Campanha "UFF - Sua em Todos os Sentidos": por um ambiente acadêmico mais acessível, inclusivo e acolhedor
“Essa campanha não inclui a pessoa com deficiência na UFF. Ela inclui todo UFFiano na vida”, diz a professora Patrícia Saldanha sobre campanha que tem repercutido e sensibilizado a comunidade UFFiana
Por Isabela Evaristo
foto: Facebook da Comissão UFF Acessível, 2020
No dia 3 de novembro, foi lançada nas redes sociais a campanha "UFF - Sua em Todos os Sentidos". Fruto da parceria entre Núcleo de Comunicação Institucional e Cultura (NCIC), do Instituto de Arte e Comunicação Social (IACS-UFF), a Comissão UFF Acessível e a AÊ!UFF, agência experimental formada por estudantes de Comunicação Social da UFF, a campanha tem como objetivo “conscientizar e sensibilizar a comunidade UFFiana para as questões de acessibilidade e inclusão”, dizem os organizadores, e transformar cada pessoa alcançada em agente de mudança.
Ela traz dicas práticas para eliminar o capacitismo, por exemplo, quais termos usar ou abolir ao se comunicar com pessoas com deficiência. Além disso, divulga informações sobre deficiências, bem como os mitos e as verdades a respeito delas. Mostra a importância da acessibilidade e apresenta agentes que lutam diariamente para implementá-la no ambiente universitário. Conta até com uma websérie, através da qual UFFianos com deficiência relatam suas histórias, experiências e desafios no meio acadêmico, expondo a necessidade da ampliação de debates e ação em prol de inclusão.
A Comissão UFF Acessível, cliente da campanha, “é uma rede colaborativa para implantar transversalmente na universidade, em todos os projetos e cursos, a temática da acessibilidade e inclusão para a pessoa com deficiência; transtornos globais de desenvolvimento, como o autismo; altas habilidades e super dotação. Implantar, por exemplo, disciplinas de acessibilidade em todos os cursos da graduação e disseminar a ideia e a cultura de que a acessibilidade é uma responsabilidade de todos, desde a entrada na portaria, até a reitoria. A campanha veio pra somar nessa luta.” diz Lucília Machado.
Lucília é jornalista, pessoa com deficiência, presidente da Comissão UFF Acessível e está na UFF há 42 anos. Ingressou em 1978 pra fazer jornalismo. Em 1984, entrou como jornalista concursada. Em 1999, sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégica e desde de 2005, luta por acessibilidade na universidade. Ela acredita que a campanha pode tornar a UFF um ambiente acessível, inclusivo e acolhedor à medida que “as pessoas vão tomar conhecimento de que existe a possibilidade de abrir espaço para a acessibilidade”.
Não só fisicamente, mas através da mudança de comportamento das pessoas. “Porque a maior barreira que as pessoas com deficiência ainda enfrentam no cotidiano é barreira atitudinal, que a gente chama de atitude capacitista: aquele “olhar atravessado”, porque ao verem nossa deficiência, seja na minha cadeira [de rodas], na muleta da pessoa com mobilidade reduzida, na bengala do cego ou na pessoa surda, veem incapacidade. Não veem nossa potência”, relata Lucília.
foto: O Globo, 2018É necessário ter um olhar inclusivo. Lembrando que inclusão não é só sobre números: “a estimativa é de que haja 500 alunos com deficiência na universidade, sendo 343 que entraram pela cota de 2017.2 a 2019.2, além dos alunos de EAD e da pós graduação. Mas ter 500 alunos [com deficiência] não significa que a universidade seja inclusiva. Sempre de dizer que estamos a caminho da inclusão e da acessibilidade. Mas essa caminhada deve ser incorporada por todos”. Um exemplo da importância dessa incorporação é próprio fato de que a campanha “UFF – Sua em Todos os Sentidos”, que está tendo muito sucesso e visibilidade, surgiu de uma disciplina do curso de Comunicação.
A professora do Departamento de Comunicação da UFF, Patrícia Saldanha, orientou o planejamento da campanha e também acredita que a maior barreira é a social. Por isso, a sensibilização acaba sendo uma boa estratégia: “acredito que a campanha é mais acessível quando ela é mais sensível. Então, quando você fala da UFF em Todos os Sentidos, eu vejo que o sentido da emoção é mais tocado pra que todos os outros funcionem melhor”.
Guilherme Hebacci é estudante do curso de Comunicação, participa da realização da campanha, coordenada pelo professor Pablo Nabarrete, e tem narrado as peças para stories do Instagram, tornando-as mais acessíveis. Ela acredita que ações como são o impulso necessário para criar um despertar, para necessidades, direitos e falhas da sociedade para com pessoas com deficiência. Esse despertar tem ocorrido tanto com o público quanto com os organizadores da campanha. Ele diz que “já tinha algum contato com o tema: no meu trabalho tem um programa de diversidade que te um grupo de afinidade de pessoas com deficiência e eu faço parte. Além disso, meu namorado é uma pessoa com deficiência física. Então, quando chegou foi empolgante. E foi muito bacana enxergar o despertar nos outros alunos, conforme iam pesquisando, conversando ou na conversa com o cliente [a Comissão UFF Acessível].”
A professora Patrícia confirma isso ao relatar que um dos resultados do que do planejamento “foi a mudança do meu olhar para a vida e para a rua. Nunca mais consegui andar sem olhar o tempo todo pro chão, imaginando a aflição de um cadeirante quando ele vai subir uma rampa e tem um carro estacionado. Nunca mais meu olhar será o mesmo e meu coração fica muito abatido com isso”. Segue dizendo que nunca mais andou sem olhar para o chão, para a forma como as mesas são dispostas nos restaurantes, para as calçadas esburacadas e para entender a sinalização dos lugares. “Fiquei muito mais sensível a essa falta do acessível”.
O movimento é exatamente esse: “passar a enxergar com novos olhos e se tornar um agente da mudança”, diz Guilherme. A realização da campanha é parte de uma disciplina do curso de Comunicação. Portanto, não há garantia de continuidade quando o período acabar. Por isso, ele também diz, em conversa com os colegas de turma, que “esse não é um assunto pra morrer na realização de campanha. É levar para a casa, para o trabalho, para os amigos”.
A universidade tem mais chances de se tornar inclusiva, acessível e anticapacitista quando as pessoas impactadas pela campanha multiplicarem o aprendizado compartilhando com outras pessoas e o colocando em prática.
Exatamente um mês depois da data de lançamento, no dia 3 de dezembro, celebra-se o Dia da Internacional da Pessoa com Deficiência. A data, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), vem sendo celebrada desde 1992, a fim de promover debates e ações em prol de direitos e qualidade de vida de pessoas com deficiência, bem como inclusão e acessibilidade.
foto: Captura de tela de vídeo da campanha, 2020Com essa proposta, a campanha “UFF – Sua em Todos os Sentidos” é informativa, tem linguagem simples e usa recursos assistivos, como o texto auxiliar com a hashtag #pratodomundover nas legendas das publicações, narração e descrição em áudio para stories no Instagram. Foi produzida para todos os sentidos, portanto a parte visual também é bem elaborada e funcional. As cores vibrantes utilizadas dão um tom leve e descontraído.
Uma ação surpreendente, que já tem mais de 2.300 visualizações na conta do IACS no Instagram, é o vídeo que retrata uma experiência que coloca os alunos no lugar de pessoas com deficiência auditiva por alguns instantes. A provocação, inicialmente, provoca incômodo e agitação na turma. Em seguida, há relatos do quanto a ação os sensibilizou para a importância da acessibilidade nas aulas, sobretudo no período remoto. Clique para assistir: https://www.instagram.com/tv/CIQ7D3CIb38/. “Acessibilidade é uma vida melhor quando nós conseguimos incluir o outro no nosso mundo e nos incluir no mundo do outro E, assim, aprender, trocar e crescer” diz Patrícia.
A campanha pode ser acompanhada nas redes sociais da Comissão UFF Acessível, Núcleo de Comunicação Institucional e Cultura (NCIC) e do Instituto de Arte e Comunicação Social (IACS-UFF).
Na linha fina é "diz professora Patrícia Saldanha sobre CAMPANHA QUE tem repercutido". Se puder corrigir, agradeço :)
ResponderExcluirNa linha fina é "[...] diz professora Patrícia Saldanha sobre CAMPANHA QUE tem repercutido...". Se puder corrigir, agradeço :)
ResponderExcluir"...a campanha tem como objetivo "conscientizar"..." > Apagar o "de" após "objetivo"
ResponderExcluirMatéria muito completa, Isabela. Só achei o título muito longo. Tirando isso (e as observações que você fez) não mudaria nada. Parabéns
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