O apego, a infraestrutura e a acessibilidade
Por Letícia Merotto
foto: A Tribuna RJ
A mudança do prédio do Instituto de Artes de Comunicação (IACS) da Universidade Federal Fluminense (UFF) da Rua Lara Vilela para dentro do Campus Gragoatá é um assunto que vem sendo discutido há bastante tempo. Há mais de 15 anos o projeto existe e, apesar das obras já terem sido iniciadas desde 2010, foram interrompidas.
Entretanto, na metade desse ano, o projeto ganhou força após um acordo do Prefeito Rodrigo Neves Barreto -cujo mandato termina no final de 2020- e a universidade, assinado no dia 24 de agosto de 2020. O termo prevê a conclusão da obra em 18 meses, o que indicaria que o corpo discente e docente da universidade passariam a ter e ministrar suas aulas dentro do Campus do Gragoatá até o final de 2022. Essa mudança, entretanto, causa opiniões divergentes tanto nos alunos, quanto nos funcionários e colaboradores. Isso porque, apesar da pouca infraestrutura, o apego sentimental ao espaço com as artes e tudo que representa, muitas vezes, fala mais alto.
Sobre a infraestrutura, Luiz Edmundo, professor da universidade desde 1986 e que atualmente ministra as disciplinas de Linguagem Fotográfica e Introdução à Fotografia, relatou a falta de espaço e de alguns equipamentos.
“A infraestrutura do prédio é muito precária. Em termos de espaço, para minha área o ideal seria ter uma sala de aula e um estúdio, o que não é possível no atual prédio. Os equipamentos, temos suficientes, pelo menos as câmeras, mas estamos sem o flash de estúdio, luz para fazer iluminação de produto de publicidade e de figura humana, há 4 anos e eu não consegui durante todos esses anos uma verba pro conserto, não existe essa verba e não há mais um tipo de equipamento para se comprar dessa natureza”, contou o professor.
Foto: Plantão EnfocoAlém disso, o professor disse que, apesar do apego, a mudança para uma melhor infraestrutura seria necessária, mas sugeriu que os dois núcleos se mantivessem, de maneira na qual algumas aulas no campo da prática seguissem no prédio atual.
Já Laura Picorelli, estudante de Produção Cultural na UFF, discorda. Para ela, a mudança não deveria ocorrer.
“Eu entrei na UFF em 2016, e no período seguinte teve ocupação, então eu acompanhei um período muito importante de ocupação e pertencimento do lugar do IACS, que foi bem diferente da ocupação do Gragoatá. E nesse período rolou muito esse movimento de “quem que ocupa esse lugar?”, “quem dá voz pro IACS?”, “por que ele tem esse acolhimento e toda essa questão afetiva que muitos lugares não têm?”. Faço produção cultural e a gente sempre fala que “Procult é amor”, é uma coisa muito do afeto e eu acho isso muito importante. Seria muito diferente e acho que a casa do IACS é uma representação concreta de todo o afeto que é construído naquele lugar pelas pessoas, professores”, disse a estudante.
Mesmo com o apego, as opiniões a respeito da mudança diferem até mesmo entre os alunos. Para Analice de Col, aluna de Publicidade da UFF, a mudança será muito positiva, mesmo com o apego sentimental, desde que os alunos possam se apropriar daquele ambiente para que esse apego seja construído novamente.
“Eu tenho uma expectativa muito positiva com a nossa saída para o Gragoatá, acho que poderemos integrar melhor com os demais cursos. A estrutura, além de possibilitar que as nossas aulas tenham uma melhor qualidade, também vão dar uma levantada no nosso ânimo e autoestima. Acho que, aos poucos, tornaremos esse espaço nosso desde que seja permitido, porque essa é uma parte fundamental na universidade, deixar que nós, estudantes, possamos tornar aquele espaço em nosso e nos apropriar que nem fizemos com o IACS”, contou.
Entretanto, há um ponto muito importante nessa discussão: a acessibilidade. Diante da precária infraestrutura do atual Instituto, ele carece de elevadores, sinalizações e até mesmo rampas de um andar para o outro, fazendo a opção de seguir no atual prédio sem nenhuma obra, inviável e excludente para alunos e funcionários com deficiência. Lucília Machado, presidente da “Comissão UFF Acessível” -que tem como objetivo implantar a política de acessibilidade e inclusão na UFF-, relatou sobre a infraestrutura do atual prédio do IACS e o porquê defende essa mudança.
“A acessibilidade do IACS é uma das piores da universidade, por ser um prédio antigo, histórico. Vejo como um problema sério, principalmente, para as pessoas com deficiência física. Atualmente, sou cadeirante e uso uma cadeira de rodas motorizada. Até consigo subir a rampa com a cadeira, mas peço para que as pessoas fiquem no entorno. Com certeza, a tão sonhada e esperada mudança para o Campus do Gragoatá trará acessibilidade para dentro do IACS, já que os prédios estão sendo construídos atendendo às normas da Legislação vigente: a Lei Brasileira de Inclusão, à Convenção Nacional e Internacional das Pessoas com Deficiência e à norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas”, relatou Lucília.
Por fim, a jornalista e ex-aluna do IACS, ressaltou que a inclusão precisa estar presente para além da infraestrutura, devendo ser uma preocupação e uma causa de todos que habitam o espaço da universidade.
“O trabalho de inclusão na UFF já vem sendo feito há muito tempo, é um trabalho de formiguinha, mas é preciso que as pessoas se conscientizem que a inclusão não é um problema da Lucília, presidente da comissão, ou um problema da Luana, que é uma aluna de biblioteconomia com deficiência física, ou do Caio, um aluno de produção cultural que tem baixa visão. A inclusão tem que ser incorporada por todos, desde a portaria, com o funcionário que recebe esses alunos, até a reitoria, com a gestão incorporando as práticas e colocando as políticas públicas para serem efetivas e construindo novos caminhos para que o aluno com deficiência possa fazer a sua trajetória acadêmica em condições de equidade”, concluiu Lucília.
Oi, Letícia. Ótima matéria. Só tenho duas observações a fazer. A primeira é que o oitavo parágrafo aparece a palavra "apego" muitas vezes perto. A segunda é que eu achei a questão da acessibilidade muito importante para sua matéria. Por isso, colocaria mais em cima, pensando na pirâmide invertida.
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