UFF se destaca com oito prêmios na Expocom Sudeste 2020 e trabalhos seguem para a etapa nacional

 Por Letícia Merotto




A Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) é um evento de exposição e premiação aos melhores trabalhos experimentais produzidos por estudantes do campo da Comunicação. O evento ocorre de maneira presencial uma vez por ano em cada uma das cinco regiões do país (Sul, Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste) e os trabalhos premiados em cada uma das categorias de cada região seguem para a fase nacional: a Intercom. Nessa edição, devido a pandemia do Novo Coronavirus, os eventos regionais ocorreram ao longo do mês de outubro através de encontros virtuais na plataforma do Google Meet.  

No Sudeste, o evento conta com trabalhos universitários das diversas instituições particulares, federais e estaduais de comunicação dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Dentre esses, a Universidade Federal Fluminense (UFF) se destacou nesse ano com 25 trabalhos finalistas e mais de 10% dos prêmios: oito vencedores dentre 66 trabalhos premiados em toda a região. 

Sobre o evento

Com todo o desafio de enfrentar o modelo remoto, o evento teve que se reestruturar e se reorganizar, uma adversidade completamente nova em 43 edições da exposição. Mesmo assim, Franco Dani, professor da Universidade do Vale do Rio Doce e diretor regional Sudeste da Expocom 2020, contou que o resultado superou as expectativas.

“Havia uma insegurança por parte de todos com relação ao que iria acontecer. Quando discutimos o formato e a adaptação ao modelo online, estávamos todos diante de uma situação muito nova e na qual ninguém sabia como lidar. Fomos juntando experiências pessoais e testando ferramentas. No final das contas tivemos 1377 inscrições só na Expocom, 938 trabalhos aceitos e, desses, 292 premiados nas cinco regiões do país, que irão para a etapa nacional na Bahia. É um excelente resultado, ainda mais se a gente considerar o cenário econômico, e de instabilidade no campo da ciência e das pesquisas. Muitas universidades pararam nesse momento de pandemia, e a gente conseguiu 1377 trabalhos em meio a ela”, afirmou o diretor.

Questionado sobre a importância do evento, o jornalista e publicitário não poupou palavras. “Eu diria que hoje o Intercom é o principal evento na área da pesquisa em Comunicação no Brasil. Tem a troca de experiências e conhecimento que existe entre os profissionais, alunos, professores e pesquisadores, tem a questão do estímulo ao desenvolvimento da produção científica, uma vez que é um universo onde 70% dos participantes são alunos de graduação. Podemos destacar também as premiações, que são incentivos e uma forma de capacitar alunos e professores. Além disso, existe o compartilhamento de pesquisas e produção intelectual, sendo um espaço importante para lançamento de livros e busca de parcerias com outras entidades, até estrangeiras, como a ALAIC (da América Latina). Temos parcerias com agências europeias e estadunidenses hoje, então também é uma parceria de pesquisadores brasileiros com outros ao redor do mundo. São diversos pontos que a gente pode elencar como relevantes nesse sentido”, contou.

A UFF na Expocom

Os oito prêmios em um dos eventos nacionais mais importantes da área de Comunicação trouxe à UFF um reconhecimento ainda maior. Nessa edição, a universidade contou com 40 estudantes conquistando o primeiro lugar nas seguintes categorias: Agência Laboratório, Spot, Produção Publicitária Audiovisual para TV e Cinema, Estratégia Publicitária para Mídia Digital, Reportagem em Telejornalismo, História em Quadrinhos, Produção Multimídia e Filme de Ficção. Agora, todos os trabalhos vencedores seguirão para a etapa nacional, que ocorrerá ao longo do mês de dezembro, também de maneira remota.

Desses oito trabalhos, sete foram orientados por Luana Inocêncio, professora e pesquisadora do departamento de Publicidade e Propaganda- Comunicação Social da UFF. Atualmente, ela ministra as disciplinas Direção de Artes, Comunicação Digital e Processos Criativos na UFF e teve a Expocom como porta de entrada para o meio acadêmico. Integrando parte da comissão do evento e já tendo participado como aluna e professora orientadora, Lua, como também é conhecida, conta que fica muito contente em despertar esse legado.

“Depois que entrei na UFF percebi que tivemos um maior fôlego de enviar mais trabalhos para a Expocom e despertar um pouco mais essa iniciativa. Eu fico muito feliz de ter começado a carreira acadêmica na Expocom e, agora, de ver meus “aluninhos” se interessando por ela a partir dessa ambientação que o evento traz com a pesquisa. Ver esses trabalhos reconhecidos e contribuir pro despertar da carreira acadêmica-profissional desses alunos é muito bom, até porque essa é uma série de ciclos. Fico feliz de estar passando esse legado para os alunos e percebo que eles passam para as turmas mais novas também”, declarou a professora.

Junto com o legado, Luana contou também sempre passar aos alunos a importância de terem seus trabalhos indexados a nível nacional, o que faz com que virem referências para outras produções da área. Outro ponto importante para a orientadora nesse contato dos alunos com o meio acadêmico é que não tenham a expectativa do prêmio, mas sim da participação na exposição, vendo o espaço acadêmico aberto para mostrarem as etapas de sua experimentação e se descobrirem enquanto autores e criativos.

Além disso, a pesquisadora detalhou mais sobre a importância desses prêmios para as universidades federais diante de todas as adversidades técnicas e infraestruturais que encontram.

“Isso é super importante e relevante para a UFF. Infelizmente a nossa área das ciências sociais ainda sofre um grande déficit infraestrutural na educação pública: até temos o espaço, mas não temos os equipamentos necessários nos laboratórios e “competimos” com muitas universidades particulares, que  sabemos que são muito bem equipadas. Não podemos esquecer o contexto social dos nossos alunos, que muitas vezes não tem computadores que rodem os programas de edição, não tem aparelhos e equipamentos suficientes e eu acho lindo a forma como conseguem driblar essas adversidades técnicas com a criatividade e resistindo. A gente está lutando pela universidade pública, trazendo esse reconhecimento para o nosso departamento, publicando as pesquisas dos nossos alunos e fortalecendo a universidade pública no sentido dessa produção mais democrática e legitimada, uma vez que o Expocom e o Intercom são as maiores esferas da nossa área”, disse orgulhosa.

Abordando temas com causas sociais, uma vertente forte do curso de Publicidade da UFF, os alunos vencedores também contaram um pouco sobre seus trabalhos e o orgulho de representar a universidade pública em um congresso regional e, agora, nacional. 

Fábio Ribeiro, aluno integrante do grupo vencedor da categoria Produção Publicitária Audiovisual para TV e Cinema, contou sobre a escolha do tema do trabalho “Sombra: um filme publicitário sobre os sintomas da depressão”.

“Quando a Lua apresentou os temas possíveis do trabalho, eu já quis de cara fazer sobre o Centro de Valorização à Vida (CVV), por ser um tema que me interesso e me importo socialmente. Nosso trabalho personifica a depressão na forma de uma assombração, interpretada por mim, que persegue o protagonista Leonardo, sabotando sua rotina. Até que ele liga pro CVV e a assombração some. O objetivo era principalmente fazer com que as pessoas soubessem e buscassem mais o CVV como uma válvula de escape, até porque a solução de fato para depressão e o combate ao suicídio está nos tratamentos psicológicos e psiquiátricos”, contou o estudante de publicidade.


Foto: @comunicacaouff

Outro trabalho vencedor que abordava uma causa social importante foi o #RespeiteMeuNomeSocial: web filme sobre nome social para pessoas trans, que ganhou na categoria Filme de Ficção. Flavia La Greca, aluna líder do trabalho contou que a proposta era conscientizar o público em geral a respeito do nome social que é adotado por pessoas trans, fazendo uma abordagem mais lúdica e mais ficcional que se contrasta ao que encontramos nas pouquíssimas campanhas a respeito desse assunto, que trazem um tom de alerta e urgência.


Foto: Franco Dani

Ambos os trabalhos serão expostos na Intercom ao longo do próximo mês de dezembro, onde poderão ser campeões nacionais. Perguntados sobre as expectativas para essa próxima fase, ambos demonstraram estar animados e orgulhosos.  

“Como qualquer um queremos ganhar, mas eu e meu grupo já estamos muito felizes por termos sidos indicados e ganhado o regional, isso já foi uma enorme vitória. Agora estamos no aguardo, torcendo. Se não vier, estaremos felizes de qualquer jeito, é um marco, é uma conquista. Se a vitória vier, vai ser melhor ainda e eu vou ficar até chata com isso, pois vou citá-la a qualquer momento possível (risos)”, brincou Flávia.

Por sua vez, a professora e orientadora Luana Inocêncio finalizou revelando evitar as expectativas, mas acreditar na importância dos trabalhos e na representatividade deles para a UFF.

“Evito expectativas, mas tenho certeza que os trabalhos que passaram são bastante maravilhosos tecnicamente, além de serem socialmente relevantes e produzirem bastante reflexão. São trabalhos que representam muito a UFF. Fico muito feliz, iluminada, energizada, de pensar em como o Brasil vai ver a produção da UFF nesse cenário que é tão delicado. E acho que é importante a gente ser expressivo nesse momento, de mostrar como a universidade pública resiste”, finalizou.




Comentários

  1. A matéria é muito bem escrita, com boa progressão e sem ser cansativo. A matéria é boa, com um assunto muito importante, vale uma boa reportagem. Parabens, Letícia.

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