Por Mariana Costa
O Festival nasce primeiramente de uma falta: a falta de debates sobre o que é ser uma mulher negra na universidade pública e fora dela, e se mostra necessário exatamente por se tornar um lugar seguro para a estudantes negros da UFF em tempos de incerteza e de evidência midiática da violência racial. O NECS vem trabalhando desde setembro de 2020 contra "o apagamento epistêmico, físico e psicológico de alunos negros" na Universidade Federal Fluminense, tendo em foco principalmente o curso de ciências sociais. Com o Mulheridades Negras, eles mostram um olhar delicado ao assunto da negritude trazendo a tona a necessidade de se falar sobre as vivências e violências vividas por mulheres negras cotidianamente.
Elizabeth explica que "alunos negros não conseguem se ver nos espaços mais altos institucionais ou em uma emante dos docentes, ou nas bibliografias do curso" e que o festival vem pra instigar o conhecimento dessas pessoas, mostrando que elas também têm espaço e voz dentro da UFF. "É muito importante estar construindo esses espaços que eram um tanto quanto ausentes e não eram tão palpáveis pra gente dentro da universidade", continua.
A atividade que teve início no dia dois de março e terminou na última quinta-feira, dia primeiro de abril, fez um recorte de gênero no assunto principal pautado pelo NECS, a negritude, em virtude das comemorações do mês da mulher. Todas as questões foram apresentadas em posts no Instagram oficial do Diretório, organizadas por meio de dados estatísticos levantados pelos estudantes que comprovam a veracidade e urgência da discussão. Os alunos de ciências sociais participantes e coordenadores do Diretório falam sobre a urgência de trazer dados estatísticos para legitimar a importância de se falar sobre os assuntos abordados: "Nosso maior objetivo é a partir de um dado construir um debate acerca do assunto que muitas pessoas ignoram", diz Elizabeth. O cronograma do Festival foi dividido em três eixos temáticos com duração de uma semana, acontecendo através do Instagram do Diretório.
O primeiro eixo de atividades teve seu fim simbolicamente no dia em que Carolina Maria de Jesus completaria 107 anos, sendo esse coincidentemente o mesmo dia que completou-se 3 anos do assassinato da vereadora Marielle Franco, dia 14 de março. Por esse motivo, o segundo eixo contou com debates sobre Mulheridades Negras na Política, com foco na vida e resistência de Marielle, levando ao público dados estatísticos sobre violências sofridas por mulheres negras que ocupam ou eram candidatas a ocupar cargos de liderança política. O terceiro e último eixo chamado "Mulheridades Negras, Resistências no Brasil" teve início no dia vinte e sete de março, tendo como principal objetivo reforçar a diversidade que compreende existir em Mulheridade Negra.
Foto: Instagram @necsuff
O encerramento do Festival contou com uma live em parceria com o coletivo TransUFF, que trouxe a estudante de cinema e audiovisual Ivy, e a participante do Diretório NECS e graduanda de ciências sociais, Vitória Ribeiro, para um debate sobre resistência da mulher negra nos dias atuais.
Elizabeth deixa claro que existe uma pluralidade que se estende para além da cisgeneridade, com isso o Mulheridades Negras não é apenas para pessoas que se identificam enquanto mulheres e não foi desenvolvido para falar unicamente sobre violências raciais. “É sobre mostrar que a gente fala sobre tudo e produz sobre tudo", afirma a organizadora.
Por fim, o festival vem pra descentralizar as narrativas brancas, cis e heteronormativas que tomam conta do mês de março e abrigar todos os UFFianos.
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