Ainda que a UFF ofereça serviços para garantir maior acessibilidade, o caminho para a inclusão de deficientes na universidade continua longo.
Por Bruna Aragão
Foto 1: estudante ajuda na locomoção de Pessoa com Deficiência na UFF
Reprodução: Secretaria de Acessibilidade e Inclusão – SAI
Apesar do histórico de inclusão na Universidade Federal Fluminense ter começado em 2005, apenas recentemente, políticas que visam a garantia da acessibilidade foram implementadas na UFF, não conseguindo, assim, abraçar a todos que precisam. Com isso, membros da comunidade acadêmica Portadores de Necessidades Especiais relataram diversas dificuldades enfrentadas no dia a dia na faculdade.
A universidade moveu, ao longo desses 17 anos em busca da inclusão, inúmeras medidas que pretendiam garantir a equidade entre os alunos, desde a criação do Projeto de Extensão Sensibiliza UFF, em 2005, até a criação da Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense – Comissão UFF Acessível, em 2019.
Com isso, diversas ações foram mobilizadas. A Comissão criou o Plano UFF Acessível, sendo responsável pela implantação, monitoramento e avaliação da Política Institucional de Acessibilidade e Inclusão da UFF. Tendo como um de seus trabalhos mais recentes a Campanha UFF - Sua em Todos os Sentidos, realizada em 2020. A campanha foi feita a partir de diversas ações, desde postagens no feed e stories no Instagram, no Facebook e de outras atividades impactantes, como a “Aula sem som”.
Contudo, apesar das ações movidas pelos membros, os estudantes que precisam dessas ações e campanhas acabam, por vezes, não sabendo sobre elas. Na última semana, quatro estudantes portadores de deficiência foram entrevistados e, ao serem perguntados sobre o conhecimento de campanhas e eventos sobre acessibilidade na UFF, responderam que ou desconheciam tais ações e eventos, ou nunca participaram.
Ainda que a UFF tenha uma ampla Divisão de Acessibilidade que disponibiliza serviços e ações favoráveis à inclusão da Pessoa com Deficiência na vida acadêmica, Camila, estudante de Medicina Veterinária da UFF e portadora de deficiência auditiva, relatou dificuldades em relação ao acesso à informação sobre esses serviços oferecidos aos PcDs. “Não sei muito sobre isso, entrei em contato com a coordenação do meu curso, e não se pode fazer muita coisa, tive que falar com os professores e no fim não teve muita solução além de eu ter prioridade em sentar na primeira cadeira mais próxima do professor“, disse Camila.
O estudante do 4º período de Medicina Veterinária, Matheus Leite da Silva, afirmou não conhecer serviços além dos auxílios para a Pessoa com Deficiência (PcD), o qual ele acredita ser uma forma muito boa para ajudar os PcDs a continuarem na faculdade, porém não conseguem acolher a todos que precisam. Nesse âmbito, no último ano, somente 40 vagas do Auxílio ao Estudante com Deficiência foram abertas aos PcDs que se encontram em vulnerabilidade econômica, de acordo com site da UFF. Para Mateus: “O ruim é que acaba tendo poucas bolsas e nem todos os alunos PcDs conseguem. Fora que, assim como o restante das outras bolsas, acaba demorando muito para sair os resultados e isso prejudica as pessoas que necessitam desse dinheiro para se manter na faculdade”.
Após a Lei nº 13.409 dispor sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência nas instituições federais de ensino, a universidade se tornou um ambiente um pouco mais acessível, e a partir de 2021, 10% das vagas se tornaram destinadas às pessoas com deficiência, devido a projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados. Contudo, de acordo com site oficial, entre os mais de 45 mil alunos matriculados, a UFF possui apenas 414 estudantes com deficiência atualmente. Conforme relatou Mateus, este número é muito baixo: “Acredito que apesar de ter a lei de cotas para pessoas com deficiência, é um número de vagas muito pequeno para a quantidade de pessoas que são PcD e que querem entrar na faculdade. Então, acredito que isso acaba limitando a entrada de muitos à faculdade”.
Além disso, a estudante Camila afirmou não ter projetos amplos de inclusão de deficientes auditivos na UFF, por exemplo. Camila é PcD, com perda auditiva bilateral grau moderado e severo, e faz uso de dois aparelhos auditivos – esquerdo e direito. Ela não sabe libras, e faz parcialmente leitura labial, mas devido à obrigatoriedade de máscaras em sala de aula, a integração ao ambiente e nas matérias se tornou ainda mais complicada. “Ainda estou em processo de adaptação dos aparelhos auditivos também, [...] A maior dificuldade que tive, e ainda tenho, por vezes, é pelo uso da máscara que, além de abafar o som, não me deixa ver os lábios das pessoas. [... ] Os ares-condicionados também são muito antigos e barulhentos. Talvez tenham muitos outros problemas que eu acabei me acostumando mesmo sendo absurdos”. A estudante ainda questionou a estrutura dos campi, demonstrando que não engloba os PcDs, principalmente os que possuem alguma deficiência física.
De acordo com site da UFF, até o segundo semestre de 2017, 74,51% dos estudantes deficientes possuíam deficiência física. Não por menos, um fator bastante categorizado pelos alunos foi a frustração em relação à estrutura. Caio Cosmo, portador de deficiência motora e, também estudante de Medicina Veterinária, alegou que sua maior dificuldade é subir a escada do Instituto Biomédico para ir a outros blocos. “Caso haja alunos que usem cadeira de rodas ali, acredito que a acessibilidade seja quase zero”.
Segundo Lucilia Machado, que foi presidente da Comissão UFF Acessível de 2019 a 2021, durante seus quase 18 anos de luta pela inclusão na UFF, foram compradas salas e equipamentos que visam a acessibilidade, como a impressora em braille da Biblioteca Central do Gragoatá, lupa eletrônica, mesa tátil e outros instrumentos. Contudo, esses equipamentos precisam ser atualizados e repostos, porém com as verbas restritas pelo atual governo, o caminho para acessibilidade e inclusão se tornou ainda mais difícil.
A atual consultora externa da Comissão UFF Acessível, Lucilia, que sofreu um acidente de carro em 1999, se tornando tetraplégica, acredita que é preciso lutar, não apenas por verba, mas também para conscientizar e sensibilizar as pessoas acerca do tema da inclusão. Dessa forma, ela concluiu: “Uma das nossas reivindicações é que os direitos dos alunos com deficiência estejam incluídos no regulamento dos cursos de graduação, o que até hoje a gente não conseguiu. Então ainda temos que pedir a professores, por favor, para ampliar uma prova para um aluno com baixa visão. Por favor, deixe o aluno com cegueira usar o seu computador, com o seu software de leitura de texto para ele poder fazer a prova. Por favor, para uma aluna com nanismo ter direito a uma cadeira com o tamanho dela ou a um bebedouro acessível. Então, essa luta é para que a inclusão e a acessibilidade deixem de ser um favor! Que ela saia da teoria, e venha para a prática“.
Excelente matéria!!
ResponderExcluirOtima matéria!!! Me arrisco a dizer que foi feita pela melhor jornalista da UFF!
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