No cenário de pandemia e isolamento social, a música assumiu um papel importante para entreter e conectar estudantes
Por João Pedro Boaretto
Foto: João Pedro Boaretto, 2021
O ano de 2020 foi surpreendente em diversos aspectos, principalmente para os calouros das universidades federais brasileiras. A euforia, a ansiedade e as expectativas pelo primeiro período de aulas foram interrompidas pelas consequências da pandemia da Covid-19. Distanciamento social, quarentena, lockdown, ensino remoto, aulas síncronas e assíncronas foram palavras que rapidamente tomaram conta do vocabulário dos estudantes. Isolados em suas casas, os eventos sociais e o contato com os amigos e familiares foram suprimidos, mudando as formas interpessoais de relacionamento. Essa nova vida e o tão falado “novo normal” alterou os sentimentos, as angústias e os sonhos dos jovens, afetando diretamente sua saúde mental e ressignificando hábitos rotineiros, como ouvir músicas em casa.
“Apesar dos jovens saberem e entenderem a necessidade do isolamento social, isso não diminui os impactos negativos na saúde mental... A perda da rotina, contato com os amigos, cancelamento de provas e cursos, viagens... enfim, perder essa liberdade e imediatismo que fazem parte da rotina dos jovens, se torna desafiador lidar com tudo isso”, afirma a psicóloga Ísis Rocha.
“É interessante criar estratégias para minimizar os impactos causados pelo isolamento social: considero importante vocês se permitirem sentir, deixar que os sentimentos venham à tona a fim de aprender com eles; criar uma rotina possível dentro da sua realidade, separar momentos para si, acolhendo o que está sentindo e se permitir não estar bem todos os dias”, ela acrescenta, afirmando a necessidade de os jovens acharem alternativas para se entreterem e cuidarem de si mesmos.
Nesse cenário, sem os eventos culturais e sociais tradicionais, escutar música em casa virou um momento de diversão, dando um novo olhar a esse momento. No primeiro trimestre do 2020, ainda no estágio inicial da pandemia, o aumento de assinantes do serviço de streaming Spotify cresceu 31% em relação ao ano anterior, demonstrando o aumento do número de usuários.
Para a psicóloga, a música nos leva a uma introspecção positiva, resgatando lembranças, trazendo motivação, concentração, reflexões e relaxamento. “Quando ouvimos uma música, automaticamente acabamos estimulando e ativando várias áreas como concentração, atenção auditiva e visual também, focamos mais em nós mesmos podendo nos levar a uma introspecção positiva.”
Mesmo já tendo um ano de pandemia e de isolamento social, a música ainda é uma ferramenta de escape para aliviar o estresse e ajudar a manutenção da boa saúde mental. Diversos artistas alteraram seus lançamentos e trabalhos por conta das incertezas momentâneas, mas não deixaram os fãs sem novas músicas, garantindo sua diversão e entretenimento seguro durante esse momento tão tenso e delicado. É a função terapêutica da música no cotidiano, conhecida teoricamente como musicoterapia.
De acordo com Ísis, “A musicoterapia é uma especialização em um contexto que visa o tratamento, reabilitação ou prevenção da saúde psíquica/emocional e o bem estar. Não se trata somente da música em si, isso inclui os instrumentos, [...] os sons da natureza, o canto de um pássaro...”. Vale ressaltar que a musicoterapia não substitui a psicoterapia, é apenas mais uma alternativa complementar, como ela mesma afirma.
Músicas também vêm sendo utilizadas por professores e alunos nos momentos de estudo para auxiliar o aprendizado durante o ensino remoto. Para o professor de jornalismo Pedro Aguiar, a música é um ponto importante em suas aulas semanais. “Música cria ambiente, monta cenário, transporta para dentro da narrativa”, montando um clima de acordo com o assunto abordado, diversificando os encontros no Google Classroom, que é a ferramenta usada para ministrar as aulas à distância.
Ele cria playlists para os alunos associadas a cada época estudada, sugerindo que ponham para tocar enquanto leem os textos e veem os slides correspondentes. “Com o ensino remoto, isso fica até mais fácil que no presencial: dá pra tocar música durante as aulas, em BG (background, música de fundo, em volume baixo), e tocar alguns trechos para dar exemplos, porque os equipamentos de vídeo e som estão integrados. A diferença entre o ensino presencial e o remoto é análoga àquela entre o teatro e o cinema, então ambos podem incorporar trilha sonora.”
Entretanto, ele garante que não é fácil deixar os encontros online mais dinâmicos e lúdicos. “Só que não é nada fácil de pôr em prática [conciliar diversão e didática]. Nós, professores, não recebemos esse treinamento previamente. A UFF chegou a fazer alguns cursos de capacitação para docentes, mas eles tiveram acesso restrito (o ideal seriam cursos abertos, para acesso universal) e foram, eles mesmos, carentes em métodos lúdicos.”
Além disso, existe ainda a dificuldade de se adaptar às tecnologias atuais, à falta do espaço físico da sala de aula e à dissonância na aceitação por parte dos alunos. “Alguns de nós [professores] têm mais facilidade com o uso das ferramentas digitais e mais criatividade para elaborar soluções inovadoras de ensino, enquanto outros temos menos. Ou, às vezes, até achamos que estamos oferecendo um material super diferente e lúdico para os alunos, e essa aceitação não é ampla”, afirma o professor.
A reinvenção e adição de outras técnicas de relaxamento vem demonstrando grande sucesso. A arte, principalmente a música, tem sido um pilar fundamental para entreter, manter uma boa saúde mental e ensinar enquanto todos anseiam por dias melhores.
Só estudo ouvindo minha playlist de lo-fi! Muito bom.
ResponderExcluirPerfeito! Texto mt bom!🤩
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