Impactos da falta de investimento público nas aulas práticas da UFF

Diante das sucessivas intervenções nas verbas das universidades públicas pelo Governo Bolsonaro, professores e alunos expõem suas dificuldades com as aulas práticas


Por Isabela Barboza 


Foto 1: Aluno utilizando o computador do estúdio de vídeo do IACS na UFF

Reprodução: Arquivo pessoal


As aulas práticas são parte essencial da formação profissional dos discentes. No entanto, após anos de cortes orçamentários, feitos principalmente pelo Governo Bolsonaro, a possibilidade de atividades práticas se encontra prejudicada. Devido à má qualidade dos equipamentos e mudanças estruturais, alunos e professores da UFF compartilham suas frustrações com as experiências nas aulas.


De acordo com o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), entre 2019 e 2021, a verba destinada às universidades federais sofreu uma queda de R$6 bilhões. Tal perda de capital, investido na educação, afeta diretamente a qualidade das aulas.

 

Segundo o aluno Vitor Machado, estudante de Medicina da UFF, as condições de ensino necessitam de reformas: “Creio que nesse tema, a maior falha na formação do curso de medicina seja a qualidade precária das peças anatômicas e a falta de peças. É um problema já velho no curso, e todas as turmas reclamam disso. Já em sala de aula, problemas já frequentes na faculdade como um todo, cadeiras quebradas, projetores mal regulados… Em especial o banheiro do Departamento de Morfologia em estado deplorável com cabines interditadas e quebradas, sem expectativa de conserto”. 


Já no campus de Artes e Comunicação Social, o professor de fotografia Rômulo Correa, discorre sobre a situação das aulas práticas na UFF: “Os equipamentos são adequados, mas eles foram adquiridos em 2010, ou 2011. Então, já tem 10 anos sem aquisição de equipamentos. A falta de investimento é tão complexa que, por exemplo, os cartões de memória que os alunos usam eu tive que comprar. As únicas coisas que realmente faltam são os equipamentos de iluminação. Eles existem, mas estão estragados”. O professor constatou que, apesar de achar que as condições poderiam ser melhores, no momento é possível trabalhar dignamente com o que está disponível. 


Um outro problema é a falta de técnicos no departamento fotográfico, como Rômulo explicita: “A gente precisa ser professor, mas ao mesmo tempo tem que ser técnico. Eu tenho que carregar peso e levar para lá e pra cá. Acabamos sobrecarregados para dar conta de tudo”. Mas, segundo o docente, haveria uma reunião com a diretora Flávia Clemente de Souza no dia primeiro de julho para amenizar esses problemas na mudança para o novo IACS. Ele também comentou sobre a situação vivida pelas Universidades Federais no momento: “São constantes os cortes de orçamento das universidades e cada vez mais profundos. Várias universidades estão dizendo que não tem como manter a limpeza, segurança e as funções básicas no geral”. 


No departamento de audiovisual do IACS, o técnico da área de comunicação Bruno Pacheco alegou: “Em termos de estúdio, a gente está bem. Temos apenas um problema com os computadores de edição, que não funcionam mais porque já eram antigos e ficaram 2 anos desligados na pandemia. O nosso maior problema não é o equipamento, é a falta de funcionário. Há 5 anos, existiam 70 e poucos técnicos, hoje temos 40 e poucos. Então a gente perdeu quase metade dos profissionais e praticamente todos eram de laboratórios de audiovisual. Quem faz as coisas acontecerem e funcionarem são os técnicos”. Atualmente, a retirada de câmeras e microfones só é possível em meio período, porque Bruno, que antes dividia a função com um colega, é o único responsável pela sala. 


Tal fato ocorreu devido ao decreto 10.185, de 2019. Por meio dele, o governo extinguiu mais de 27 mil cargos federais. A respeito do tema, Bruno explicou: “Os técnicos ocupavam cargos extintos, alguns já eram extintos antes, mas o governo Bolsonaro acabou com quase todos os cargos da administração Federal. Hoje em dia quando tem concurso só tem concurso para técnico administrativo”. Há alguns anos, a funcionária, conhecida como Dedê, era responsável pela sala Interartes do IACS, usada para apresentações. Com a sua aposentadoria, a sala que conta com projetores, iluminação e aparelhos de som, perdeu a função original. Segundo o técnico em audiovisual: “Se quiser usar, você pode usar, mas você vai usar só as cadeiras. Não tem ninguém para ligar projetor, para montar a luz, e nem para colocar o microfone”. O mesmo problema aconteceu com a sala Zeca Porto, usada para edição de vídeo, após a aposentadoria do técnico que era responsável por ela. 


Mesmo diante dessa situação, no dia 27 de maio de 2022 houve um novo bloqueio de 14,5% da verba das Universidades Federais por parte do Ministério da Educação. Na UFF, conforme o reitor Antônio Cláudio da Nóbrega disse em entrevista para o G1, isso representa uma perda de R$27 milhões e “inviabiliza os últimos meses do ano”. 


A falta de investimento público impacta negativamente o funcionamento de todas as universidades federais, única possibilidade de formação no ensino superior para muitos em um país com o perfil socioeconômico do Brasil. Logo, os ataques regulares às verbas das faculdades promovem o sucateamento de algo que deveria ser um pilar: a educação pública de qualidade. 


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