O impacto da nova proposta global para o mercado de trabalho no cotidiano das atividades empresariais em Niterói durante a pandemia.
por João Figueiredo
Home office, traduzido do inglês significa literalmente "escritório em casa". Representa basicamente uma atividade profissional realizada fora do ambiente institucional em teoria da mesma forma que no ambiente corporativo tradicional. A expressão foi bastante utilizada na esfera do mercado de trabalho brasileiro e niteroiense nos últimos meses para definir uma nova prática adotada pelas empresas a fim de driblar os limites impostos pelo coronavírus, gerando efeitos tanto na organização da empresa quanto na vida de seus funcionários.
Com o impacto da pandemia, sentida, sobretudo nos meses entre março e setembro, várias empresas fecharam suas portas para as atividades tradicionais realizadas de forma presencial e deram oportunidade para o trabalho à distância. Em Niterói, embora muitas atividades presenciais já tenham retornado respeitando os protocolos de segurança, a gestão pública foi exemplar no tratamento da crise e dentre suas medidas permitiu apenas a manutenção de serviços essenciais durante o ponto mais alto da epidemia, modificando o cotidiano de diversas organizações.
O Alô, Gragoatá! entrou em contato com os representantes e funcionários de algumas empresas em Niterói: ENEL e Júlio Braga Advogados no centro da cidade, e o Instituto de Pesquisa GERP em São Francisco. O blog conseguiu registrar as suas percepções gerais quanto ao home office bem como suas preferências.
Produtividade mantida
Dentre as organizações citadas, apenas a empresa de advocacia retornou com algumas atividades presenciais e mesmo com o distanciamento do ambiente tradicional de trabalho os representantes das três empresas afirmam ter mantido a produtividade.
Uma das analistas sênior da ENEL relata que apesar da velocidade da informação, comum do meio digital, ter mudado bastante a dinâmica das atividades não houve nenhuma demanda que tenha sido impossível para os profissionais da companhia. E aponta que os desafios encontrados nessa alternativa ficaram ligados ao processo de aquisição e repasse do conhecimento.
A advocacia de Júlio Braga, a qual utilizou o trabalho remoto durante o período de fechamento total já voltou com suas atividades regulares, mas afirma que embora o sistema eletrônico ficasse suspenso algumas vezes ainda assim foi possível resolver todos os dilemas da empresa. O advogado Júlio Braga relata que os maiores desafios ficaram circunscritos a ausência de tecnologia e a própria dinâmica da internet com a qual enfrentou algumas quedas de sinal durante as audiências virtuais. O dono da empresa ainda falou sobre a possibilidade de se aplicar o home office no futuro em tempos de estabilidade: "É uma coisa que eu já estou prevendo. As audiências sendo todas online [...] por exemplo, tributária, tributária você não precisa nem ir na justiça, porque é tudo no sistema, tudo eletrônico. [...] Até a audiência na justiça federal está sendo online também. Isso é o futuro, é o futuro realmente!"
O representante do Instituto de Pesquisa GERP não pôde responder todas as perguntas por conta de seu horário sobrecarregado, mas foi claro e objetivo ao afirmar que o rendimento da empresa foi mantido com o trabalho remoto.
A transição entre escritório e espaço privado
Os funcionários das organizações precisaram enfrentar um processo de adaptação entre o seu tradicional ambiente de trabalho nos escritórios e seu ambiente privado nas próprias casas. Gustavo Oliveira, que é um dos funcionários da empresa de distribuição de energia em Niterói, explicou que o home office representou uma alternativa de dois lados distintos, pois se por um lado houve uma redução dos gastos com alimento, passagem e também exclusão do estresse com o trânsito diário, por outro lado constituiu um aumento na quantidade horas trabalhadas pelo fato de estar em casa e não no escritório. Ele também fala sobre o auxílio dado pela empresa que mesmo não cobrindo as despesas de energia, forneceu os equipamentos e utensílios necessários para obter conforto e produtividade no ambiente doméstico. Ao ser questionado se prefere o trabalho presencial ou o home office Gustavo respondeu: "prefiro 50% home office e 50% presencial, visto que é bom ir para a empresa e sentir que você faz parte da corporação, poder ir para sua mesa, poder ter contato com os amigos de lá. A empresa já tinha uma cultura de home office, mas, após a quarentena, mesmo depois que toda essa turbulência passar, irá intensificar o home office, o que será bom essa alternância."
Na contramão do funcionário da ENEL, o Matheus, funcionário da advocacia de Júlio Braga prefere o trabalho presencial pela questão do contato mais próximo com o cliente, mesmo alegando que o trabalho remoto teve o seu lado positivo e também ter vivenciado uma boa experiência. "Você tem uma facilidade maior de controlar a organização do seu trabalho. Você fica mais livre e controla melhor o seu tempo", comenta Mateus. Porém, segundo ele, trazer o trabalho para dentro de casa gerou alguns momentos desconfortáveis, com algumas discussões saudáveis entre ele e sua esposa em torno dos processos judiciais, já que o casal trabalha na mesma empresa, além da própria logística de cuidado com o filho o qual necessitou de um maior atenção por ser ainda uma criança muito pequena.
Concordando com o Mateus, uma funcionária da GERP também opta pelo tradicional trabalho presencial. Para ela, o trabalho remoto gerou estresse ao fazê-la passar horas dentro de casa todos os dias. "Trabalhando presencial eu posso ter convívio com outras pessoas que não seja familiar e eu vejo outras coisas, eu tenho como ir para outros lugares. Trabalhando em casa a gente fica muito preso", comenta a funcionária do instituto de pesquisa.
O futuro do home office
O home office não é um estilo de trabalho novo e está longe de acabar. Para Eduardo Murad, professor de Comunicação Organizacional da UFF, o trabalho remoto não é uma novidade, ressaltando que essa não é a primeira onda. Existiram outros movimentos no final da década de 90 e início dos anos 2000 os quais apontaram para essa tendência de mercado, tendo a pandemia apenas acelerado o processo do uso das tecnologias.
"A gente vai ter mais intensamente os ambientes híbridos por talvez uns três fatores: Um, haverá uma reduções de custos efetivos nas organizações; Dois, as pessoas mudaram os hábitos, mesmo entendendo que não foi perfeito para todo mundo, teve desconforto, muitas pessoas não foram treinadas, não tinha equipamento, a vida familiar também foi alterada por causa disso, não foi um passeio no parque, mas as pessoas também entenderam que existiam outras possibilidades de gerenciar e manter atividades, e ao mesmo tempo de se ter outra lógica de qualidade de vida; Também se entendeu que se tem falta do contato físico, do cafezinho, do banheiro, do almoço, da movimentação, da rua, e as lideranças entenderam que para manter as equipes ativas, motivadas e integradas precisam de momentos síncronos que não sejam digitais e que sejam presenciais", diz o professor afirmando uma tendência do aumento do trabalho híbrido, ou seja, parte sendo presencial e parte sendo remoto.
"Lockdown corporativo" foi o termo utilizado para classificar o período atípico atual no país pelo artigo intitulado "Liderando em Home Office", produzido pelo professor Murad em parceria com outros teóricos. Nele defende-se através de uma pesquisa efetiva que o modelo de trabalho presencial unido ao trabalho remoto será uma tendência para o futuro e se tornará uma prática comum além do potencial avassalador da adoção de plataformas digitais para a criação de metodologias ágeis. Seja como for, a atual realidade provou ser suscetível à experimentação de novos modelos e o home office mostrou-se uma inovação em serviço com diversas camadas e perspectivas, tanto em Niterói, como no Brasil e no mundo.
A matéria foi muito bem escrita, bem detalhista e minuciosa. Por exemplo, adorei as informações obtidas através do professor Murad, adicionaram mais profundidade ao assunto. Minha única crítica é a falta de vírgula em alguns poucos lugares, como após “dinâmica das atividades” no segundo parágrafo sobre a produtividade mantida, mas nada que atrapalhe o entendimento e a leitura. Inclusive, mesmo sendo um texto um pouco mais longo, foi bem tranquilo de ler e compreender. Ficou ótimo, parabéns!
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