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A saga estrondosa das motos barulhentas em Niterói 

Por Yuri Neri

foto: Juliano Medeiros

Apesar das recentes operações contra os ruídos excessivos das motocicletas niteroienses, o problema está longe de ser resolvido, e as estrepitosas duas rodas seguem torturando a noite de sono dos moradores da cidade fluminense. Em setembro deste ano, iniciou-se uma ação permanente por parte da Prefeitura de Niterói e da NitTrans, Empresa Municipal de Transporte e Trânsito, para resolver o que já estava previsto em lei: de acordo com o artigo 230 do Código de Trânsito Brasileiro, circular com silenciador de motor de explosão ineficiente ou manipulado configura infração grave, que pode acarretar multa de R$ 195, 23. Entretanto, nem mesmo o alto valor monetário da multa impede que os motociclistas desfilem pelas ruas da cidade vangloriando seus ensurdecedores zunidos e, portanto, a repressão oriunda do estado se faz justa. 

As operações contra as motos barulhentas, contudo, não abarcaram todos os setores da cidade, e muitos moradores nem ao menos tinham conhecimento de que elas estavam ocorrendo. É o caso de Marcela Castro, residente do Fonseca: “Por aqui não houve nenhuma mudança. Toda semana eu vou da minha casa pro centro de Niterói e o barulho no trânsito continua o mesmo, então não parece algo exclusivo do meu bairro”. Marcela conta que à noite, os ruídos são ainda mais atrozes, visto o crescente serviço de delivery no município, no qual motos são utilizadas. Serviço esse que se popularizou no período de pandemia como uma forma do comércio sobreviver em meio ao distanciamento social. “Não dá pra impedir que as pessoas andem de moto, mas ajudaria se os próprios motociclistas evitassem mexer na estrutura para fazer mais barulho ainda”, comenta Marcela.

Mesmo em Icaraí, uma das regiões mais abrangidas pelas ações contra os ruídos das motocicletas, o resultado não foi perfeito. Cecile Mendonça, estudante que está passando a quarentena no bairro, comenta que de fato observou certo resultado nas operações, mas que o tumulto dos motores ainda a importuna: “Eu não sabia quando nem onde (as operações) tinham acontecido exatamente, mas eu percebi que deu uma diminuída na quantidade de vezes que as motos passam fazendo barulho tarde da noite. Por exemplo, se antes isso acontecia 3 ou 4 vezes na semana, agora acontece 1 ou 2, mas ainda assim é muito incômodo”. Apesar de ter sono pesado e não acordar com o estrondo que vem das ruas, Cecile é despertada pela reação das pessoas que moram com ela. “Atrapalha, porque mesmo que eu não acorde com o barulho de madrugada, por ter sono pesado, as pessoas com quem eu moro se assustam e acabam me acordando também com o susto que levam. No dia seguinte, eu acabo ficando cansada para trabalhar, por ter tido o meu sono interrompido”. 

Júlia Lázaro, também moradora de Icaraí, denuncia o quanto os sons emitidos pelas motocicletas atrapalham a sua rotina de EAD. “Sempre à noite é que mais me incomodam, pois é quando estou estudando ou tentando dormir. Com a pandemia e o ensino remoto, fica bem difícil se concentrar e estudar com os barulhos das motos”. Júlia, residente da área em que as operações mais se concentraram, observa que o problema vem ao poucos se amenizando graças à fiscalização da prefeitura, mas que ainda persiste. “Pelo menos na minha rua, (o ruído) faz muito eco, e meu quarto é virado para a janela, aí aumenta muito”, relata a estudante.

Para alguns motociclistas, principalmente aqueles que trabalham com seus veículos, o estrondo resultante da manipulação do escapamento contribui para que a moto seja notada no trânsito em meio aos carros, e assim possibilita uma condução mais segura. Para outros, entretanto, o vrum-vrum excessivo tem a ver com ostentação. É o que diz a motociclista Mara Lopes: “Eu acho que tem a ver com ostentação, e falo por mim mesma. Eu queria muito possuir uma moto com certa velocidade, com um escapamento que faz um barulho. É muito legal a sensação de acelerar com a moto e todo mundo olhar”. Apesar de amar o ronco dos motores, Mara entende que os ruídos não agradam a todos. “Eu gosto, mas ao mesmo tempo, não é uma moto que eu gostaria de usar todos os dias, porque o barulho realmente é chato. Uma moto esportiva é legal pra passear, mas não pro dia a dia”, comenta a motociclista. 

Além dos cercos em algumas avenidas estratégicas, a NitTrans preparou três mil panfletos que foram entregues em pontos de mototáxi, restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos com grande circulação de motociclistas. “O barulho ensurdecedor de algumas motocicletas é resultado de uma atitude deliberada do proprietário do veículo, que propositadamente retira ou danifica o silenciador do cano de descarga, item que vem de fábrica em todos os veículos. Ou seja, é uma infração que o proprietário do veículo assume de forma individual, e ele deve ser fiscalizado por isso. Para, além disso, é importante a ação educativa de trânsito no sentido de convencer estes proprietários de motocicletas de que não há vantagem alguma em usar o escapamento barulhento, pois ele não traz benefícios aos veículos e ainda por cima incomoda a cidade inteira”, explica Paulo Afonso Cunha, presidente da NitTrans, no site oficial da empresa municipal.


Comentários

  1. Antes de tudo: adorei o título! Muito criativo da sua parte.
    Você fez uma notícia muito boa, está de parabéns! A única coisa que eu poderia te alertar (não é uma crítica de fato) seria que você usou 8 citações de fontes, e ao meu ver, é demais.

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