Como o aumento do engajamento dos jovens na política tem impacto direto nas eleições de 2022 e no futuro do Brasil.
Por Rafaela Marques
Foto 1: Jovem tirando o título de eleitor virtualmente
Reprodução: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil
Mudança, conscientização, esperança, ou até mesmo, a falta dela. Esses são alguns sentimentos utilizados por dois jovens de 17 anos após serem questionados sobre a importância e suas expectativas quanto às eleições de 2022. Ainda que com pontos de vista diferentes, Isabel e Thiago têm algo em comum: o direito de escolha ao voto. Sob a pressão de decidir o futuro do país, a juventude tem mostrado cada vez mais a vontade de participar ativamente da política brasileira e, por mais que existam exceções, os números mostram que em 2022 as eleições terão um importante grupo como agente: os jovens.
Para entender o que levou a juventude a se mobilizar, e como essa mobilização ocorreu, é necessário resgatar alguns pontos da política brasileira que influenciaram diretamente nas campanhas de retirada do título eleitoral. O ponto determinante para que a insatisfação do público se estabelecesse foi a forma como o atual presidente da República tratou a pandemia da COVID-19, que teve início no Brasil em março de 2020. A partir da falta de políticas públicas imediatas e falas negacionistas como "Muitas [vítimas] tinham alguma comorbidade, então, a Covid apenas encurtou a vida delas por alguns dias ou algumas semanas", Jair Bolsonaro, que já contava com uma forte oposição devido ao seu histórico preconceituoso, aumentou o descontentamento dos jovens em relação ao seu governo.
Como resultado de um mandato cheio de polêmicas e descaso, uma grande movimentação nas redes sociais, comandada principalmente por artistas brasileiros com grande visibilidade midiática como Anitta, Djonga e Bruna Marquezine, e até personalidades internacionais como Mark Ruffalo e Leonardo DiCaprio, surgiu com o intuito de incentivar que a juventude tirasse o título de eleitor até o dia 4 de maio de 2022 e exercesse o seu direito ao voto nas urnas em outubro.
Segundo o professor e sociólogo Bruno Drumond, “Essa decisão pela concretização do direito ao voto facultativo, tem a ver com o fato de um desejo por mudança e um desejo de resposta desse movimento por mudança. Ou seja, de retomada dos rumos do país a partir dos interesses das minorias sociais, da classe trabalhadora e do povo preto periférico, que vem sofrendo mais ainda do que historicamente já sofreu, em função da desigualdade econômica e da pandemia da COVID-19”. Por outro lado, ele destaca que é importante lembrar que uma parte dessa juventude, também tirou o seu título para votar a favor do atual presidente na tentativa de mantê-lo no poder, uma vez que o movimento contrário a ele tem se mostrado cada vez mais forte.
Foto 2: Tweets da cantora Anitta em prol da retirada do título
Reprodução: Anitta via Twitter
Ao fim das campanhas e do prazo para retirada do título, os números provam que a mobilização deu certo. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de jovens entre 16 e 18 anos que tiraram o título de eleitor nos 4 primeiros meses do ano cresceu cerca de 47,5% em comparação ao mesmo período em 2018, e, 57,4% em comparação a 2014, o que mostra que, cada vez mais, os jovens têm buscado participar da política, independente do posicionamento que tenham. Esse aumento no número de jovens que tiraram o título é um parâmetro também do que está por vir.
Questionado sobre qual será o papel da juventude nas eleições de 2022, Bruno destaca: “A participação dos jovens nessa eleição de 2022, que será a mais importante da história da República, será decisiva. Acredito também que será uma disputa acirrada dentro do contexto da juventude em que a maioria ainda tem uma visão de mundo mais ampla, mais progressista. Mas, existe outra parte da juventude que sonda com os valores reacionários de um passado bastante nebuloso e que representa essa extrema direita no mundo em que vivemos. Então vai ser uma polarização interessante do ponto de vista sociológico.”
Mas e os jovens que não tiraram o título? É preciso entender as razões por trás dessa decisão. Thiago Gabriel Belusso, estudante de 17 anos, responde: “Prefiro preservar meus valores, a ter que votar em pautas que não concordo”. De acordo com o jovem, que disse não ter acompanhado as campanhas pela retirada do título, por mais que não concorde com Bolsonaro, se viu sem opções em uma eleição polarizada entre Bolsonaro e Lula.
Em contrapartida, Isabel Cortez, jovem de 17 anos e aluna de Publicidade da UFF, tem um posicionamento bem diferente. “Em relação ao voto, eu acho muito importante que os jovens, sendo legalmente obrigados ou não, votem, porque é uma das formas de participar na construção da sociedade”. Quanto aos jovens, Isabel acredita ser essencial o processo individual de buscar informação sobre o que acontece no Brasil e no mundo, sobre os candidatos e as demandas sociais, e questionar tudo isso. “Assim a gente consegue se enxergar dentro da sociedade e pensar em como podemos ajudar o coletivo, participando das eleições de forma consciente, apoiando movimentos sociais, estudantis, etc”, completou
Comentários
Postar um comentário