UFF realiza o IV Seminário Setembro Amarelo a partir do dia 20 deste mês
Por Cristiana Souza
A cada ano são registrados por volta de 12 mil casos de suicídios no Brasil. Entre os jovens, esse número só aumenta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicidio é a terceira maior causa de morte entre os jovens com idade entre 15 a 29 anos. Em razão disso, foi organizada, em 2014, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha Setembro Amarelo, para prevenção e redução desses números.
A Universidade Federal Fluminense (UFF) se preocupa com a saúde física e mental de toda sua comunidade acadêmica. Diante da ciência desses dados alarmantes, em 2018 ocorreu a primeira edição do seminário Setembro Amarelo UFF, que atualmente é coordenado pelo Fórum de Ações Coletivas em Saúde Integral (FACES) e pelo Movimento Felicidade Interna UFF (FIU).
O fórum surgiu da derivação do seminário Setembro Amarelo e tem como meta unir projetos de extensão e promover a integração de todas as ações de saúde que são feitas dentro da Universidade, reunindo servidores, técnicos administrativos, docentes e estudantes de graduação e pós graduação para propiciar o debate e a reflexão da saúde dentro da comunidade e para fora dela.
O FACES também trouxe junto ao Núcleo de Pesquisas sobre Psicanálise e Conflito (PSIC) em parceria com a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAES) e outros colaboradores, nos dias 24 a 26 de fevereiro deste ano, o primeiro UFFestival das Emoções, que tem como objetivo debater as questões sob a mesma temática, proporcionando a oportunidade de expor trabalhos artísticos/culturais de caráter imagético, multimídia e literário e permitindo a possibilidade de troca das emoções vivenciadas pelos participantes no período de um ano de isolamento social.
Entre os dias 20 a 24 deste mês, terá início o IV Seminário Setembro Amarelo da UFF. O evento conta com debates e exposições com palestrantes de diversas áreas com o tema “Entre o luto e a Luta na Pandemia”, cujo objetivo é promover a discussão, reflexão, bem como a elaboração de propostas de atuação que tenham como foco a questão da saúde coletiva. Serão abordados cinco questões principais: políticas públicas/vigilância em saúde e suicídio, isolamento e suas diversas proporções na pandemia, o valor da vida, o luto e seus processos e, por fim, a luta no campo da saúde.
O seminário será online e gratuito. As inscrições para a participação já começaram e se estendem até a próxima sexta-feira (17 a mesa de abertura sobre a temática “Capitalismo e pandemia: o privilégio do sofrimento” que terá início às 16h. Os trabalhos científicos submetidos que forem selecionados serão publicados nos anais do evento.
Rachel de Carvalho de Rezende, membro da comissão organizadora do Seminário, relata sobre a ideia por trás da criação do evento. Ela afirma que é um período em que se atribui maior destaque à prevenção do suicidio. “Está em voga a questão do suicidio, está em voga a saúde mental, mas precisamos lembrar que a saúde mental não existe somente em setembro, como em janeiro, como temos o Janeiro Branco”, diz a enfermeira. Sendo assim, é necessário não restringir o debate do assunto apenas a esses dois meses, mas sim esticar esse momento de reflexão para o ano inteiro.
Rachel acrescenta, ainda, que aproveita o espaço disponibilizado pela faculdade e da visibilidade dada a temática neste mês para falar das prevenções do suicidio e o processo de se chegar ao ato, além de retratar também a importância de afastar esse tabu em volta do tema, bem como as outras questões ao entorno que levam ao suicídio, como os “problemos de adoecimento mental: as depressões, a ansiedade no momento em que se vive (...) o suicidio não surgiu por si só, é uma questão de multifaces”.
O evento tem como foco a questão do luto e da luta. A luta, em prosseguir sobrevivendo nesse momento difícil, tanto na política quanto na saúde, e do luto, não só pelo luto que o sucidio provoca como também pela perda de milhões de pessoas mortas com a COVID-19, além da perda “pela vida largada, nossos sonhos e desejos largados (...) nada mais importante do que trazer esses assuntos para o seminário”, como conta a integrante da comissão.
Quando perguntada sobre as causas que levam ao suicidio entre os jovens, Rezende atribui fatores como a mudança e o afastamento do contato humano à modernização da sociedade. Para ela, esses jovens acabam tendo que acompanhar a rápida tecnologia, aumentando o nível de ansiedade. Segundo a integrante da comissão, eles ainda estão em formação e não criaram ferramentas de proteção que os adultos já possuem para enfrentar a pressão do dia-a-dia, podendo aumentar o número de jovens com depressão e doenças relacionadas à ansiedade. Além disso, fatores como "ocorrência de bullying, violência sexual, doméstica é uma crescente que estimula adoecimentos mentais e gera pensamentos suicidas, além da falta de acolhimento e escuta que a sociedade não consegue dar e a pandemia que acaba aumentando os problemas já existentes.”
Ela concluiu dizendo que dar esperança de como e onde buscar ajuda, a não banalização do tema, a promoção e criação de programas de saúde melhores e uma melhor comunicação e acolhimento dado por parte da sociedade são algumas medidas que auxiliam na prevenção ao suicídios entre esses jovens.
Foto: Retirada do site oficial do Seminário.https://www.even3.com.br/dolutoaluta/
Pensando na promoção de saúde durante esse período de pandemia, a UFF também passou a disponibilizar atendimento gratuito de escuta psicológica pontual para todos os docentes, estudantes, técnicos administrativos e dependentes dos servidores. O serviço é realizado por psicólogos da Divisão de Assistência à Saúde e um dos parâmetros para fazer as consultas é não faltar por três vezes sem justificativa prévia. O atendimento é feito online, através de um formulário de inscrição e os 50 primeiros inscritos podem desfrutá-lo.
A aluna do curso de Jornalismo da UFF e também graduada em Publicidade pela instituição, Cláudia Magalhães, conta que sentiu a necessidade de recorrer ao atendimento psicológico devido à ansiedade gerada durante a realização de seu trabalho de conclusão do curso (TCC), em abril de 2020. No entanto, ela diz que esse não foi o único motivo por trás da busca de um apoio especializado. Ela atribui que o isolamento social provocado pela pandemia da COVID-19 ajudou a potencializar o seu “problema”, visto que não há, no momento, uma forma de “válvula de escape” para aliviar a pressão com o denso processo de pesquisas e a pressão adquirida com o trabalho final de curso.
Imprescindível ressaltar, também, que autocuidado se faz importante, principalmente no atual contexto. Caso esteja passando por problemas que abalem seu bem-estar, faça como a publicitária e procure por serviços gratuitos que realizam apoio emocional, como o atendimento psicoterápico a pacientes no Ambulatório Clínico do SPA e o programa “Pode Falar”, criado pela UNICEF, com outras instituições brasileiras de apoio como o Centro de Valorização da Vida (CVV), o qual possui parceria com a UFF, disponibilizando atendimento de forma confidencial, destinado aos adolescentes e jovens entre 13 e 24 anos.
O evento acontecerá no Canal do Youtube Setembro Amarelo UFF, disponível abaixo:
https://m.youtube.com/channel/UCk-rgxgKExUIbYRYCDdVkqw
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