MAC enfrenta coronavírus enquanto se organiza para exposições

Por Ayam Fonseca

Enquanto enfrenta a pandemia de COVID-19, o Museu de Artes Contemporânea (MAC) em Niterói, abriu neste mês de julho, a exposição “Boca Banguela”, sétima exposição do museu no ano de 2021.

Fechado de março a agosto de 2020 por conta da pandemia de COVID-19, e por mais 3 semanas em março deste ano, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói inaugurou na última sexta-feira (16), sua mais recente exposição para o público, “Boca Banguela”, da artista niteroiense Duda Oliveira. Contudo, apesar de já ter retomado seus serviços, a pandemia afetou profundamente o funcionamento do museu, e para que essa e outras exposições fossem possíveis, o museu precisou atentar a diversos fatores.

Foto: Agência Brasil

O diretor do MAC, Victor De Wolf, conta que quando a pandemia chegou e o museu precisou fechar, surgiu uma gama de problemas. O recomendado pelas organizações de saúde e pelo próprio museu era que os funcionários ficassem de quarentena em casa, porém com o museu fechado, há o problema de manutenção do acervo. O acervo do MAC precisa de tratamento de conservação profissional para evitar danos, além do fato do MAC não possuir janelas, logo, necessita que o ar condicionado seja ligado diariamente para evitar problemas, como o mofo. Felizmente nenhuma obra foi perdida, porém houve esse acúmulo de problemas para administrar e foi necessário um trabalho árduo para a restauração das peças. 

Outro grande problema foi a retomada do público ao museu, que após a reabertura demorou a retornar. Isso é um grande obstáculo para o museu, que tem os turistas como grande parte do seu público, e acaba gerando questões como baixa arrecadação nas bilheterias. As exposições do museu são outro fator importante. Por causa da pandemia, algumas exposições tiveram que ser canceladas, acarretando em danos para os artistas que fizeram as obras e atrapalhando o trabalho dos curadores. Exposições internacionais se tornaram inviáveis tanto pela impossibilidade de transportar as peças entre os países, por conta do fator sanitário, quanto pela alta do dólar, que encareceria em muito a produção das exposições, e também do impedimento de fazer uma recepção adequada aos visitantes do museu.

Para que o museu pudesse ser reaberto em segurança, diversas medidas precisaram ser tomadas, como espalhar álcool em gel em diversos locais do museu, colocar tapete sanitizante na entrada, efetuar o aferimento da temperatura no portão, e estipular o uso obrigatório de máscara, tanto pelos funcionários quanto pelos visitantes. Também houve uma delimitação do número de pessoas que poderiam ficar dentro do museu ao mesmo tempo. Com base nos cálculos feitos pelo museu e seguindo a bandeira da prefeitura que delimita o número de pessoas permitidas, ficou decidido que o MAC só poderia comportar 50% da sua capacidade, que equivale a 35 pessoas, sendo 5 desses funcionários do salão. Todas essas medidas são do protocolo que foi estipulado pelas secretarias de segurança e de cultura em parceria com os museus de Niterói.


Foto: Agência Brasil

Apesar de já ter retornado ao funcionamento, o MAC ainda está longe de voltar à normalidade. Como não é possível fazer a sanitização adequada do carpete, o público está proibido de sentar na varanda do MAC, local onde era comum ver diversas pessoas reunidas para tirar fotos. Outra alteração na dinâmica do MAC foi com as obras que propõem toque. “A parte tátil e a parte da interação do museu perdem, estamos tendo que criar elementos e jeitos das exposições terem interação sem ter o toque” ressalta Victor De Wolf, e continua: “Temos uma obra exposta nesse momento que é para abrir e fechar, mas agora ela fica sempre aberta. Ela perde um pouco do seu impacto, mas é melhor isso do que ter a contaminação entre as pessoas”.

Victor conta que quando assumiu a diretoria do MAC em janeiro deste ano, o museu estava sem exposições. Sua ideia era atrair público, por isso eles tomaram a decisão de, nos primeiros 6 meses desse ano, focar em ter atividades e em ter sempre exposições em todas as galerias do museu, incluindo o pátio, com o intuito de não deixar o museu vazio e estimular a retomada do público ao MAC. Victor traçou essa estratégia escorado na pesquisa de Pierre Bourdieu, que indica que quanto mais exposições, mais visitas há nos museus.

Foi graças a essa estratégia que foi possível a realização da exposição “Boca Banguela” da artista Duda Oliveira.  A exposição tem inspiração no antropólogo Claude Lévi Strauss, que ao ver a Baía de Guanabara pela primeira vez a definiu como uma “Boca Banguela”, e na resposta de Caetano Veloso ao antropólogo, em sua música “O Estrangeiro”, na qual diz que apesar de suas mazelas, a Baía de Guanabara é ao mesmo tempo bela e banguela. Duda também explica que “a exposição também busca esse tom de ressignificação. Trazer no belo cenário da Baía de Guanabara, a compreensão não necessariamente esteta do belo, mas os belos sentimentos que podem nos traduzir quando dialogamos com as mazelas desta. Deste modo nos tornamos, os únicos responsáveis por dignificá-la.” Ao ser perguntada sobre como se sente por estar expondo no MAC, Duda diz: “É uma exposição individual num museu padrão internacional, construído por um ícone da arquitetura, também mundialmente reconhecido. Estou tendo o privilégio como neta e filha do povo da pesca, de representar a nossa bela e banguela Baía de Guanabara.”


Foto: Reprodução blog da artista Duda Oliveira

De acordo com o site do MAC, além do “Boca Banguela”, o MAC está com mais duas exposições em vigor, o “Distopia” da fotógrafa Renata Xavier, em colaboração com a estilista Aline Ciafrino, a maquiadora Christina Gall e com participação da modelo e bailarina Suzana Quintanilha; e “Ressurgência” dos fotógrafos Luiz Bhering, Pedro Vasquez, Renato Moreth, e do arquiteto Mario Costa Santos. Todas elas com exibição até agosto. Ainda neste ano, o MAC tem planejado para setembro a exposição de aniversário do museu. Será uma grande exposição com a ideia de celebrar os 25 anos do MAC e os 90 anos do Cristo Redentor, os dois ícones da Baía de Guanabara. A ideia é celebrar junto com a coleção do museu, que está desde a fundação. Será uma exposição no salão principal que homenageará o cristo, uma na varanda ligando o cristo com o MAC, e no mezanino será a coleção permanente das obras do museu, juntando assim os “céus da Guanabara”, além destes também há planos para mais duas exposições no pátio.


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