Alunos
trans e travestis não possuem nenhum auxílio para Graduação e a única promessa
relacionada à comunidade é o respeito do nome social
Por Jamile Rezende
Foto
1: Lua Quinelatto, aluna da UFF
Reprodução:
Arquivo pessoal
A universidade pública está pronta para lidar com a população trans? A falta de amparo, por parte das instituições de ensino superior, à pessoas já normalmente excluídas, apenas reitera sua invisibilidade para a sociedade? O Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. No Rio de Janeiro, segundo uma pesquisa realizada pela própria prefeitura, 67% das pessoas trans e travestis cariocas declaram já terem sofrido algum tipo de violência apenas por existir. Essa mesma pesquisa mostrou que 83% dessas pessoas sofreram violência na escola, o que fez com que 29% largassem os estudos.
A Universidade Federal Fluminense realiza um projeto de inclusão e acessibilidade, cujas ações visam a manutenção e adaptação de PCD’s na universidade, o combate à violência de gênero e a busca por uma instituição equalitária. Ainda assim, não existe nenhum tipo de suporte para a comunidade transsexual. Apesar de haver uma legislação que assegure o uso do nome social durante a graduação, na prática a realidade não é a mesma.
Lua Quinelatto é uma mulher travesti, aluna da UFF e estudante de Pedagogia. Durante o seu processo de matrícula a mesma não teve o seu nome social respeitado, uma vez que não foi possível adicioná-lo no sistema da universidade, e a alteração só foi realizada após sua inscrição, quando já frequentava presencialmente as aulas. “Depende muito de quem você tá querendo incluir, porque ela (a UFF) pode ser inclusiva em vários aspectos e pode não ser em vários outros, como por exemplo, para população trans e travesti. Nesse caso, eu não considero a UFF de jeito nenhum uma universidade inclusiva”, comentou Lua.
A professora da UFF e pesquisadora dos Direitos Humanos Tatiane Mendes, defende que existe um projeto do Estado para invisibilizar minorias e violentá-las a todo o momento: “O que a gente precisa pautar, como direito fundamental, é a representatividade, que seria a representação com efetividade. Ou seja, uma representação da sociedade nos canais de comunicação, nos produtos culturais, nos espaços sociais, nos espaços coletivos, no poder público, em que todas as formas de vida, toda diversidade e todas as minorias sejam enxergadas e visibilizadas com efetividade. E para isso a gente precisa dar autonomia. A gente não pode falar pelas minorias, a gente precisa deixar que as minorias falem por elas mesmas”
Quando
questionada como gostaria que a UFF acolhesse as pessoas trans e travestis, Lua
foi enfática: “O que eu quero ver pro futuro é uma universidade que acolha os
corpos dissidentes da sociedade de forma igualitária com os corpos
não-dissidentes. Que pessoas trans possam acessar esse ambiente com segurança e
que elas possam se manter aqui, com a ajuda do Governo Federal e da própria
universidade. Eu desejo que eu não seja a única travesti numa sala de aula.”
excelente reportagem! extremamente importante e de uma necessidade indescritível dar voz à população trans e travesti.
ResponderExcluirNa teoria nos prometem uma faculdade inclusiva a todos os públicos, na prática a inclusão é nula. Precisamos lutar incansavelmente para reverter esse quadro e transformar, não só a uff, mas todos os espaços, em ambientes seguros e inclusivos para todes
ResponderExcluirEssa reportagem é realmente uma potência. Poder ter a minha voz e a de tantas outras travestis ecoadas me faz ter esperança e continuar na luta para que possamos cada vez mais acessar e permanecer nesses espaços!
ResponderExcluir