Por Francielly Barbosa
Foto 1: Tela de uma sala de cinema no Cinemark – Plaza Shopping
Reprodução: Arquivo pessoal
São cerca de 10 minutos de caminhada do Terminal Rodoviário João Goulart, no centro de Niterói, ao Plaza Shopping, onde se localiza o Cinemark, um dos maiores cinemas da cidade e que revive com o ânimo do público neste final de ano. Mas esse não é o único, Niterói é uma cidade de telas: antigamente era repleta de cinemas de rua que, com o passar do tempo, migraram para o interior de centros comerciais — os shoppings — e espaços culturais. Contudo, apesar da mudança para locais reservados, não perderam seu caráter mágico, como comprova o Kinoplex, no Bay Market Shopping, e o cinema da Reserva Cultural, que também passam por esse retorno do público.
Com o início do isolamento social em razão da pandemia de covid-19, as grandes telas de cinema no município estiveram vazias a partir de março de 2020. Nesse período, não apenas os telespectadores, mas também os funcionários desses espaços sofreram com o fechamento. Edson Antônio, que trabalha na empresa Kinoplex, em ligação relata que existia incerteza sobre o que fazer: “O cinema foi fechado por 15 dias, mas esse período foi adiado por mais 30 dias. No fim, as salas permaneceram fechadas até o início de 2021”. Já Liliane Rodrigues, do Cinemark, conta que sentiu desespero. “Tinha acabado de retornar do auxílio maternidade e
uma semana depois [o cinema] fechou. Pensei que nunca iria retornar”. No entanto, enfim voltaram.
Segundo decreto da Prefeitura de Niterói, as salas de cinema poderiam retornar a partir de outubro de 2020, após 6 meses de filas vazias para compra de ingressos, respeitando uma série de restrições que incluíam o distanciamento social entre as cadeiras, a exigência do uso de máscara e menor capacidade de telespectadores. “Ele reabriu, mas com quadro de funcionários reduzidos e de público também”, confirmou Liliane.
Foto 2: Homem de máscara aguarda início da sessão do filme “Marighella” no Cinemark – Plaza Shopping
Reprodução: Arquivo pessoal
O movimento, no início, mesmo com ciência de que a quantidade de pessoas seria inferior aos anos anteriores à pandemia, não correspondeu ao esperado. Para Liliane, o momento não era apropriado por esse fator e acrescenta que um dos motivos não era somente a falta de lançamentos de grande apelo comercial, como Edson comenta, “mas sim porque muitos perderam seus entes queridos”. Por um doloroso período, o cinema, ambiente que, como toda forma de arte, funciona como espaço de reflexão e como portal para outra realidade, não foi o suficiente para abraçar os corações preocupados após quase dois anos de isolamento, despedidas repentinas e inseguranças.
Amandy Maia, estudante do curso de Cinema e Audiovisual na UFF, conta que antes da pandemia frequentava bastante as salas de exibição, especialmente do Centro de Artes da UFF e da Reserva Cultural, porém, no momento, ainda evita voltar a visitá-las por receio de como essa retomada está sendo feita. Quando perguntada se acredita ser seguro o retorno desse
hábito, respondeu: “Depende de como o cinema está se comportando em relação ao público. A gente como espectador tem que ter o cuidado de escolher sessões mais vazias, usar sempre álcool em gel, não comprar comida para evitar tirar a máscara”. Para ela, os dois lados devem estar em sincronia — tanto os espectadores quanto as empresas — nesse processo. “Tem que ser uma retomada inteligente”.
Dessa maneira, diante da impossibilidade de frequentar os cinemas físicos, uma alternativa foram plataformas de streaming e sessões de filmes com familiares ou amigos. “Não só plataformas de streaming, mas salas de vídeo, aplicativos como Rave e até mesmo [assistir] de forma sincronizada, colocando o filme, ou série, ao mesmo tempo e comentando as cenas por ligação ou mensagem [com amigos] durante e após a sessão”, explicou Bernardo Vilela, também estudante de Cinema e Audiovisual na UFF. Em seguida, reforça que assistir filmes em casa, entretanto, não é o mesmo que ir ao cinema: “O cinema é uma experiência, é sair da rotina. Primeiro, o cinema não é dentro da sua casa, às vezes você está muito tempo dentro de casa, está cansado disso, então você quer sair, e cinema tem lançamentos, tem esses filmes que só vão estar lá”. Para ele, os streamings continuarão, mas não a ponto de impactar o movimento nas salas de exibição. “Pro streaming existe um público e existe um público fiel ao cinema”.
Nesse sentido, outro aspecto do cinema é funcionar como válvula de escape para os problemas que a pandemia trouxe — a ansiedade e o estresse em casa, somados à monotomia do EAD e do home office, por exemplo. De acordo com Amandy, “qualquer tipo de arte pode funcionar como válvula de escape”. O cinema, como filme, tem destaque por ser mais acessível e “a experiência de ir ao cinema é muito terapêutica”, continua ela. Já Bernardo afirma: “Você vê outras histórias, outras coisas, e isso faz você se desligar, ainda mais quando é um filme envolvente. Com certeza você consegue se libertar daquilo, mesmo que seja por pouco tempo, 1h ou 1h30. Você sai com novas histórias, está vivendo outras coisas, se a vida está monótona, está parada, não acontece nada, você está de saco cheio, vai ver uma coisa nova. Mesmo que você não goste do filme, você conseguiu sair dessa rotina”.
Assim, a ansiedade para essa volta aos cinemas existe, tanto para aqueles que trabalham nesses locais, quanto para aqueles que amam assistir filmes. Edson compartilha que nesse retorno às salas, no Kinoplex, assim como no Cinemark, de acordo com Liliane, e como em outros espaços culturais em Niterói, é exigido o cartão de vacinação com as duas ou mais doses (ou dose única) contra covid-19 ou a versão digital do documento presente no aplicativo Conecte SUS. Desde o início, implantou-se o uso da máscara, cuja obrigatoriedade não diminui o caráter fantástico do sonho cinematográfico. “O público está voltando”, diz Liliane, “‘Eternos’ teve um público bom, mas o relançamento de ‘Harry Potter’ terá um público maior ainda”. Para Edson, a mesma coisa: apesar do oscilamento no movimento, a expectativa é de um maior número de pessoas em dezembro de 2021, com o lançamento de “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” (Jon Watts, 2021) e o relançamento de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (Chris Columbus, 2001).
Foto 3: Pôster do filme “Marighella” (Wagner Moura, 2019)
Reprodução: Arquivo pessoal
E como outros amantes da sétima arte, Amandy compartilha em ligação, com ar encantado, que “o cinema é uma experiência maravilhosa e é uma experiência coletiva”, o que apenas o torna mais especial. Há a risada das pessoas quando uma cena engraçada passa na enorme tela, o susto da sala inteira durante um filme de terror ou as palmas ao final de uma obra comovente, como ocorreu na sessão do filme “Marighella”, no dia 27 de novembro, no Cinemark. Não havia mais que 10 pessoas na sala, mas o número reduzido não impediu aquele pequeno grupo de desconhecidos de se emocionarem juntos. São esses e muitos outros detalhes que tornam o cinema uma vivência única e necessária, que fez falta. O entusiasmo nesse final de ano é mais do que compreensível e aguardado.
Confesso que não tenho interesse mas o ver seus comentarios
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