Por Douglas Ribeiro
“Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda”. Esse é o 15º dos ODS (Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável) da ONU. O avanço do reflorestamento na cidade de Niterói segue em consonância com esse objetivo, e conta hoje com a contribuição do Projeto de Restauração Ecológica e Inclusão Social, iniciativa da Prefeitura que teve início em 2019. Após um ano em pausa, devido a pandemia de Covid-19, 2021 foi o tempo de retomar as atividades. Ao fim do projeto, com previsão de 4 anos, a Mata Atlântica da cidade de Niterói deve ter 203,1 hectares reflorestados.
No último sábado, 17 de julho, foi comemorado, no Brasil, o Dia de Proteção às Florestas. A data tem o objetivo de conscientizar sobre a importância de preservar áreas de vegetação, e está relacionada à lenda do Curupira, criatura do folclore conhecida como protetor das matas. Essa lenda, de estreita relação com a natureza, esboça a essência de um país conhecido por suas belezas naturais e, em consequência, uma nação com desafios ainda maiores na seara ambiental. Do início da colonização até a atualidade, a Mata Atlântica, sua fauna e sua flora foram atingidas pela expansão agrícola e intensa ocupação urbana, sendo testemunhas do caminho percorrido em nome do progresso. Segundo dados do INPE, o bioma possui hoje apenas 12,4% do seu tamanho original, e demanda atenção.
Nesse contexto, o surgimento de iniciativas como o Projeto de Restauração Ecológica e Inclusão Social, em Niterói, representa um elo significativo na rede de proteção à Mata Atlântica. O projeto teve início a partir do apoio do BNDES, por fundo não reembolsável, após classificação da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade (SMARHS) em edital de 2015. Conforme informado pela SMARHS, a iniciativa contempla a recuperação de 30,37 hectares de vegetação nas ilhas Pai, Mãe, Menina (Filha) e do Veado, inseridas no Parque Natural Municipal de Niterói (Parnit) e no Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset); 65,30 hectares de manguezal no entorno da Laguna de Itaipu e Piratininga, inseridos parcialmente no Peset e no setor lagunar do Parnit; 21,16 hectares de vegetação de restinga em cinco praias do município (Itacoatiara, Camboinhas, Piratininga, Itaipu e Charitas); e 86,28 hectares de vegetação no Morro da Viração, em área inserida no Parnit.
A presença de áreas de mata, restinga e manguezais demonstram a diversidade da fitofisionomia de Niterói. “Se todas essas áreas estiverem preservadas você tem a manutenção de vários serviços. Manutenção climática, preservação da biodiversidade, tem o equilíbrio da paisagem, tem a proteção contra a erosão, que são importantes para a vida no ambiente. A vida, de modo geral, da fauna, da flora e do ser humano.” Afirma Janie Garcia da Silva, Coordenadora do Laboratório Horto-Viveiro (LAHVI), vinculado ao Instituto de Biologia da UFF.
A compreensão da vegetação como parte de uma rede de serviços ambientais é destacada ao observar a relação com os recursos hídricos, um tópico ressaltado na íntegra do projeto, que prevê, com o plantio da Palmeira Juçara, no Parnit, melhorar a qualidade e oferta de água. Janie Garcia explica que “a vegetação funciona como uma esponja. Ela retém a umidade no solo, permitindo que essa água infiltre no lençol freático. E daí você tem a formação de rios, a abertura de nascentes, e quando essas nascentes vão formando um volume maior vão surgindo os rios, e isso também vai abastecendo de umidade todo o ambiente em volta.”
A retomada das atividades do projeto ocorreu em março deste ano, na restinga de Camboinhas. Segundo a SMARHS, até agora cerca de 400 mudas de espécies de restinga já foram plantadas. Também já foi iniciado o plantio de juçaras no Parque Natural Municipal de Niterói (Parnit).
“A palmeira juçara é uma espécie chave, ela é uma chamada espécie bandeira. Uma espécie bandeira é quando ela traz outros bichos, outros organismos agregados dando importância à manutenção dela naquele ambiente.” Comenta Janie Garcia, Coordenadora do LAHVI.
Conforme ela conta, o LAHVI é um dos parceiros do projeto, capitaneado pela Secretaria de Meio Ambiente, e tem trabalhado fazendo estudos botânicos, caracterizando o ambiente e a vegetação. “Também na identificação botânica, na produção de mudas, e na capacitação de pessoal, de voluntários, moradores da Região Oceânica que estão colaborando no projeto. Eles vão ajudando nas atividades de plantio, manejo de resíduos que estão lá, que seriam de vegetação invasora e de lixo que tem no ambiente.”
Sobre a importância da inclusão social, através do voluntariado, a coordenadora do LAHVI comenta que “eles funcionam também como agentes multiplicadores, ou seja, repassam essa atividade e informam a pessoas do seu entorno e as pessoas do seu entorno também possibilitam que o conhecimento chegue a outras pessoas. Então tem um efeito multiplicador.” Janie destaca ainda a importância do projeto na capacitação acadêmica de estudantes da universidade, através de bolsas ligadas ao apoio do BNDES. Ela menciona, atualmente, a atuação de Silas Faria, do curso de Engenharia Agrícola/UFF, mas outros 4 alunos já passaram pelo projeto como estagiários.
“Esse projeto tem uma grande importância para o nosso município, porque contempla o reflorestamento de áreas essenciais para os ecossistemas em torno da Mata Atlântica. O trabalho dos jovens voluntários é essencial para o sucesso do programa, ao mesmo tempo que promovemos a inclusão social e a consciência ambiental das comunidades envolvidas. Escolhemos a área de Camboinhas para retomar o projeto e já estamos avançando na restauração da restinga”, explica o secretário de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade, Rafael Robertson, em declaração enviada pela assessoria de imprensa da SMARHS.
Atuando em parceria com a SMARHS, está um conjunto composto por órgãos da própria esfera municipal como a Companhia de Limpeza de Niterói (CLIN), a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SECONSER), e outras instituições como a Reserva Extrativista Marinha de Itaipu-Piratininga (RESEX), o Laboratório Horto-Viveiro da UFF (LAHVI) e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), além da Guarda Ambiental de Niterói.
Em relação à proteção das áreas restauradas, a SMARHS menciona a aplicação da economia circular durante as ações na Praia de Camboinhas, reutilizando resíduos ao invés de descartá-los. Um exemplo é o reaproveitamento do cacto do gênero Opuntia, que é invasor. Ao invés de ser descartado, está sendo reaproveitado e utilizado como barreira física para fechar a área e proteger a vegetação de carros e quadriciclos que costumavam circular pelo local. Posteriormente, o cacto também será usado para compostagem e manutenção dos nutrientes da restinga.
Em relação ao desafio de conscientização da população, a Coordenadora do LAHVI comenta que “seja a vegetação de mata ou de restinga, ela cumpre funções, os chamados serviços ambientais. Então é importante que a população entenda que a vegetação não é mato, simplesmente porque está num determinado local e ela não conhece. Essa falta de informação e a falta de valorização dos usos, da sua importância geram um impacto que o ser humano acaba acarretando pelo uso indevido daquele ambiente, pela falta de cuidado, de preservar, de valorizar aquele ambiente.”
Mais informações: https://www.smarhs.niteroi.rj.gov.br/restauracaoecologica
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