Sem previsão de retorno das aulas presenciais, sobrevivem as interações sociais das atléticas universitárias?
Por Bruna Navarro
Foto: Facebook AACS/ Fotógrafa Lilo Oliveira
Algumas matérias aqui no blog Alô, Gragoatá! apontam desde 2019 a dificuldade financeira de se gerir uma atlética. Com a pandemia da Covid-19, a dificuldade se intensifica. Mas, para além da questão financeira, como ficam as questões das interações e do engajamento socioculturais que as atléticas promovem nesses espaços?
Dentro dos cursos universitários, para além da influência esportiva, estas possuem enorme importância no processo de socialização e interação dos estudantes. É recorrente ouvir os universitários falando sobre como seus grupos de amigos foram totalmente expandidos e sobre como conheceram diversas pessoas através da atlética.
Pensando nisso, o Alô, Gragoatá! foi atrás de estudantes que participam direta ou indiretamente de atléticas, afim de entender qual o impacto que a pandemia está causando nessas interações, para além do prejuízo financeiro.
Mariana Fonseca, estudante do curso de Produção Cultural, acredita que a atlética tem uma influência enorme na vida acadêmica dela e de muitas pessoas. Mesmo não tendo um vínculo direto, já jogou tênis de mesa em 2019 pela AACS e pontua que foi por conta dessa aproximação com a atlética que conheceu tantas pessoas “Através da atlética eu ampliei muito meu núcleo de amigos, conheci muita gente de outros cursos”, disse.
Mariana leva em consideração as tentativas feitas pela AACS de manter uma interação através das plataformas virtuais, mas acredita que as dificuldades são imensas e, mesmo com muito esforço, a sensação no ambiente online não é a mesma “Acho que a gente nunca esteve tão conectado e ao mesmo tempo tão sozinhos”, concluiu.
Já, Letícia Merotto, estudante de Jornalismo e jogadora pela AACS, acredita que para além das dificuldades que estão sendo enfrentadas e por mais que não seja a mesma coisa, a atlética segue ocupando um espaço importante nesses processos de interação e acredita que é necessário paciência e que as pessoas sejam solidárias ao levar em consideração os esforços que estão sendo feitos.
“A atlética tem um papel significativo de integrar as pessoas que estão chegando, os calouros. [...] Claro que o impacto da pandemia foi muito forte. A gente perde condicionamento físico, a gente perde interação. [...] Mas só de eles oferecerem esse espaço (de recepção), é isso, nós precisamos reconhecer esse esforço em não parar", comentou.
Quando o assunto é tratado com o vice-presidente da Atlética de Artes e Comunicação Social – AACS, a preocupação é ainda maior e as dificuldades revelam-se para além de manter as interações em meio a uma pandemia. Enzo Santos, estudante de Desenho Industrial na UFF, se preocupa com a captação de novos integrantes para a atlética e define como “um impacto gigantesco” quando se refere aos desafios que a pandemia tem trazido para as atléticas.
Ele acredita que a dificuldade de não angariar uma quantidade de alunos, como era possível no presencial, reflete diretamente no futuro e na renovação dos cargos da atlética, e se preocupa muito, já que considera a AACS como um espaço fundamental de relações e “elo de vivências universitárias diversas.”. Afirma que esse não é um problema que afetou apenas a AACS "Conversei com dirigentes de muitas atléticas e todos afirmam que estão passando pelos mesmos problemas”, disse.
No entanto, mesmo nesse cenário, Enzo tem tido uma expectativa maior na renovação da atlética, considerando alguns resultados mais positivos em resposta às iniciativas feitas pela atlética para alcançar e integrar os calouros de três semestres pandêmicos.
Os desafios são enormes, mas as iniciativas e os resultados têm apresentado melhoras nesse ano de 2021, quando comparados aos resultados de 2020, ano em que se deu a pandemia no Brasil.
Fonte: Facebook AAAPO - Atlética Engenharia UFF
Nuno Gaspar, estudante de Engenharia Civil na UFF e um dos criadores da PERUFF (torcida independente), considera fundamental que os alunos participem da atlética. Mesmo sendo o criador de uma torcida independente, não deixa de admitir que o papel de integração promovido pela atlética foi essencial para criarem a torcida: “Não tem como comparar. Foi a Atlética que colocou a gente capaz de um dia fazer a torcida. Nos jogos que a gente lá, ainda calouros, onde os caras mais cascudos da atlética botaram a gente para interagir, para participar".
Nuno afirma que a dificuldade enfrentada pela pandemia sem dúvidas atinge a atlética, mas considera os desafios muito maiores para uma torcida organizada independente, como a PERUFF: “As interações foram para o zero. Acho que como a atlética é algo mais bem organizado, tem os funcionários, tem os cargos, acho que a interação deles continua de certa forma, nas redes sociais. Então, quem era amigo e compõe a atlética, de certa forma continuou tudo igual. Mas na PERUFF não, a gente era 100% presencial. É muito mais complicado.”, conclui.
Que as atléticas possuem um lugar de destaque quando o assunto é esportes, já sabemos. Mas, mais do que nunca, se percebe que as interações promovidas nesses espaços têm feito muita falta e causado preocupação por conta da pandemia. A saudade é constante e as incertezas do que ainda virá amedrontam a todos. Por agora, o que fica são os esforços de ressignificação dessas atléticas, os esforços de se reconstruir e procurar outras formas de manter o engajamento. Ainda que, sem o mesmo impacto do presencial, seguir buscando alternativas de manter vivo o espaço de interação sociocultural que as atléticas possuem.
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