As dificuldades que as mães solo do Gragoatá enfrentam durante a pandemia

Dentre as 11 milhões de mães solteiras brasileiras, de acordo com dados do Instituto Locomotiva, convidamos três, que moram no Gragoatá, para relatarem seu cotidiano.

Por Thayssa Rios

MAE e filha - mãe solteira

Foto: Blog Famílias e Famílias

“Ser mãe não é uma tarefa fácil, é uma luta, parece que estou lutando em dobro de ter que criar meu filho sozinha. Ainda tem que aprender a levar as novas dificuldades que essa pandemia trouxe de brinde”, afirma Emanuelle Guimarães, mãe de três filhos e moradora do bairro do Gragoatá.

Mães solo é como são popularmente chamadas as mães que não podem contar com a presença e auxílio dos pais, o que, na maioria das vezes, gera mais dificuldade na criação dos filhos.

Atualmente, no cenário da pandemia da COVID-19 em que o mundo inteiro se encontra, as desigualdades sociais ficam evidentes e o governo brasileiro toma algumas medidas com urgência para atender as vulnerabilidades como, por exemplo, o valor do auxílio emergencial dobrado para as mães solo.

Com essa situação pandêmica, muitos dos comércios locais faliram, resultando em desemprego de muitos moradores do bairro. Entre os desempregados está Bruna Santos, com um filho de cinco anos e que está sem contar com a pensão do pai dele há dois anos. Ela afirma que “é muita responsabilidade, é tudo em cima de você. Você se sente sobrecarregada, você olha para o lado e não pensa mais em você, só pensa naquela criança”.

Por causa da pandemia ela teve que contar com a ajuda da mãe dela, que também é mãe solo, por não conseguir pagar o aluguel de onde morava. Sem emprego a Bruna tem dificuldade de conseguir até o remédio de asma do filho: “No posto de saúde nem sempre dá, como que decide entre o remédio e um pão ou um biscoito?”

Em dezembro de 2020, o auxílio emergencial foi cortado, isso agravou a situação até das mães que conseguiram um emprego informal momentâneo, como é o caso de Daniele da Silva que trabalha em um restaurante ganhando menos do que um salário mínimo por mês para sustentar seus dois filhos. Ela relata: “(a gente) trabalha com comida e vê o filho perguntar ‘mamãe, tem um biscoito?’ e quando tem não pode dar o que ele gosta porque é mais caro”.

As três entrevistadas Emanuelle, Bruna e Daniele relataram que antes da pandemia a situação já era difícil porque, mesmo recebendo auxílio governamental do programa Bolsa Família, o valor não condiz com a necessidade socioeconômica. Sem formação acadêmica adequada, não conseguiam emprego de carteira assinada, porém havia mais oportunidades do que atualmente, mesmo que fossem informais.

Elas são três das diversas mães que abriram mão da formação acadêmica para garantir a alimentação e o estudo dos filhos. No momento, com os colégios e creches do bairro do Gragoatá fechados, ficam preocupadas por não ter com quem deixar as crianças para trabalhar. 

Segundo o Instituto Locomotiva, 57% das mães solo vivem abaixo da linha da pobreza e 72% estão tendo problemas para se alimentar. As ajudas vêm através dos vizinhos, dos familiares, de lugares que estão doando cestas básicas e programas criados na internet, como o Segura a Curva das Mães que recolhe doações para distribuir pelo Brasil.

Com todas as dificuldades elas relataram que seguem lutando e passando ensinamentos para os seus filhos: “Eu tento ser mãe e amiga, mostrar como o mundo é. Ter respeito pelo próximo e dar valor a educação, estudar para tentar um bom emprego e não passar pelo o que a gente passa”.

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