Literatura em diálogo: conheça o podcast Muiraquitã

No primeiro semestre de 2021, o podcast Muiraquitã foi lançado por alunos da UFF para difundir e discutir temáticas literárias estudadas na universidade e trazer ao diálogo outras produções marginalizadas no cânone nacional.

Por Maria Eduarda da Costa Santos

Lançado durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, o podcast se apresenta em mídias digitais e aborda temáticas estudadas nas áreas de literatura brasileira e teoria da literatura na Universidade Federal Fluminense. Encabeçada pelos alunos de Letras na UFF Ana Amorim e Frederico Cabala, a Muiraquitã existe com o subsídio da Lei nº 14.017, intitulada Aldir Blanc, cuja função é oferecer incentivo financeiro para o setor cultural durante a pandemia. O projeto conta com o trabalho de outros colaboradores e uma extensa atividade de pesquisa e produção que, nas palavras de Ana, “não seriam possíveis sem o incentivo de políticas culturais”.

Ana e Frederico, que também são jornalistas, buscaram na linguagem do podcast uma maneira de tornar aberta a produção acadêmica realizada na UFF na área em questão e projetar os assuntos abordados sob a luz dos trabalhos de alunos (da graduação e da pós-graduação) e professores. Nesse ponto, há, no projeto, a preocupação de construir uma produção de linguagem acessível a pessoas de fora do meio: “uma preocupação central é tornar os assuntos atrativos, tirar um pouco da roupagem acadêmica deles e tornar mais interessante para pessoas de outras áreas terem contato e, quem sabe, se interessarem”, afirma Frederico.

Foto: Victor Godoi (Instagram @godoi.ilustra)

Autoria feminina, herança indígena, sertão brasileiro e colonização são alguns dos temas discutidos nos episódios da primeira temporada do podcast. Com a adição do olhar crítico dos alunos e professores convidados que pesquisam esses tópicos, Ana, a voz por trás do conteúdo, aborda a construção do cânone literário nacional e problematiza a exclusão de autores e pontos de vista marginalizados no passado. Acionar a crítica atual para revisitar a construção clássica, nas palavras de Frederico, é uma tentativa de “retomar algumas heranças do cânone, mas de maneira a repensar alguns de seus pressupostos, questionar por que ele foi formado de tal maneira, quais as limitações disso que está lá escrito e também o que tem ali de potente.”

O nome Muiraquitã faz referência ao amuleto perseguido pelo personagem Macunaíma na obra homônima de Mário de Andrade. O objeto indígena buscado por Macunaíma também serviu de inspiração para outro braço do projeto: um canal no YouTube com produções de lives com escritoras contemporâneas e mediadores convidados. Nessa “busca pela Muiraquitã”, o projeto abriu ainda mais o diálogo e convidou seis escritoras de diferentes partes do Brasil que, segundo Ana, “representam facetas diferentes do que é escrito hoje”. Nomes como Grace Passô e Ana Frango Elétrico, respectivamente dramaturga e musicista, passaram pelo canal e trouxeram contribuições de outras artes para a discussão. Além disso, as lives contam com tradução para libras, tornando o conteúdo acessível para pessoas surdas, e os episódios do podcast também são disponibilizados no YouTube.

Foto: Live "Cenas de resistência"


Para Bianca Moura, aluna da graduação em Letras na UFF, o projeto é uma forma acessível de conhecer autorias atuais não tão visibilizadas na universidade, como por exemplo, a indígena. Bárbara Cardoso, aluna do mesmo curso, conta que buscou em podcasts sobre literatura a proximidade com sua área de interesse durante a pandemia. Bárbara e Bianca afirmam enxergar no projeto uma via para discutir literatura em uma perspectiva mais plural e (re)conhecer o que é produzido dentro e fora do meio acadêmico. No ponto de vista de Bianca, estabelecer esse diálogo “é importante em vários sentidos, não só na pandemia, mas é importante academicamente, é importante [para mim] enquanto ser humana, enquanto futura professora e também no meu lado mais subjetivo”.

Para o futuro, de acordo com Ana, a previsão é de manter o site do projeto www.amuiraquita.com.br  abastecido com materiais. A continuidade dos episódios estará ligada ao surgimento de novos financiamentos, porém a página no Instagram, @amuiraquita, será nutrida com informações sobre uma possível volta no segundo semestre de 2021. Até lá, a primeira temporada da Muiraquitã, finalizada no fim de março, está disponível integralmente no YouTube e no Spotify.


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