Na noite da calourada, o DCE UFF se transforma em um covil de lobos
Por Vitor Guedes
Ali, bem ali, em frente ao ponto do BusUFF, a nova fase, o pós-ensino médio e Enem, é materializada em altura, largura e profundidade. Em dimensões de espaço que vão além do caráter matemático: as rampas; o saguão de paredes brancas, repletas de grafites; os lances de escada, estreitos; o salão onde a festa está acontecendo, cujas luzes vão diminuindo ao longo do tempo, até o momento em que as luzes noturnas da cidade - vislumbradas através das janelas - tornam-se mais intensas do que a penumbra do ambiente interno; símbolos da atlética por todos os lugares: O lobo – emblema da atlética, e o velho casarão rosa, o IACS, estampados em canecas, bandeiras, camisas, que propagam o preto e o rosa pelo ambiente; a música; as danças; as bebidas e as pessoas. Todos esses elementos ali - bem ali, prontos a darem boas-vindas aos jovens lobos, que agora fazem parte da alcateia.
A calourada dos cursos do Instituto de Artes e Comunicação Social, o IACS, organizada pela Atlética de Artes e Comunicação Social (AACS - UFF), é um dos primeiros grandes contatos dos novos integrantes do curso com o ambiente universitário em si, sendo um acontecimento primordial para a criação de laços - com as pessoas e com o espaço, proporcionando a integração e o acolhimento daqueles que aguardavam ansiosamente por um lugar na UFF. Ana Flávia Rodrigues, estudante de jornalismo ingressante em 2019.1 conta um pouco de sua trajetória: “Eu queria jornalismo desde o sétimo ou oitavo ano, mais ou menos. A professora trabalhou com texto jornalístico e nos deu muita liberdade, até para fazermos um jornal e gravarmos um telejornal. Fui amadurecendo e no primeiro ano do ensino médio descobri que queria a UFF, que por ser longe de casa me dá uma sensação de liberdade, e acabou que eu criei outra família lá, praticamente”. Mais especificamente sobre a calourada, Ana Flávia descreve: “Eu cheguei lá sem ter muitos amigos - conhecia uma ou duas pessoas, e os outros calouros estavam nessa mesma situação, então a gente se abraçou, e passamos a festa inteira juntos. Ali eu criei laços para o resto da faculdade. E foi muito interessante, como nosso primeiro encontro: uma festa no DCE, imundo (risos), enfim, foi super divertido. Foram experiências muito novas para mim, que por exemplo, não estava acostumada com bebida e com festa que começa tarde e termina tarde. Hoje, eu agradeço por essa experiência, que foi muito importante para a criação de vínculos”.
É válido destacar o aspecto sociocultural do evento, que sendo uma tradição, acaba por promover um primeiro contato do calouro com aquele universo, como uma introdução à “cultura uffiana”, além de ser um processo que promove a socialização e familiarização ao ambiente universitário. A partir desse ponto de vista, é pertinente a posição de Hernandes Júnior, que ingressou na UFF em 2014, no curso de Engenharia Agrícola, onde permaneceu até 2018. Atualmente, Hernandes cursa Estudos de Mídia e é diretor de eventos da AACS. Ele conta que sua relação com eventos começou ainda no antigo curso: “Era um curso que não tinha essa característica de fazer eventos. Isso mudou em 2015.2 quando dois amigos me chamaram para compor a comissão de trote, que organiza a choppada do curso, por exemplo. Queria fazer as coisas acontecerem ali. Acredito que a faculdade é muito mais do que entrar numa aula às 9 da manhã; sair às 11 horas; entrar em outra às 13 horas; e depois ir para a casa”.
Foto: Facebook AACS / Lilo Oliveira
Ainda nessa visão sociológica da calourada, Hernandes explica: “Numa visão geral - não só da atlética, é o primeiro contato do aluno com a universidade sem necessariamente abranger a sala de aula. É quando o calouro conhece os veteranos, conhece o que é a atlética, o porquê daquilo existir”, ele complementa: “É onde o calouro se sente, pela primeira vez, acolhido, é o primeiro passo para isso”. Esse aspecto é igualmente destacado por Ana Flávia “Para mim, foi muito importante para criar vínculos com outras pessoas. Também para me sentir parte dessa universidade, dessa atlética”, além disso, a estudante dá ênfase à troca de experiências proporcionada pela calourada como um importante aspecto cultural da festa: “Do ponto de vista cultural, a calourada é imprescindível, pois ela não une só os calouros, eu, por exemplo, fiz amizades também com veteranos, com pessoas de outros cursos, com gente que estava perto de concluir o curso, e eu carrego essas amizades até hoje”.
Na condição de manifestação artística, a calourada retrata um perfil do lugar onde está sendo realizada, do curso que a promove, do perfil do estudante que participa da festa. Hernandes explica que o evento é construído a partir de elementos com os quais os alunos possam se identificar e gostar, ele adentra nesse tema das distinções de perfil da calourada: “A calourada de artes e comunicação social tem um perfil totalmente diferente de uma de odonto ou de engenharia. São alunos diferentes, que gostam de coisas diferentes, mas que no fundo estão todos representando um pouco do perfil do aluno universitário”. Ademais, ele compara as diferentes formas de recepção em lugares distintos: “Na Rural (UFRRJ), você só deixa de ser calouro a partir do quarto período, enquanto na UFF, quando você passa o primeiro período você já é veterano, já tem seus calouros. Isso mostra que as universidades em si têm diferenças entre a forma com que vão acolher o ingressante. Eu poderia citar a de Viçosa (UFV) em Minas Gerais, cuja playlist do evento é totalmente diferente da daqui: aqui o aluno tende a gostar mais de funk, ou de pop, enquanto lá tem um destaque para o sertanejo. Há essas particularidades que representam um pouco do que é a cultura do universitário daquele lugar”.
As expectativas para a calourada pós-pandemia são descritas pelos entrevistados, ambos destacam o fato de esse evento vai unir os vários grupos de ingressos na universidade, tanto os que ingressaram durante o ano de 2020 - já diretamente no ensino remoto, quanto os que virão no período de 2021.1, cuja esperança é que seja o primeiro período de aulas presenciais após a pandemia. Hernandes cita que esse grande aglomerado de pessoas será uma operação complexa, mas que em sua palavra de representante da atlética “temos totais condições de dar conta”. Ademais, ele cita o que espera do evento “Eu estou esperando muita gente animada para poder curtir um evento assim, inclusive eu (risos) - que sou suspeito para falar. A expectativa é que todos consigam aproveitar o que não conseguiram durante esses meses, que foram difíceis para todos. Acho que nesse contexto, vale ainda mais a pena fazer eventos, pois vejo que eu - aliás, a atlética, está proporcionando alegria para os estudantes, e isso me motiva a continuar fazendo esses eventos”, entretanto, ele acrescenta que só vislumbra essa possibilidade a partir da chegada e disponibilidade da vacina para a Covid-19. Ana Flávia, que também faz parte da atlética - da comissão de torcida, apresenta o que espera: “vão estar todos ansiosíssimos por uma festa, vai ser uma das primeiras pós-pandemia, e vai ser interessante: reencontrar nossos amigos poder estabelecer novos vínculos. Acho que vai ser muito boa, estou com as expectativas nas alturas, e aguardando a vacina ansiosamente” conclui.
Adorei a descrição presente no primeiro parágrafo. Matéria muito bem construída. As fontes possuem papel fundamental pra legitimar o tema abordado. Parabéns, Vitor.
ResponderExcluirLaura Furtado
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