Os desafios de ser paciente do Hospital Universitário Antônio Pedro

A imponência da fachada física do HUAP destoa da realidade enfrentada por usuários do Sistema Único de Saúde (SUS)

 

Por Carina dos Santos


Foto 1: Hospital Universitário Antônio Pedro

Reprodução: Google Imagens

Consultas que possuem intervalo entre 3 e 6 meses, falta de médicos, exames que demoram, comunicação confusa e recusa em atendimento de urgência. Esses são alguns dos problemas relatados pelos pacientes do Hospital Universitário Antônio Pedro.

O Hospital, que completou 71 anos em janeiro de 2022, oferece atendimento em nível terciário/quaternário, com equipe multidisciplinar especializada, além de ser um hospital escola, que capacita os estudantes da área da saúde no exercício de suas práticas estudantis.

Atualmente, sob administração da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), o hospital passou por reformas em sua estrutura física e recebeu investimentos no aparato tecnológico para realização de exames. Entretanto, alguns problemas antigos persistem.

Foi no ano de 2003 em que a socorrista de busca e resgate, Lizete dos Santos, 61 anos, adentrou as portas do hospital pela primeira vez após receber encaminhamento pela policlínica Malu Sampaio.

Ela relatou com veemência os percalços que enfrentou ao tratar de seu câncer de mama no hospital universitário. Hoje, encarando uma leucemia linfocítica crônica (LLC), ela relembra com indignação um episódio vivido no dia 15 de julho deste ano, durante um mal estar, em que sentiu muita falta de ar e dor no peito, mas que não obteve sucesso ao buscar o serviço de emergência pela falta de médicos e conforto. “Não tinha lugar, eu estava sentada, outros pacientes também estavam sentados, para que você possa ter uma ideia, na parte ali onde entram as ambulâncias, só que não tinha cardiologista.” Outra paciente, moradora de Niterói, relatou a recusa do hospital em atendê-la, tendo sido orientada a buscar atendimento no Hospital Municipal Carlos Tortelly (antigo CPN).

Lizete reforça que o hospital apresenta um serviço de tecnologia de excelência, embora lamente que um exame de ressonância magnética da coluna cervical, solicitado em dezembro de 2021, ainda não tenha sido realizado. A socorrista recebe o apoio de sua mãe, de 88 anos, que arca com o aluguel de uma quitinete no bairro do Barreto, para que ela possa ficar mais próxima ao hospital. A mudança de São Gonçalo para Niterói facilitou a vida de Lizete, uma vez que o agendamento de consultas ocorre de modo arcaico, exigindo que o paciente se desloque ao hospital para saber se a agenda do médico encontra-se disponível para marcação. 

 

Foto 2: Superintendente manuseia robô do Centro de Treinamento

Reprodução: Agência O Globo

Outra paciente, moradora de Niterói, relatou a mesma dificuldade: teve o acesso à emergência do hospital negado. “Essa crise foi muito grave e eu não tive assistência nenhuma, eu tratei em casa mesmo.”, conta Juscelena da Silva, de 36 anos, portadora de anemia falciforme, doença hereditária causada por uma mutação que provoca a deformação dos glóbulos vermelhos. A moradora do Fonseca comenta que o médico que a acompanha orientou que ela fizesse uma denúncia à ouvidoria do hospital.

Além das reclamações com relação à internação, há também o reconhecimento do esforço dos profissionais de saúde em ambos depoimentos, com grandes elogios à equipe médica e aos funcionários que trabalham no HUAP, como Lizete menciona e faz questão de frisar a todo instante. “Os médicos fazem de um tudo, têm amor à sua profissão, aos seus pacientes e têm comprometimento […] Eu, graças a Deus, eu bati em bons plantões, de profissionais amorosos, as enfermeiras foram atenciosas.” 

A assessoria de imprensa do hospital universitário foi procurada para esclarecer as declarações das pacientes, mas até o fechamento desta matéria, não houve resposta. 

Comentários

  1. Matéria de grande importância...

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  2. O sucateamento pelo qual passam as universidades hoje, ocorreu antes com os hospitais universitários que, em grande parte, foram pressionados à aderir a EBSERH, a sanha neoliberal privatista mostra sua face mais cruel na mercantilização da saúde pública.

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  3. Isso não é um Brasil que eu quero!!!

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