A reabertura dos espaços culturais em Niterói

Por Letícia Souza

Foto 1: Museu de Arte Contemporânea de Niterói, CineUFF, Museu Janete Costa e Reserva Cultural, respectivamente.

Reprodução: O Fluminense, Brasil de Fato, Cultura Niterói, Reserva Cultural.






A cultura de um povo reside nos saberes, hábitos, conhecimentos e tradições e alguns locais podem atuar como centros de acesso às exposições e manifestações desses elementos. O contato com a arte e lazer são essenciais para a vida em sociedade, pois, além de alterarem nosso modo de ver o mundo e lidar com o próximo, nos auxilia a enfrentar momentos de crise. É possível notar o quanto esses momentos são importantes ao observar a reabertura dos espaços culturais de Niterói e o crescente interesse do público após o período de isolamento social devido ao Covid-19.


Por um período maior que um ano durante a pandemia do Coronavírus, os espaços culturais da cidade fluminense estiveram com as portas fechadas, o que nunca havia ocorrido antes. Os locais de socialização e exposição de arte paralisaram as atividades em março de 2020 e alguns só voltaram a reabrir em agosto de 2021, como o Museu de Arte Contemporânea e o Museu Janete Costa de Arte Popular. Essa reabertura ainda acontece de forma gradual, seguindo as três fases do "Programa Novo Normal Niterói". Atualmente, em novembro, a cidade está na segunda fase, em que o uso de máscara em atividades ao ar livre foi liberado, bem como a ampliação do público em eventos e a exigência do comprovante de vacina para locais fechados, como salas de museus, casas de festa e cinema. Com a garantia de 100% da população acima de 12 anos já imunizada com a primeira dose da vacina contra o Covid-19, percebe-se entre os habitantes um maior interesse e segurança em voltar a frequentar os lugares culturais da cidade, porém esse público ainda não é grande.


Segundo Valesca Velloso, assessora em Eventos Culturais do gabinete do Vice-Prefeito, a frequência de visitação do público em Niterói alterou bastante nos últimos meses. Ela explica que, ainda no meio do ano, alguns espetáculos nos teatros, salas culturais e exposições artísticas ocorriam por meio de transmissões online e, por vezes, poucas pessoas eram autorizadas a comparecer presencialmente. Agora, as lives são mais raras e curtas, o que convida os espectadores a comparecerem nos locais. No entanto, apesar do avanço da imunização, o público ainda não é grande como no período pré-pandêmico, principalmente nos eventos pagos. Além disso, o passaporte de vacinação atua de forma muito eficaz para controlar a transmissão do vírus Covid-19 e oferecer maior segurança à população, mas, de acordo com Valesca, "muitos não têm o hábito de ter em mãos este comprovante", impedindo sua presença em locais fechados.

Foto 2: Aviso de passaporte vacinal na cidade de Niterói.

Reprodução: Arquivo Pessoal


Embora os espaços culturais de Niterói estejam oferecendo várias novidades para impulsionar a presença do público com a reabertura gradual, sem deixar de lado as medidas de segurança e higiene contra o vírus,  infelizmente o movimento ainda não é dos maiores. Nesse sentido, Jade Guiet, aluna de Turismo da Universidade Federal Fluminense e funcionária do Museu Janete Costa, acredita que muitas pessoas ainda têm receio de frequentar locais fechados, além da mudança de hábitos ocorrida no período em que todos estavam impossibilitados de realizar a visitação. "Pelo menos na minha experiência trabalhando no museu, a quantidade de visitantes que a gente tinha antes da pandemia e agora mostra que as pessoas perderam o interesse, elas pararam de ir, muitas perderam o costume e não vão mais. Acaba sendo algo social, sabe? Você passa tanto tempo sem fazer uma coisa e acaba perdendo a vontade", completa a aluna.


O impacto do fechamento dos espaços culturais foi sentido em vários âmbitos - social, econômico e cultural. Niterói pode ser considerada uma cidade turística, portanto, com as portas fechadas de vários museus e parques, a diminuição da movimentação de pessoas, inclusive dos estudantes da UFF, e do comércio provocou e ainda provoca grandes diferenças. Levando também em consideração a adoção do ensino remoto pela universidade, vigente até os dias atuais para a maioria dos cursos de graduação, a ausência dos jovens foi muito marcante. Para Matheus Cambraia, aluno de Turismo, seu hábito de frequentar os locais culturais foi prejudicado durante o tempo de isolamento: "Eu em 2018, 2019, frequentando a faculdade presencialmente, sempre ia no Espaço Niemeyer, de vez em quando ia no MAC ou na Reserva Cultural, quando tinha uma sessão mais barata com um filme histórico. E sempre você via uma pessoa até mais jovem, colegas de faculdade indo para um lugar assim."


É triste que o interesse pelas atividades culturais ainda não seja tão forte entre a população, pois esses momentos de lazer podem ser muito positivos para a vida dos indivíduos. Porém também é compreensível que nem todos já se sintam confortáveis e seguros para voltar a sair de casa. Conforme opina Matheus, muitas pessoas podem ter sido psicologicamente abaladas diante da crise de saúde no país provocada pelo Coronavírus, ainda cultivando certo medo de visitar os espaços culturais, confirmado por Jade e Valesca pelas experiências trabalhando em contato direto com o público. Jade afirma que "tanto economicamente quanto socialmente, a população [de Niterói] diminuiu por causa da falta de estudantes e isso também afetou todas as esferas da cultura, porque muitas delas dependiam dos jovens, ainda mais dos estudantes."


No entanto, o que antes fazia parte da rotina dos alunos, frequentar locais como salas de cinema, exposições, bibliotecas, praias ou até mesmo a praça da Cantareira próxima ao IACS, e deixou de acontecer com as aulas online, pode voltar a ser realidade nos próximos meses. A expectativa do retorno das atividades presenciais nos campus da UFF cria também a esperança de maior movimentação nos locais de cultura da cidade. Valesca, Jade e Matheus acreditam que com o possível ensino presencial e maior circulação dos alunos, o cenário cultural da cidade tende a mudar para melhor, ainda seguindo as normas de segurança indicadas pela prefeitura. Para Jade, "muitos estudantes nunca vieram a Niterói, na UFF e acho que se eles puderem frequentar os espaços culturais em volta, eles vão querer experienciar isso e a cidade, ainda mais quem passou muito tempo longe. Eu acho que vai ser um boom e acho isso muito bom porque vai valorizar um pouco esses locais que ficaram tanto tempo às vezes vazios ou com poucas pessoas."


Foto 3: Público na Feira cultural de Moda no espaço da Reserva Cultura de Niterói.

Reprodução: Reprodução do Instagram da ITB Feira de Moda.



Apesar disso, não há como perder de vista também o risco das novas variantes do Covid-19. Devido ao pouco conhecimento a respeito da nova variante Ômicron, a situação do funcionamento dos espaços e eventos culturais pode-se tornar um pouco instável. De acordo com Valesca, "o Comportamento das Comissões Organizadoras de Eventos vai seguir exatamente as autoridades em Saúde do Município." Há chances da nova onda do vírus afetar mais uma vez todos os âmbitos da sociedade, mas o governo da cidade e a Fundação de Arte de Niterói (FAN) pretendem seguir com todos os cuidados e, se preciso, ajustar o funcionamento dos espaços às novas necessidades para conter o avanço de casos de Coronavírus provocados pela variante.


O período de isolamento social e a restrição a vários locais culturais da cidade mostraram a importância desses elementos de socialização e arte para o bem estar das pessoas. O público, apesar de ainda ser pequeno, passou a valorizar não só museus e teatros, mas também praias, parques e espaços públicos de lazer, e é esperado que cada vez mais habitantes voltem a se interessar pelos eventos. É essencial que a segurança de todos seja mantida, mas o avanço da vacinação, passaporte de imunidade e normas rígidas de distanciamento, promovidas pela prefeitura de Niterói, permite o cultivo de certa esperança nos próximos meses e a volta dos momentos de socialização entre todos.

 

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