Nélida Piñon completa 84 anos: relembre a trajetória da autora e sua última passagem pela UFF

Por Maria Eduarda da Costa Santos 

Ao longo de 60 anos de carreira, Nélida Piñon, que coleciona dezenas de obras e premiações, se consagrou enquanto uma das mais importantes escritoras brasileiras e permanece ativa na produção literária. Em seu último evento na UFF, em 2017, Nélida compartilhou experiências sobre sua narrativa e foi homenageada no Instituto de Letras da Universidade.
No dia 3 de maio, a escritora brasileira Nélida Piñon completou 84 anos. A romancista e ensaísta é descendente de galegos e formada em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Nélida é uma célebre figura no cenário da literatura nacional, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), a autora também tomou posse de sua cadeira na marcante data de 3 de maio, no ano de 1990, fato que completa 31 anos esse mês. A literata fez história na ABL sendo a primeira figura feminina a presidir, ainda nos anos 1990, a instituição inaugurada por Machado de Assis.
Foto: Academia Brasileira de Letras 

Nélida, que já foi homenageada na Academia Carioca de Letras com o recebimento da Comenda da Ordem de Padre José de Anchieta, teve sua obra literária difundida em outros países com traduções diversas. Premiada por mais de vinte vezes ao longo da carreira, na última década a escritora recebeu, no ano de 2010, o Prêmio Casa de las Américas, em Cuba, pelo ensaio Aprendiz de Homero (2008) e, no mesmo ano, o Prêmio Internacional Terenci Moix, na Espanha, pelo livro Coração Andarilho (2009). Em 2018, foi contemplada, pelo conjunto de sua obra, com o Prêmio Vergílio Ferreira, em Portugal.

Em 2020, aos 83 anos, Nélida Piñon lançou o romance Um dia chegaria a Sagres, cuja ambientação se dá na oitocentista Portugal e narra, através do personagem Mateus, uma história carregada de fios memorialísticos que evoca Camões e outras cernes figuras da cultura portuguesa, como a viagem e o mar. Com seu talento ativo, a literata revisita a história de Portugal de forma intimista e familiar, sem deixar de trazer ao contorno da narrativa os elementos característicos de uma tradição literária cara ao cânone lusitano.

No ano de 2021 também se comemora os 60 anos de produção literária de Nélida Piñon, data marcada pela publicação de seu primeiro romance, Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, em 1961. Esse marco será comemorado, caso a situação pandêmica seja consideravelmente amenizada até o fim do ano, com uma exposição sobre a obra de Nélida organizada pelo cineasta Julio Lellis. Julio é um grande entusiasta da obra da autora e a acompanha de perto há vários anos. Nesse evento, em parceria com o artista plástico Breno Pizzorno, ele pretende expor e celebrar as produções de Nélida ao longo de sua brilhante carreira literária.

A história de Julio Lellis com Nélida Piñon remonta ao período de juventude do cineasta, quando ele ainda vivia no interior de Minas Gerais com sua família. Na ocasião do leito de morte de uma de suas irmãs, Julio estava no hospital assistindo a um especial da cantora Maria Bethânia quando teve seu primeiro contato com a obra de Nélida através de um poema recitado no evento transmitido pela televisão. “Eu olhava e ficava tão fascinado com aquela mulher que eu não conhecia (...), eu era um menino de 17, 18 anos e fiquei arrebatado com aquilo”, conta Julio sobre o momento de encontro com a obra da autora. A partir dessa ocasião, o cineasta decidiu, com a benção de sua mãe, se mudar para o Rio de Janeiro para estar mais próximo de Nélida.  

O filme Nélida Piñon: Mapas dos Afetos (2010), onde há uma narrativa memorialística sobre a vida da autora, com depoimentos da própria e de amigos queridos, como a atriz Fernanda Montenegro e o escritor Mario Vargas Llosa, foi dirigido por Julio. Quando chegou ao Rio de Janeiro, o jovem cursou a faculdade de cinema e só depois de formado decidiu procurar Nélida. A obra nasceu desse encontro que o cineasta relembra com carinho: “Foi aqui no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), eu lembro que eu me aproximei da Nélida e falei que queria fazer um filme sobre ela. Ela tocou no meu braço e colocou no meu livro o e-mail dela”. 

Ao longo dos últimos anos, Julio Lellis acompanhou de perto a produção e a vida de Nélida Piñon, participando também do último evento realizado na Universidade Federal Fluminense com a presença da autora. Em agosto de 2017, aconteceu uma aula inaugural do semestre letivo no Instituto de Letras. Nesse evento, Dalma Nascimento, professora de literatura da UFRJ formada pela UFF, apresentou seus estudos sobre a obra de Nélida e seus livros publicados com resultados de suas pesquisas acadêmicas sobre a escritora.

Foto: Facebook do Instituto de Letras- UFF

Vitória Chagas, ex-aluna do curso de Letras-Literaturas da UFF, esteve presente na plateia do evento que aconteceu durante seu primeiro ano de graduação. No Auditório Macunaíma, Vitória conheceu pela primeira vez um escritor renomado e relembra a fala de um professor sobre a ocasião: “estar ali foi indicação de um professor que eu gosto muito que disse que não fazia sentido estarmos falando de literatura enquanto tínhamos uma escritora a três andares de distância. Era simplesmente inadmissível”. Durante a aula inaugural, Dalma Nascimento sorteou alguns livros e uma amiga de Vitória foi contemplada com um exemplar. O primeiro contato com a autora, que seria, a princípio, puramente contemplativo, se expandiu em um diálogo onde Vitória pediu o autógrafo de Nélida para o livro da amiga.

O momento saudoso foi marcado, principalmente, pela contribuição de Nélida a respeito de sua produção e a forte presença das origens galegas em suas obras literárias. Julio Lellis, assim como Dalma Nascimento, narrou sua história com a escritora e a influência dos textos de Nélida em sua vida. Memórias como a de Vitória foram propiciadas pelo evento que se destaca enquanto um dos episódios da trajetória de discussões e comemorações da literatura nacional no ambiente da Universidade. A obra de Nélida Piñon se encontra eternizada também nos saberes coletivos construídos através desses momentos de contato. 

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