Projeto da UFF, em parceria com a Prefeitura de Niterói, visa fortalecer as práticas culturais das regiões da cidade
Por: Karinee Klein
A diversidade cultural, a democratização da produção e do acesso à cultura, assim como a ampliação de políticas públicas são as questões levantadas pelo projeto “Cartografias Territoriais de Redes Colaborativas de Cultura em Niterói”. Com a finalidade de mapear os saberes e as práticas artísticas e culturais das diferentes regiões da cidade, o projeto é uma parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Prefeitura de Niterói, sendo beneficiado pelo Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados (PDPA).
Foto 1: Equipe do projeto entrevista a liderança Renatão, do Quilombo do Grotão.
Reprodução: Acervo pessoal dos pesquisadores.
Coordenado por Jorge Luiz Barbosa, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFF, a iniciativa pretende reforçar as práticas culturais da “Cidade Sorriso”. Agora, o projeto se encontra na fase de elaboração dos produtos finais. O resultado será o lançamento de um livro, baseado no Seminário Territórios Criativos da Cultura, e a construção de um Portal Digital, com informações sobre a rede de organizações, grupos e coletivos de cultura da cidade. Além disso, o portal também vai contar com as informações e os resultados do projeto. Todos esses dados estarão disponíveis para consulta pública.
Em entrevista concedida a UFF, Jorge Luiz comenta sobre o projeto e as necessidades da cidade em relação ao setor cultural: “O projeto surgiu da realidade em Niterói: de um lado, a pluralidade da criação artística e cultural presente na cidade e, de outro, as exigências crescentes da sua visibilidade social, principalmente nas manifestações de matrizes africana e afro-brasileira. Diante disso, queremos preencher esse espaço entre conhecer e reconhecer esses saberes e fazeres. Para isso, trazemos a proposta da cartografia territorial: localizar o acontecer das práticas, mapear e valorizar esses espaços comuns de encontros para fortalecer suas existências e colocá-los na cena das políticas públicas. Por outro lado, buscamos mostrar e demonstrar a diversidade da criação artística e cultural da cidade como um patrimônio social que precisa ser protegido e ampliado.”
Assim, quando falamos sobre pluralidade cultural e visibilidade social, é importante destacar os espaços culturais que não pertencem ao eixo Centro-Zona Sul de Niterói. Por isso, no mês da consciência negra, é relevante comentar sobre a existência do Quilombo do Grotão, território histórico de cultura em Niterói. Localizado na Serra da Tiririca, no bairro do Engenho do Mato, o Quilombo do Grotão é uma comunidade tradicional remanescente de quilombo. Com mais de 70 anos de história, o quilombo firmou-se como um espaço de resistência e valorização da cultura africana e afro-brasileira na cidade, sendo reconhecido pela Fundação Cultural Palmares em 2016.
Atualmente, o Grotão ainda promove atividades, como oficinas de percussão, capoeira e artesanato. Além disso, o local é conhecido pela tradicional feijoada na lenha e sua roda de samba de terreiro. No último domingo (20), Dia da Consciência Negra, o Quilombo do Grotão celebrou a data com uma grande programação: roda de capoeira, oficina de iniciação nos instrumentos africanos, a tradicional feijoada e roda de samba, tocada somente por mulheres do quilombo.
Ainda assim, muitos moradores de Niterói desconhecem o local e a sua importância na história da cidade. Segundo Karina Carvalho, 33 anos, pedagoga e membro do grupo Negritudes e Transgressões Epistêmicas da UERJ: “Eu moro em Niterói há muito tempo e não conhecia a história do Quilombo do Grotão. O lugar tem uma história de resistência para aquela comunidade conseguir se manter no local e continuar com o nome de ‘quilombo’ [...] Infelizmente, nós não falamos muito sobre os quilombos na escola, só mencionamos essa questão quando falamos sobre a escravidão no Brasil. Mas não se fala muito sobre o significado dos quilombos. Então, quando você vai a um espaço desse, percebe que é pouco repercutido, pelo menos em Niterói [...] É um lugar de história e cultura tão próximo da gente, mas que não é discutido em sala de aula por causa do apagamento histórico. E esse apagamento histórico acontece para não irmos ao Quilombo do Grotão, não conhecermos a sua história, resistência e importância para o município. Então isso é uma falha muito grande.”
Comentários
Postar um comentário