O papel do Cine Arte UFF e do Reserva Cultural de Niterói para a população local e divulgação de filmes independentes
Por
Núbia de Oliveira Iacomini
No dia 25 de agosto
de 2022, quinta-feira, estreava nos cinemas brasileiros mais uma obra prima do
cinema nacional: “Marte Um”. Roteirizado e dirigido por Gabriel Martins, um dos
sócios fundadores da produtora independente Filmes de Plástico, “Marte Um” foi
escolhido para representar o Brasil no Oscar 2023 na categoria “Melhor Filme
Internacional”, anteriormente chamada “Melhor Filme Estrangeiro”. É a primeira
vez que uma produção brasileira chega tão perto de receber um Oscar desde “Central
do Brasil”, em 1999. Ainda assim e apesar de já ter feito sucesso em festivais,
durante a semana de estreia o filme estava sendo exibido em apenas 33 cinemas
no Brasil todo, dentre os quais estão o Reserva Cultural de Niterói e o Cine
Arte UFF.
Foto 1: Fachada do Centro de Artes da UFF
Reprodução: Site www.uff.br
Nas semanas seguintes o número de salas exibindo o filme teve aumento gradativo, como consequência de estar conquistando uma parcela crescente do público geral. Entretanto, mesmo com o aumento do número de salas exibindo a obra, pouquíssimas das grandes redes de cinema colocaram o filme em cartaz. A estudante de jornalismo da UFF, Andrezza Gomes, que atualmente reside em Niterói por causa da proximidade com a faculdade, assistiu a “Marte Um” no cinema do Reserva Cultural. Contudo, ao procurar sessões na Baixada Fluminense para levar sua família, não encontrou nenhuma. “Enquanto assistia o filme fiquei pensando em diversas pessoas que adorariam a experiência, que ficariam emocionadas. A Baixada parece um lugar muito distante onde nada chega ou tudo chega por último. É um filme brasileiro, poxa! Eu enxerguei familiares nos personagens, enxerguei os meus!!!”
Assim como as cidades da Baixada
Fluminense, muitas outras não tem um único cinema que contemple obras do cinema
independente. Por possuírem uma proposta voltada a incluir filmes independentes
e com temáticas diversificadas em suas programações, o Reserva Cultural e o
Cine Arte UFF foram, e ainda são, os únicos estabelecimentos da cidade de
Niterói a exibir "Marte Um". De acordo com Paulo Máttar,
programador do Cine Arte UFF, a programação é pensada de forma a priorizar
"filmes que não tem espaço em outros cinemas da cidade."
Imagem 2: Bilheteria do
Centro de Artes da UFF com filmes em cartaz
Reprodução: acervo pessoal
Ainda sobre a montagem da programação, Paulo Máttar disse que "os programadores de salas independentes e "alternativas" são muito antenados e estão sempre acompanhando festivais e se informando sobre os próximos lançamentos." E acrescentou: "Já tínhamos exibido obras da produtora Filmes de Plástico e já sabíamos da repercussão de Marte Um anterior ao lançamento. Foi uma aposta certeira. Inclusive combinamos o lançamento com a distribuidora antes do Festival do Gramado e já acreditávamos na indicação como representante brasileiro no Oscar. Tudo isso fez com que o filme chamasse a atenção das grandes redes exibidoras, mas foi fundamental que tantos cinemas independentes tivessem programado o filme no lançamento."
Apesar de ter
estreado apenas em 2022, “Marte Um” foi produzido durante os últimos meses de
2018. O orçamento para a produção foi adquirido principalmente a partir de um
edital federal de ação afirmativa e, desde então, a produtora Filmes de
Plástico não produziu nenhum outro filme: os cortes orçamentários do governo na
área cultural e cinematográfica afetaram profundamente o trabalho de artistas
independentes, chegando a impossibilitar a produção de novas obras. Atualmente,
a ação de centros culturais, como o que temos na UFF, se torna imprescindível na
missão de mostrar a força e a diversidade do cinema independente, como aponta Paulo
Máttar: “sem os cinemas independentes, muitos deles parte de algum
centro cultural, não haveria espaço para a maior parte da produção brasileira e
as pequenas distribuidoras não trariam tantos filmes estrangeiros
independentes.”
Excelente cobertura, os centros culturais são fundamentais para a expansão e promoção da cultura e lazer, em especial para os filmes independentes que não costumam ocupar espaço significativo nos grandes cinemas. Parabéns, texto convidativo e de fácil leitura.
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