Após censura, exposição LGBTQIAP+ ganha visibilidade e fará circulação por Niterói

Após ataques de grupos conservadores, a exposição será exibida no Museu de Arte Contemporânea 


Por Danilo Azevedo



Foto: Exposição no corredor do Plaza Shopping antes de ser retirada 

Reprodução: Diego Moura


No mês de junho é comemorado o mês do orgulho LGBTQIAP+, com influência disso, o artista plástico Diego Moura foi convidado a realizar a exposição "Abecedário da Diversidade", no terceiro andar do Plaza Shopping, em Niterói. Menos de 24h depois do início da exposição aberta no corredor do shopping, um vereador de Niterói, Douglas Gomes (Partido Liberal), afirmou nas redes sociais que “as crianças estavam sendo sexualizadas pelo centro comercial”, após o ocorrido, as obras foram removidas pelo shopping e a situação foi comemorada pelo vereador na internet. 


Segundo Diego Moura, a exposição foi encontrada com poeira e cimento em uma sala do centro de comércio que estava em obras, tendo sido censurado. O principal intuito do “Abecedário da Diversidade” é informar sobre a causa LGBTQIAP+, incluindo homenagens e representações de diversos artistas, assim como Elton John, Ludmilla, Luísa Sonza, Preta Gil, Gloria Groove, Pabllo Vittar e o humorista niteroiense Paulo Gustavo.


“Nós já sofremos tanto diariamente por ser quem somos, não temos tanta representação, essas situações só confirmam o quanto a nossa sociedade é preconceituosa mesmo com tantos movimentos para reduzir isso”, disse Maria Luiza, jovem e homossexual. 


O Grupo Diversidade Niterói (GDN) realizou um protesto em frente ao shopping no dia 14 de junho, o que gerou uma maior comoção e conhecimento da causa aos que não tinham ciência do caso. No dia 15 do mesmo mês, ocorreu uma reunião entre o secretário municipal das Culturas, Alexandre Santini, o presidente da Fundação de Arte de Niterói, Fernando Brandão, Diego Moura, o comunicador Ricardo Rigel, diretor do Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, Victor De Wolf, e subsecretário da Coordenadoria Municipal de Diversidade e Combate à Intolerância Religiosa (CODIR), Felipe Carvalho. No encontro, Diego Moura ofereceu o conteúdo ao município para exposição, fechando assim um acordo para criação de um calendário de circulação da exposição em locais públicos e centros culturais de Niterói. 


“Já sofri homofobia por um pai de um amigo descobrir que fomos em uma festa LGBTQIAP+, em Saquarema. Na época fiquei muito chateado com a situação, por ter vindo de alguém que eu conhecia e considerava. Outra mais recente, por ter dado um beijo em público, fui ameaçado e o grupo que estava comigo interrompeu as ameaças mas ficou por isso mesmo”, afirmou Marley Brasil, secretário público e pertencente à comunidade LGBTQIAP+.


De acordo com a nota da Secretaria Municipal das Culturas de Niterói, o artista plástico niteroiense, Diego Moura, sofreu ataques homofóbicos de setores reacionários nas redes sociais, durante apresentação de sua exposição “Abecedário da Diversidade” em junho deste ano.


“Após o episódio, o artista recebeu do Museu de Arte Contemporânea (MAC) o convite para criar uma exposição específica para o Museu. Diego é morador de Niterói, tem seu trabalho reconhecido dentro e fora do Brasil, emprega referências da pop arte e do surrealismo em seus trabalhos e faz parte do hall de artistas da cidade que se encaixam no Plano Museológico do MAC, documento que é responsável por alinhar ações, projetos e programas do museu. A Secretaria Municipal das Culturas e a Fundação de Arte de Niterói ressaltam que a liberdade de expressão é legítima e qualquer tipo de ataque à arte e aos artistas deve ser repudiado”, informou a pasta. 



Foto 2: Encontro entre autoridades da cultura e o artista plástico criador da exposição, Diego Moura. 

Reprodução: Ascom - Niterói 


“Acho que a exposição é fundamental para quebrar o preconceito, como forma de luta por igualdade. É importante darmos o apoio para aqueles que muita das vezes querem ser quem elas são e não conseguem ter forças para isso”, finalizou Marley Brasil. 


O foco da sexualização da criança e adolescentes que não é o caso da exposição –, deveria ser abordado com a violência sexual, tão presente a sociedade, mas ao mesmo tempo vista como um tabu. De 2017 a 2020, 180 mil crianças e adolescentes sofreram violência sexual, com uma média de 45 mil por ano, segundo o Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil. Porém, devido a grande parte dos casos serem silenciados e não registrados, é provável que o panorama seja ainda maior.


A violência sexual de crianças e adolescentes que deveriam ser combatidas nas câmaras municipais, estaduais e federal, acabam sendo ofuscadas e esquecidas por conta situações em muita das vezes, assim como em Niterói, que presenciou um grande caso de preconceito tendo apoio massivo de um grupo. 


No mês de agosto, Niterói receberá a parada do orgulho LGBTQIAP+ e Diego Moura foi convidado para criar a identidade visual do evento. Além disso, o artista também foi convidado para realizar uma exposição no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o mais visitado da cidade. 


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