixamos passar despercebido ou que não temos tanto conhecimento, e você explora isso e transmite ao leitor. Continue assim !
    Um ponto que acredito poder ser corrigido é "passou então a 'bater de sala em sala...'", acho que dessa forma ficou muito brusca a transição da sua escrita para a fala do entrevistado, poderia ter sido "passou então a, segundo o professor: 'bater de sala em sala...'"; também destaco o trecho da fala de Eloah e o modo isolado que você escolheu situá-lo, não achei ruim, apenas curioso. Enfim, nada que prejudique a matéria que está muito bem escrita e com relatos muito interessantes por parte dos entrevistados.

    ResponderExcluir
  2. Oi, Luiza. Primeiro, parabéns pela matéria, está muito informativa. Tenho só duas observações a fazer. Eu achei que a explicação para o nome Prainha Play poderia estar mais no início do texto, logo depois que você escreve "o Prainha Play, que faz referência a um espaço tão presente na antiga rotina desses". É que eu fiquei imaginando uma pessoa de fora da UFF lendo a matéria e ficando em dúvida sobre o nome, por isso eu colocaria logo no início.
    A segunda observações é que eu achei os parágrafos um pouco longos demais. E eu enxergo dois momentos em que separar o parágrafo em dois não seria problema nenhum para o texto. No segundo parágrafo, que eu faria a partir de "Eloah Toledo" um novo parágrafo e no quarto parágrafo, que eu faria a partir de "Maria Eduarda" um novo parágrafo.
    Muito bom trabalho, abraços.

    ResponderExcluir

Postar um comentário