Tá dando onda em Nikity

A criação da paixão pelo surf através das ondas nas praias niteroienses.

por João Figueiredo

Foto: Itapuca, Niterói (RJ) / Créditos: André Cyriaco, Waves


Dodô era mais um jovem de Niterói. Nos dias de sua juventude, como de costume, era convidado por seus amigos para encarar algumas ondas nas praias da cidade. Ao colocar a prancha sobre as águas era cercado pela expectativa de flutuar leve como uma pena deslizando sobre a maré, uma energia ímpar contagiante. Certo dia, um sentimento novo nasceu: morando perto de Itapuca o rapaz percebeu que seu relacionamento com o mar era diferente de qualquer outro:

— Eu acabei seguindo mais do que os meus amigos. Eles pegaram onda por um tempo e pararam. Eu comecei a entrar em campeonatos e assim foi meu início. Eu tinha 10 anos de idade! — Essa foi a gênese de um dos mestres do surf de Niterói. Hoje professor do Niterói Surf, Dodô é um dos apaixonados pela tradição símbolo de praias como Itacoatiara e Itapuca, desde os anos 60 construindo uma identidade própria na comunidade.


A história do surf em Niterói

No princípio da cultura praieira na cidade, não havia a mesma estrutura existente nos dias atuais. Sem escolas técnicas ou orientadores de educação física, os pioneiros do surf juntavam-se em grupos para desbravar o litoral fluminense sem grandes pretensões, apenas em busca do tubo perfeito. Foi com esse espírito curtindo o mar de Niterói que nomes como Angelo "Giló" e Jorge "Marreco" foram convidados para representar a cidade no II Festival Nacional de Surf realizado na praia de Itaúna, em Saquarema, no ano de 1976. O surfista Giló tinha 24 anos na época e ainda cursava matemática na UFF.

De lá pra cá, os adeptos do esporte cresceram e as praias começaram a ficar mais agitadas, não só pelos ventos, mas cada vez mais por novas gerações de surfistas. E praias que antes eram só lazer para os jovens, tornaram-se palco de competições amadoras e circuitos acirrados, desde Itapuca, no seu fundo de pedra com ondas difíceis de quebrar, até Piratininga, no seu fundo de areia com ondas tubulares. O canal de Itaipu também ganha seu destaque ao representar o berço do surf de Niterói onde a maioria das escolas locais levam seus alunos para darem os primeiros passos com a prancha.


O velho lobo de Itacoatiara

Crescer educado pelas ondas da costa niteroiense é um privilégio para poucos. Por mais que os maiores campeonatos no país estejam localizados nas grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis, as ondas pesadas de Itacoatiara acabam formando uma base sólida e facilitando a adaptação em qualquer outro ambiente. É o que conta um dos veteranos do surf local, Ricardo de Melo, apelidado pelo seu grupo de amigos e alunos como Dodô.

— Isso me ajudou muito. Em todos os lugares em que eu ia pegar onda em que as ondas tinham um pouco mais de "power" e rodavam, que é formar aquele tubo, eu me sentia muito bem, muito à vontade, porque esse era meu dia a dia aqui em Itacoatiara: surfar onda forte, surfar onda tubular. — conta, garantindo ser o melhor lugar para praticar o esporte. Para ele, a praia de Itacoatiara pode ser comparada com as praias do Havaí. Inclusive, ainda afirma que nos últimos anos, muitos atletas tem se preparado para o inverno havaiano com frequência na praia de Itacoatiara, treinando por uns dias para se adaptar a força da onda.

Na vida do bravo marinheiro dos tubos, a preparação para entrar no mar começa no dia a dia. Evitando os excessos do mundo atual ele busca o seu melhor desempenho em cima de sua prancha e deslizando nas paredes das ondas. Uma sensação mágica que o faz direcionar toda sua vida para esse universo, surfar transforma-se de fato em seu estilo de vida, tanto que hoje é um dos professores e fundadores da Escola Niterói Surf, uma voz experiente na construção de um legado rico de novos talentos e amantes do esporte. Através de seus ensinamentos surgiram grandes atletas, amadores e também uma galera que apenas quer pegar uma onda. Além disso, a escola também conta com uma equipe de profissionais preparada para ensinar qualquer pessoa interessada, até mesmo o mais leigo.


Um símbolo do surf niteroiense

Além de poder contar com as escolas de formação de sufistas para a manutenção da tradição na comunidade, Niterói pode apoiar-se em organizações como a ASN (Associação de Surfe de Niterói) para manter viva a paixão pelo esporte. A associação nasceu no ano de 1980 e completa 40 anos em 2020. Segundo os relatos, surgiu a partir do aparecimento de outras associações. A intenção era se organizar para realizar competições e ter representatividade social.

Hoje a ASN possui 4 frentes de trabalho: circuito ASN, com 3 etapas para surfistas a partir de 16 anos; circuito Nova Geração, com 3 etapas para as categorias sub-8, sub-10, sub-12 , sub-12 feminina e sub-14; Festival Surf Campeão, funcionando como uma gincana gratuita para crianças a partir de 4 até 14 anos, um grande "recreio" alusivo a uma competição de surf, porém com todos os competidores recebendo no final uma medalha de campeão; Time ASN, compreendido como um time de competição que contempla os melhores de cada categoria do circuito Nova Geração, com o time ainda recebendo uma infraestrutura para competir no circuito estadual do Rio de Janeiro. Por causa da pandemia, a ASN não conseguiu realizar nenhuma atividade no ano devido às restrições municipais


Comentários

  1. Adorei a matéria! O tom bem leve já se inicia no título e permanece até o final. Gostei muito que você parece ter se inserido nesse mundo do surf, falando sobre os tipos de ondas que tem em cada praia e tudo o mais. Muito bom. Não consegui achar nenhum erro! Bem completinha e bem escrita. Parabéns!

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  2. Primeiro de tudo: adorei o título!
    Sua matéria é muito bem estruturada, gostei que dividiu em tópicos. Você escreve muito bem, meus parabéns!

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