Os estrangeiros com os quais você cruza na Cantareira sem saber.
Por Luiza Menezes
Foto: Arquivo de Danni Cabrera
O programa da TV universitária da UFF “De lá para cá” conta as histórias de uffianos e de estrangeiros, temporariamente uffianos, que encontraram na universidade sua possibilidade de realizar um intercâmbio. Podendo ser financiado ou não, este, que é fruto de um acordo de cooperação com mais de 251 instituições de pelo menos 43 diferentes países, opera de acordo com a situação de cada discente. O programa de Mobilidade da UFF, que já enviou mais de 1000 de seus alunos desde o ano de 2011, recebe, em média, mais de cento e vinte estrangeiros a cada ano. Um deles foi Danni Cabrera.
Danni veio do Instituto Tecnológico Superior de Poza Rica (México). Cursou Ciências da computação por um semestre, de fevereiro a julho de 2019. Em entrevista ao Alô, Gragoatá!, contou que além de ser a única universidade do Rio de Janeiro que possui parceria com a sua, a UFF também é aquela que possui o programa mais próximo do de sua faculdade. São Paulo, Uberlândia, Florianópolis, muitas eram as opções fora daqui, mas, para ela, não restavam dúvidas: desde os 14 anos sonhava em conhecer o Rio. Relata ainda que teria começado a prestar atenção no país por meio da Copa do Mundo de 2014, vindo posteriormente a descobrir diversos artistas como Luan Santana, Michel Teló e Anitta, dos quais até hoje é fã.
Desde então aprecia a língua, sendo isso justamente o que despertou o interesse por ter melhores condições de utiliza-la. No entanto, como o imaginado, essa acabou constituindo-se como uma das principais dificuldades de Danni que, felizmente, encontrou auxílio na Universidade: o programa incluía previamente um curso de português.
Foto: Arquivo de Danni CabreraDe acordo com a mexicana, esse estruturava-se em ao menos 2 semanas de aulas, sendo de decisão do estudante continuar ou não. “Fiz questão de comparecer durante todos os meus 6 meses lá”, disse a jovem que, inclusive, relata ter procurado assumir a mesma postura em relação a famosa Cantareira, espaço de socialização localizado logo em frente ao Gragoatá. “É que no México não temos isso... E eu acho muito importante esses encontros fora de sala de aula. Não só por aproximarem a turma, que irá conviver por um bom tempo junta, como também para relaxar da rotina pesada. E tudo isso ainda nos arredores da faculdade? Acredito que ela fique ainda mais marcada em nossa memória assim, porque tudo que você vive durante esses 4, 5, 6 anos de curso se concentra muito ali”.
Para além dessa, a estrangeira citou outras diferenças culturais que a marcaram: a vestimenta. “"As pessoas pareciam se vestir quase tipo para um dia na praia! E eu fiquei chocada porque no México não é assim. Lá você precisa se vestir com uniforme e não pode assistir a aulas, por exemplo, sem sapatos. Não pode se vestir para aulas como pra praia, entendeu? (risos)". Além dela, destaca o famoso jeito “dois beijinhos” dos cariocas: “O meu dia preferido na UFF foi quando eu estava no bandejão e todos começaram a cantar... Não sei se me lembro como era a canção, acho que “parabéns pra você, nessa data querida...”, e todos, todos juntos. Achei isso tão lindo! No México eu não vejo isso”.
Dessa convivência, Danni diz guardar o afeto e o respeito aos limites e divergências, pois pôde contar com importantes contribuições e exemplos em seu percurso: sua madrinha Mayara por exemplo. A primeira pessoa que encontrou quando chegou ao Rio. Isso porque a Universidade também prepara um projeto de apadrinhamento para o intercâmbista (PAI), identificando os “uffianos” que gostariam de se voluntariar para tal. Foi o que fez o estudante de Engenharia Rodrigo Cavalcanti, que deu uma declaração acerca da experiência para o site oficial da UFF: “É uma oportunidade de ter contato com pessoas de países, culturas e pensamentos diferentes, né? E o mais legal é que muitas vezes é como se você estivesse viajando sem sair do seu país. É como se rolasse um gostinho do que pode ser uma experiência de intercâmbio, sabe?”.
Cabrera ainda afirma que a Universidade disponibiliza uma lista de repúblicas e moradias já frequentadas por outros estrangeiros, o que a facilitou muito na hora de procurar um imóvel.
Para ela, o que fica são as inúmeras lições que aprendeu: “Adaptação, ressignificados. Eu passei por esse processo em diversas das situações com as quais me deparei lá. Primeiro a junção de linguagem de programação com um idioma diferente do meu, que foi enlouquecedor em alguns momentos (risos), mas que também me deu a percepção de sob que linha funciona a minha atividade profissional em outros ares. Já sobre estar sozinha em um lugar totalmente desconhecido, no qual sou mais ‘eu por mim mesma’ do que nunca, olha, só teve uma coisa que me fez crescer mais do que isso: estar em contato com pessoas de diferentes origens”.
“Hoje tenho amigos de vários países, que pensam e vivem coisas diferentes todos os dias. As pessoas acham que têm, mas definitivamente não têm ideia do quanto isso pode ser rico”. Foi essa mesma importância de troca que levou o intercambista, Avelino Bobo, a ser convidado para palestrar acerca da realidade linguística do Timor Leste, seu país. Lívia Reis, superintendente de Relações Internacionais, reiterou esse valor em declaração ao site oficial da Universidade: “São inúmeros os relatos de docentes e discentes que retratam seus contatos com alunos de Mobilidade Internacional de forma positiva. Muitas vezes, eles fazem observações e constatações durante as aulas e atividades que fomentam novos e instigantes debates”.
É por isso que, se pudesse dar a alguém somente um conselho, Danni Cabrera com toda certeza diria: “Faça intercâmbio, porque fazer intercâmbio foi a melhor coisa da minha vida. Todos os estudantes deveriam fazer um dia. E se forem fazer, não se esqueçam de que há um lugar que possui um Cristo Redentor (risos)”.
Foto: Arquivo de Danni CabreraAcesse http://www.uff.br/?q=grupo/internacional para saber mais sobre o programa de Mobilidade Internacional da Universidade Federal Fluminense e https://www.youtube.com/watch?v=vysShKe5a0g&list=PLn7pl_cElpoH-Mwh8R72o1RQx2N_dXK92 para acesso às histórias de mais intercâmbistas no programa “De lá para cá”.
Como eu disse em absolutamente todas as vezes que li uma matéria sua, vou dizer mais uma: como editora, me sinto mais inútil que os seguranças do Jason Momoa quando vou revisar seus textos! hahahaha
ResponderExcluirLu, mais um que ficou incrível! Gostei muito de depoimento da Dani (principalmente porque tenho certeza que você fez excelentes perguntas) e amei que você trouxe essa temática pra editoria. Ótimo recorte! Achei a sua matéria intimista e muito prazerosa de ler! Parabéns, mais uma vez!