Por Fernanda Nunes
Segundo uma pesquisa feita pelo IGBE, mais de 41% dos brasileiros recorrem ao trabalho informal como fonte de renda mensal e, se tratando dos estudantes universitários, foi apontado que mais de 50% conciliam a vida acadêmica com o trabalho. Essa jornada dupla faz com que muitos alunos desistam da graduação, principalmente por conta da carga horária oferecida pela grade curricular da maioria dos cursos, que inviabiliza o exercício de uma atividade remunerada formal. Uma opção, a qual se é comumente recorrida, é a venda de produtos dentro do ambiente acadêmico.
O aluno de Estatística, Rudnan Jésus, encontrou nos doces uma forma de garantir sua permanência na faculdade. Rudnan conta que virava a noite fazendo docinhos e, durante o dia, andava do Engenho Novo até a Cidade Nova fazendo as vendas, o dinheiro que faturava por mês, somados a ajuda financeira oferecida por seus pais e sua prima, eram destinados a sua alimentação e passagem até o campus “Minha faculdade é pública, porém tenho que custear minha alimentação e passagem até Niterói (que não é barata), pois os estudantes do Rio que estudam em outros municípios não tem liberação para possuir o RioCard universitário. Meu curso é em tempo integral, logo, três vezes na semana eu pego de 7h às 18h na faculdade e isso dificulta encontrar uma vaga compatível com meus horários (que mudam todo semestre), daí me veio a ideia dos doces”
foto: Rudnan JésusJá dentro do espaço acadêmico, os bolos de potes da uffiana Fernanda Rebello, batizados de “jornabolos”, faziam sucesso com os alunos do segundo período de Jornalismo antes da pandemia. Entre uma aula e outra, depois do almoço ou para “enganar a fome”, Fernanda e sua amiga repararam que uma sobremesa bem açucarada era a pedida favorita entre os estudantes. De acordo com a pesquisa elaborada para a execução desta matéria, que contou com a participação de 124 estudantes de diferentes universidades do Brasil —sendo 89 pertencentes à UFF Niterói—, 49,2% dos participantes afirmaram consumir doces na faculdade pelo menos 3 vezes por semana e 17,7% disseram que consomem todos os dias.
No segundo semestre de 2019, quando as preocupações a respeito da convivência universitária não envolvia o uso sem moderação de álcool em gel, alunos de diferentes cursos e turnos se mobilizaram contra uma ação veiculada pela direção da Universidade, que impedia a venda de produtos dentro do campus. A indignação dos grupos que organizavam abaixo-assinados nas portas do bandejão, partia de um entendimento de que a faculdade também é o espaço onde alguns comerciantes e alunos geram sua principal fonte de renda.
Essa batalha foi ganha, na época, mas o que não foi possível prever foi o longo e turbulento ano que viria à frente. Com as vendas a mil e faturando o suficiente para arcar com algumas despesas de moradia, Fernanda, juntamente com sua amiga, produziam em média 30 bolos de pote e arquitetavam planos para as aulas presenciais “Nós tínhamos muitas ideias para o retorno das aulas. Iríamos criar um Instagram e até mesmo acrescentar outras coisas para vender, mas com a pandemia não conseguimos, como muitos outros, levar nossos planos para frente”, conta.
Assim como Fernanda e sua amiga, muitas outras pessoas relataram ter seus planos frustrados por conta da paralisação das aulas presenciais. Uma fonte anônima, em pesquisa, declara “Tentei vender nas redondezas de casa, pelos vizinhos, boca a boca e pelo instagram e facebook também. Onde desse pra ir a pé, eu estava indo. Mesmo assim, impactou bastante e tive uma redução no início quando quase ninguém queria sair de casa e eu não entregava pelo iFood”, outra respondeu “Tranquei a Universidade nesse período, perdi parte da minha renda e tive que buscar alternativas vendendo outras coisas como cosméticos.”. As alternativas foram muitas, vendas online, auxílio emergencial e até mesmo colocar sua vida em risco com as vendas nas ruas, porém, é possível medir minimamente a dimensão do impacto causado por essa mudança de cenário quando, apenas nesta mesma pesquisa, 80 das 124 pessoas que participaram, disseram que vendiam ou conhecem alguém que vendia doces na faculdade, isso sem contar os sanduíches, bijuterias, perfumes, salgados, enfim, o comércio tem sido, inegavelmente, a cereja do bolo no processo de garantia da permanência dos alunos.
Ótima matéria, Fernanda! Achei muito interessante a pesquisa feita para recolher os dados e o assunto é extremamente relevante.
ResponderExcluirA única coisa que mudaria é que, em algumas partes, dividiria o parágrafo em dois.
Verdade, Fernanda. Infelizmente essa é a realidade de grande parte dos estudantes nas universidades. Achei a pauta extremamente necessária e muito bem trabalhada. Os dados contribuíram demais e foram super bem colocados. Os únicos pontos que acho que tornariam o texto melhor, seria separar a introdução da fala da primeira fonte, formando dois paragráfos diferentes e, além disso, revisar algumas questões de pontuação. No mais, excelente texto :)
ResponderExcluirOi, Fernanda. Meus comentários são praticamente os mesmo que o da Letícia, revisão na pontuação e separar a introdução da fala da primeira fonte.
ResponderExcluirUma coisa coisa que me irritou um pouquinho lendo o texto foi sempre colocar "Fernanda e sua amiga" sem citar o nome dessa amiga. Como você usou essa informação muitas vezes seria bom falar quem é essa pessoa.
Bom trabalho.