Como o povo e a cultura negra são representados nas diferentes vertentes artísticas no país.
Por Yasmin Martins
Escravos, empregados, personagens secundários e pessoas violentas são algumas representações do povo preto nas artes brasileiras. Isso se deve ao racismo estrutural, que tem, como consequência, uma estereotipização e invisibilização da cultura negra no país. Fazendo com que a sociedade se sustente nesse argumento para não se responsabilizar sobre suas ações.
Foto 1: Colagem feita pela artista Cecile Mendonça
Reprodução: Instagram @picortes_
“Do ponto de vista da produção artística, a maioria das pessoas não tem ideia de quantos artistas pretos se destacavam no Brasil antes do século XX, muitas vezes porque esses artistas não tinham acesso à Academia, outras vezes porque não era permitido que suas obras fossem identificadas e assinadas”, comenta a professora de artes, Cecília Barreto. Dessa forma, pode-se perceber que a cultura negra foi muito invisibilizada no decorrer do tempo e, com isso, suas representações foram extremamente limitadas.
A arte como uma forma de identidade
Há muitos séculos, a arte é utilizada como maneira de expressão. Tendo isso em vista, muitos artistas negros utilizam da música, atuação, escrita, poesia, dança, pintura, entre outros, como forma de transmitirem seus pensamentos, sua cultura e ancestralidade para o mundo. Com isso em mente, pode-se mencionar o exemplo da artista e estudante de Jornalismo da UFF, Cecile Mendonça. “Eu comecei a fazer as minhas colagens na pandemia, porque eu tive um certo problema com o fato de não estar fazendo nada. Eu vi na colagem uma outra forma de expressão que pudesse, de certo modo, colocar para fora o que muitas vezes fica entalado na minha garganta, coisas que eu sinto e que talvez outras artes não conseguem abarcar”, afirma.
Movimentos de resistência
Foto 2: Cartazes dos filmes Medida Provisória e Marighella
Ao longo dos séculos, a principal forma de combater uma ameaça comum foi reagir. Por meio dos movimentos de resistência, muitos direitos foram conquistados para diferentes grupos da sociedade, entre eles para a população negra. Entretanto, a luta está longe de acabar, já que casos de racismo e sabotagem, principalmente de obras mais críticas, continuam acontecendo diariamente em todo o país. Um caso que vale ser citado ocorreu em Cabo Frio, cidade pertencente à região dos Lagos no Rio de Janeiro, em abril deste ano.
O Shopping Park Lagos não planejava passar o filme Medida Provisória, dirigido por Lázaro Ramos, em seu cinema. Assim, o Movimento negro Perifa Zumbi e o Movimento de Mulheres da Região dos Lagos juntaram-se para cobrar sua exibição com o objetivo de possibilitar o acesso de centenas de jovens à cultura negra e nacional. Além de promover o debate sobre discriminação racial através da cultura. “‘Medida Provisória’ é o primeiro filme brasileiro que tem a maioria de profissionais negros na frente e por trás das câmeras. É um marco na história do nosso cinema. Além disso, temos o fato de que o filme sofreu uma ‘dificuldade’ no cumprimento das exigências pela ANCINE. E como já tínhamos anteriormente experimentado o boicote com o filme ‘Marighella’, nos sentimos convocados a fazer diferente”, disse Tamara Mariano, integrante do Movimento negro Perifa Zumbi.
O que esperar do futuro
“Um futuro mais esperançoso, sobre a tomada da nossa consciência racial que estava adormecida e da importância de protagonizarmos a luta através do coletivo. Há um reavivamento da nossa autoestima quando nos sentimos representados por artistas negros que usam a arte como instrumento de conscientização sobre a problemática racial. E empoderam outras pessoas negras, seja através de um personagem ou da mensagem passada através da letra de uma música, como também todo saber que é deixado registrado nos livros”. Com essa fala de Tainara Oliveira, também integrante do Movimento negro Perifa Zumbi, é perceptível como é de extrema importância reconhecer e dar voz a essa cultura na sociedade.
A representação negra na arte evoluiu bastante no decorrer da história, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido para que ela seja respeitada e posta em mais lugares de protagonismo. Tendo isso em vista, conhecer a trajetória de cineastas como Grace Passô, Safira Moreira e Yasmin Thayná, além de assistir documentários como “Deixa na Régua”, recomendados por Lucia Monteiro, professora de cinema da UFF e Maria Luísa Fonseca, estudante de cinema da UFF, é de extrema importância para a visibilidade e o reconhecimento da cultura negra nas diferentes vertentes artísticas do nosso país.
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