Um elo em comunhão

O Centro de Artes UFF lança o projeto Chão da Terra, série de encontros on-line que propõe uma conexão com os saberes da terra.

Por Raisa Proeza

 

Fonte: http://www.centrodeartes.uff.br/page/46/?p=wordpress_themes


Em ambiente virtual, convidados de diferentes lugares do Brasil e do mundo participam de lives pelos perfis oficiais do Centro de Artes UFF no Facebook e YouTube, em eventos que acontecem entre agosto e dezembro. 


O projeto “Chão da Terra” se aproxima de temas como a ancestralidade, a ecologia, a espiritualidade, as memórias, as expressões das culturas populares e tradicionais, as práticas comunitárias e suas experiências de vínculo e enraizamento em uma perspectiva de integralidade. Também traz como objetivos reconhecer protagonismos e visibilizar experiências comunitárias inovadoras; fortalecer o diálogo e o compartilhamento de saberes; estimular dinâmicas de criação e cooperação; e potencializar ativos econômicos, tendo em conta os agenciamentos das matrizes culturais, sociais e ambientais do território.

O atual coordenador do Centro de Artes, Pedro Gradella, explica que ideia surgiu através  “uma proposta do Superintendente do Centro de Artes UFF, Leonardo Guelman e a partir disso trabalhamos a linha temática e curatorial do programa junto a produtora Marianna Kutassy, que se aproximaram de questões relevantes ao contexto atual, como a ancestralidade, a ética do cuidado, a ecologia profunda, a espiritualidade, as memórias, as expressões das culturas populares e tradicionais, as práticas comunitárias e suas experiências de vínculo e enraizamento em uma perspectiva de integralidade”.

Os encontros acontecem, geralmente, uma ou duas vezes por mês. O mais importante  na visão do coordenador, o evento representa  “ a reunião de pessoas e das vozes que consideramos necessárias”. Cada encontro conta com três convidados e um mediador, que partem de uma temática, um assunto e apresentam visões diferentes e interessantes sobre o tema e promovem o debate.

A primeira live da série abordou “A arte como resistência do território” e contou com a presença de participantes com significativa inserção em suas comunidades, trocando experiências de processos e expressões artístico-culturais, de comunicação e educação. No encontro, do dia 9 de setembro, o tema escolhido foi  “Quatro mulheres, Quatro culturas: Quatro pontos de vista”, que abordou o debate acerca dos desafios colocados para diferentes culturas, a partir da perspectiva de mulheres que pensam e vivem alternativas e resistências em suas coletividades. Neste, Carolina Rocha, que é afrodescendente  militante antirracista, historiadora e socióloga, Aline Miklos que é descendente de ciganos húngaros e doutoranda de História da Arte pela Universidade de São Paulo e Jama Perry indígena, graduada em Gestão Territorial Indígena pela Universidade Federal de Roraima e a mediadora Amanda Hadama caiçara, mestre em Cultura e Territorialidade pela Universidade Federal Fluminense, foram as convidadas. Durante o encontro, cada uma pode trazer um pouco da sua cultura, conhecimento e enriquecer o debate, que tinha como foco os desafios que relativos à cada uma delas. As perspectivas dessas mulheres, que além de possuírem experiência e estudo, são também atos de resistência.

 

Foto: Youtube 


O Alô, Gragoatá! conversou com a Amanda Hadama, que foi mediadora nesse encontro, e falou um pouco dessa experiência e a descreveu como enriquecedora e ao mesmo tempo desafiante, pois para ela, estar entre três mulheres fortes e de contextos culturais distintos é um exercício de compreensão que demanda atenção, “foi um alento e um encontro de fortalecimento. Vivemos um momento social e político no Brasil de opressão da existência. Estar junto de pessoas que trazem consigo saberes ancestrais, valores de coexistência e igualdade nos ajuda a acreditar de novo, nos faz perceber que não estamos sozinhas”, explicou. Ao encontrar-se com as demais palestrantes, debater temas diversos e trocar de experiências, ela relatou sentir não apenas o fortalecimento de si de maneira individual de cada uma, mas um fôlego para as causa que defende.

Amanda conclui que trazer ponto de vista diferentes e culturas diferentes ajuda conhece-las melhor, principalmente as relativas ao Brasil, como a filosofia dos povos indígenas. Para ela, é necessário conhecer mais sobre os saberes que compõem o país. Com a atuação do projeto, é possível abrir a visão das pessoas para diferentes assuntos e quebrar algumas ideias presentes no senso comum, porém ainda há adversidades, uma vez que ainda atinge um público muito restrito.

A escolha dos temas  ou dos convidados  “parte  do conjunto de questões e propostas de discussão do evento como os grandes temas do programa, estruturamos pesquisa, prospecção e curadoria, pensando as pessoas que se destacam por sua atuação e reflexão a partir de seus territórios e construímos junto a isso os temas específicos dos debates”, contou Pedro.

Como projeto já nasce no contexto de pandemia e distanciamento social, os encontros só são possíveis via internet, o que possibilitou que pessoas de várias partes do mundo se conhecessem  e potencializou  as possibilidades para o projeto, uma vez que  este pode contar com a participação de pessoas de diversos territórios, e podem falar  a partir do seu próprio chão.

Ambos os entrevistados citaram a importância de debater-se temas tão relevante e, também, a projeto. “O contexto da pandemia intensificou muito das contradições e dos absurdos da sociedade em que vivemos, abriu as sensibilidades de muitos de nós em relação ao adoecimento da terra. Por um momento vislumbramos, a possibilidade de nos tornar seres melhores. E foi esse exercício de escuta que o Chão da Terra se propôs, ouvir as vozes da terra, da floresta, do mar, dos xamãs, das Ialorixá, das ancestralidades, das mulheres, dos artistas, dos coletivos comunitários.

Não podemos deixar somente para os políticos, empresários e economistas o papel de pensar e planejar o futuro”, disse Amanda . Para Pedro, isso é fundamental: “é isso que motiva o projeto. Apresentar o amplo repertório da expressividade humana ancorada em uma relação profunda com seus territórios. O contexto da Pandemia e do distanciamento social, experienciado de maneira tão desigual pela população, um reflexo da própria estrutura social, tornaram também, mais evidente a urgência em se repensar a relação entre as pessoas, a natureza e o território a partir de outras epistemologias, visões e fortemente, através de outras práticas e conclui é necessário não perdermos o senso de esperança em uma vida igualitária é preciso escutar a terra”. Essa é a proposta do Chão da Terra, ainda mais importante nos dias atuais.


Fontes: 

http://www.centrodeartes.uff.br/eventos/chao-da-terra-4-mulheres-4-culturas-4-pontos-de-vista/

https://www.youtube.com/watch?v=p7QiV14XPv0&list=PLoPirty-rq8SNtartPxQp52_z1PRPCZrq


Comentários

  1. Oi, Raisa! Adorei a escolha da pauta. Esse pensar em ouvir a terra se deu realmente de forma mais presente esse ano (em todos os seus sentidos). Também achei muito interessante você ter escolhido pontuar um lado menos negativo da atividade online, onde pessoas de lugares mais distantes conseguiram e começaram a participar com mais facilidade desses projetos. O trecho em que você evidencia que elas falam de seu próprio chão, fazendo referência ao nome e ao sentido do projeto, ficou genial. No mais, o que mais me chamou atenção foram aspectos estruturais. Citarei alguns exemplos. Senti falta de alguns conectivos como em "O atual coordenador do Centro de Artes, Pedro Gradella, explica que **A** ideia surgiu através **DE** “uma proposta do Superintendente do Centro de Artes UFF, Leonardo Guelman **AQUI COLOCARIA UMA VÍRGULA** e a partir disso trabalhamos a linha temática e curatoria..." e em "O mais importante na visão do coordenador, **É QUE** o evento representa “ a reunião de pessoas e das vozes que consideramos necessárias”.". Esse trecho, do último parágrafo, também ficou confuso: "... repensar a relação (...) a partir de outras epistemologias, visões e fortemente, através de outras práticas e conclui é necessário não perdermos o senso de esperança em uma vida igualitária é preciso escutar a terra”. Já aqui, "ela relatou sentir não apenas o fortalecimento de si de maneira individual de cada uma", encarei as últimas palavras como redundâncias. Das coisas mais pontuais, destaco esse período: "O Alô, Gragoatá! conversou com a Amanda Hadama, que foi mediadora nesse encontro, e falou um pouco dessa experiência e a descreveu como enriquecedora e ao mesmo tempo desafiante", que eu estruturaria de outra maneira: (...) e falou um pouco dessa experiência, descrevendo-a como enriquecedora e ao mesmo tempo desafiante. Para além dele, esse: "Amanda conclui que trazer ponto de vista diferentes e culturas diferentes ajuda conhece-las melhor, principalmente as relativas ao Brasil...", que já construiria assim: Amanda conclui que trazer pontos de vista e culturas diferentes pode nos ajudar a conhecê-las melhor. Acho que esses exemplos já constituem uma boa base para que você consiga analisar o todo. Parabéns pela matéria e espero ter contribuído.

    ResponderExcluir

Postar um comentário