Estudantes movem manifestações contra os cortes orçamentários na UFF

Com cortes financeiros cada vez mais frequentes, estudantes se organizam para impedir que a universidade seja ainda mais prejudicada


Por Carolina Peres




Foto 1: Estudantes em manifestação contra os cortes em Petrópolis

Reprodução: Instagram @dce_uff


“É um ataque atrás do outro”, ressalta Yana Santana, coordenadora do DCE da UFF, em relação aos cortes na verba da universidade. No primeiro dia de junho, foi informado através do perfil no Instagram da UFF que o governo federal bloqueou R$ 27 milhões do orçamento da faculdade, o que foi motivo de grande revolta para alunos e servidores da universidade. 


A notícia do início de junho foi a mais recente, mas não a única. No site da UFF, está registrado um corte de aproximadamente R$ 32,9 milhões no orçamento de 2021. "A verdade é que a educação pública passa por cortes desde 2016, mas [...] esses cortes não eram tão significativos igual aconteceu no governo Bolsonaro”, afirmou Yana. Tamanho decréscimo é prejudicial não só para a qualidade de ensino, mas também para garantir a permanência dos estudantes.


Inúmeras questões podem ser citadas quando se considera o que é afetado pelos cortes orçamentários. Entretanto, um dos problemas de maior destaque nos últimos meses foi a disponibilidade dos auxílios financeiros, visto que entre as 3340 vagas ofertadas pelo PROAES para serem distribuídas entre todos os matriculados na universidade, muitos alunos tiveram seus pedidos deferidos, mas não foram contemplados devido à quantidade limitada de vagas. Esse foi o caso de Fernanda Souza, estudante do curso de Educação Física, que se inscreveu para o auxílio de transporte: “Então, foi muito ruim pois estou vendo com meus pais como iremos ‘se virar’ [...] para pagar o meu transporte esse semestre. E no próximo ou irei trancar o curso [...] ou terei que puxar apenas 1 ou 2 dias na semana para diminuir os gastos”.


O estudante de Ciências Sociais e militante, Cleiton dos Anjos, chamou a atenção para o fato da falta de verbas ecoar também nas condições da moradia estudantil. “A moradia tem sido cada vez mais sucateada, porém não tem como fingir que isso começou agora. Não tem manutenção, não tem internet (detalhe, estamos em um semestre híbrido). [...] Nada foi feito nessa direção, nem em melhoria, nem em manutenção por parte da atual gestão. O número de vagas é insuficiente, o número de alunos enfiados num mesmo quarto com aquela cama de concreto (literalmente) reproduzem uma estrutura de conflito e de estabilidade na saúde mental dos moradores (não à toa a saúde mental é uma pauta recorrente entre os moradores)”, contou Cleiton.


Os alunos consideram o movimento estudantil indispensável para a luta contra os cortes orçamentários e todas as problemáticas trazidas por eles. Yana explicou que dentro da UFF há várias forças de movimento estudantil, mas na maioria das vezes elas lutam pelo mesmo objetivo, seja contra os cortes orçamentários ou pela proposta de privatização. “Muitas pessoas que fazem parte do movimento estudantil não conseguem ter um bom diálogo com os estudantes a ponto de explicar para eles o que tá acontecendo, e aí é que eu acho que entra de fato a participação do DCE, dos centros acadêmicos, dos diretórios acadêmicos, que têm como forma principal sensibilizar os estudantes, comunicar a eles todas as situações que acontecem tanto dentro quanto fora da universidade”, explicou Yana.


Com isso, no dia 09 de junho, ocorreram manifestações contra os cortes orçamentários organizados e divulgados pelo DCE em diferentes polos da UFF em Petrópolis, Rio das Ostras e Rio de Janeiro. “A gente colocou a concentração do ato do Rio aqui em Niterói, no qual a gente saiu da UFF e andou em direção às barcas, falando palavras de ordem, contra o governo Bolsonaro, conscientizando a população, que se a UFF fecha os maiores prejudicados também será a população de Niterói. [...] Mas depois a gente pegou as barcas, e seguiu sentido à Candelária, no qual foi a concentração do ato no Rio”, Yana relatou. 


Já Cleiton não é vinculado a nenhum movimento, e atua de forma independente, conversando e conscientizando as pessoas presentes nos campi: “Fomos conversar em colegiado de professores (de filosofia, por exemplo). Fomos conversar com professores nas salas, nos campus. Fizemos denúncias aos estudantes no bandejão, nos pilots dos blocos, na frente da UFF. Foi jogando o corpo no mundo, no olho no olho, no boca a boca que temos construindo agendas de lutas. Inclusive, deixo registrado aqui o nome de Juliana Menezes, mulher preta cria da cidade de Deus que esteve do meu lado desde o início, Lavynia Delaroli cria de Itaboraí e filha de sindicalista que compôs essa luta, os companheires da UJC, juntos, do RUA, Correnteza, a galera do arraiá do ICHF, o NECS e tantos outros estudantes e coletivos que apareceram nesses espaços de luta e nas assembleias que vem sendo construídas”.


Vale ressaltar que as mobilizações do DCE já tiveram bons resultados anteriormente. Segundo Yana, a mobilização estudantil em 2019 impediu que o projeto Future-se que, segundo o MEC: “tem o objetivo de dar maior autonomia financeira a universidades e institutos por meio do fomento à captação de recursos próprios e ao empreendedorismo”. A proposta de lei não foi bem vista pelos universitários e por meio do movimento estudantil foi possível impedir que ela fosse implementada, evidenciando que a militância dos alunos é essencial em momentos de crise como esse.


É inegável que a qualidade de ensino e estrutural da UFF está ameaçada e a necessidade do envolvimento dos estudantes é urgente. Para ficar por dentro dos protestos organizados vale seguir o perfil @dce_uff no Instagram, pois, conforme proclamou Yana, “a luta não para por aí”.

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