Mãe de Eliza Samúdio critica apoio ao goleiro Bruno: “memória muito curta”

Sônia Fátima Moura conta como se sente ao ver a retomada de Bruno Fernandes ao futebol: “A dor do teu próximo não causa dor em você.”

Por Bruna Navarro


Foto: Divulgação Boa Esporte e Arquivo Hypeness

No Brasil, o “país do futebol”, não é difícil se deparar com as polêmicas envolvendo os “grandes nomes” que entram em campo. Muitas delas envolvendo mulheres e violência. Um dos casos mais emblemáticos envolve Bruno Fernandes, acusado de assassinar a modelo Eliza Samúdio, em 2010. Recentemente, sondado pelo Clube Atlético Carioca, de São Gonçalo, e agora anunciado pelo Araguacema -TO, o goleiro tenta retomar sua vida no futebol, enquanto a mãe de Eliza Samúdio, Sônia Fátima, não vê a situação de maneira positiva.


Em entrevista ao Alô, Gragoatá!, Sônia Moura não acredita que o retorno das atividades esportivas do goleiro seja um bom exemplo dentro do futebol. Ela, que sempre foi apaixonada pelo esporte, não vê com bons olhos a retomada: “Não gostaria que ele voltasse ao futebol. Eu acho que ele não é um bom exemplo. [...] Alguém vai pesquisar sobre ele, vai ver o passado dele lá. Vai aparecer que ele mandou matar, com requinte de crueldade e covardia, a mãe do filho dele.”


Bruno Kling, empresário de Bruno Fernandes, analisa que, em um sistema carcerário, o retorno de um ex-presidiário ao mercado de trabalho é sempre algo delicado e “no caso do Bruno já é mais complicado, além de ser uma pessoa pública conhecida mundialmente [...] é uma das pessoas mais famosas que repercutiu um crime em cima de mulher”, diz refletindo sobre o retorno de Bruno.


No que diz respeito à ressocialização, Sônia acredita que Bruno deveria mudar de profissão. “No caso dele e de tantos outros que cometem crimes hediondos, crimes contra a vida, ele poderia muito bem procurar uma outra profissão. Por que não outra profissão? Porque o futebol é uma forma dele bater na cara da sociedade. Porque com o futebol ele está na mídia”, contesta Sônia, em tom inconformado.


O debate sobre o retorno do goleiro, sobre seu processo de ressocialização e sobre como a justiça e a mídia tem lidado com o passado dele é intenso. Há quem acredite que seja necessário deixar que ele volte à uma vida normal e há quem acredite que seja uma afronta o retorno dele após os acontecimentos de 2010. “A sociedade, em geral, tem a memória muito curta”, afirma Sônia quando o assunto é abordado. Ao passo que, o empresário do goleiro conta que “Hoje eu saio com o Bruno em qualquer lugar, junta 100, 200 pessoas, fazendo fila para tirar uma foto com ele”, alegando a torcida de muitas pessoas por Bruno.


Quando tudo aconteceu, o goleiro era um dos grandes nomes do Flamengo. Apesar disso, o empresário confirma que ele enfrenta alguns problemas para negociações: “Ele sabe que se ele estiver em um clube pequeno e der resultados, ele vai chegar em um clube grande. Ele tem muita certeza disso e eu posso te afirmar que ele vai chegar em um clube grande. [...] Se o Vasco da Gama hoje, tivesse o Eurico como presidente, como eles já procuraram a gente, o Bruno já estaria lá. No maior rival do Flamengo, onde ele é ídolo.”, afirma, declarando que o maior problema que enfrentam no momento com “os grandes” é a questão dos patrocínios, já que sondagens não faltam.


Sônia não vislumbra bons caminhos para o goleiro, primeiro pelo passado que carrega, segundo porque não enxerga mais o mesmo desempenho nele: “Eu não acredito que um clube grande vá contratar ele. É um marketing negativo e ele não está numa boa forma física. Ele envelheceu. Ele não é mais o que ele era nove anos atrás.”, afirma Sônia. Mas, Bruno Kling deposita todas suas fichas em Bruno Fernandes. O empresário acredita que é uma questão de tempo: “O talento dele é imenso, é indiscutível. [...] Ele não envelheceu. Ele está com 36 anos e, se você pegar fisicamente, ele é a mesma pessoa. Com o mesmo empenho”, diz o empresário com esperanças.


Recentemente, focado em seu retorno ao futebol, o goleiro Bruno demonstrou insatisfação com a imprensa e com a influência que a mesma detém sobre suas negociações com o que ele entende por grandes clubes no Brasil “Eles (a imprensa) não deixam porque sabem que eu vou destruir toda a imagem que eles criaram da minha pessoa dentro de 10 anos. Se eles deixarem, eu sei que tenho condições de reverter muitas coisas que eles criaram na cabeça das pessoas”, declarou o goleiro em live na última quarta-feira (31), em seu perfil oficial do Instagram.


Bruno Fernandes ainda cumpre pena, mas desde 2019 em regime semiaberto. Finalizou em janeiro deste ano seu contrato com o Rio Branco-AC, foi sondado pelo Clube Atlético Carioca que disputa a Série C do Campeonato Carioca, mas que logo desistiu de sua contratação. Agora, foi anunciado pelo Araguacema, time da primeira divisão do Campeonato Tocantinense. Bruno Kling é o atual intermediário do goleiro, trabalha com ele há um ano e acredita no potencial para o futebol: “Ele é perseguido até hoje. E o nosso trabalho diário é convencer as pessoas que ele ainda pode dar muito no futebol”, afirma.



Foto: UOL e Divulgação Instagram



As entrevistas se deram em tons diferentes com Sônia Moura e Bruno Kling. Frente ao aparecimento dos mesmos assuntos, as respostas e a forma de retratar situações e sensações demonstram singularidades. Sônia tem quase sempre um tom manso, em vários momentos emotivos, sensíveis e que demonstram a fragilidade de revirar alguns sentimentos. O empresário Bruno já mantém uma postura mais positiva e esperançosa, de quem acredita que, o passado que envolve o goleiro, não pode definir o que ele ainda pode alcançar.


Relembre o caso – Em 2010 constata-se o feminicídio da modelo Eliza Samúdio. Ela foi dada como morta pelos investigadores, muito embora seu corpo nunca tenha sido encontrado. Três anos depois, em 2013, o goleiro Bruno é condenado a 22 anos e três meses de prisão por homicídio triplamente qualificado.


Outra situação que ronda o goleiro é sobre Bruno Samúdio, que se desdobra diretamente em como Sônia enxerga o goleiro, “Ele deve ver o Bruninho como a criança, como o ser que destruiu ele. Porque foi o nascimento dele que causou tudo isso. [...] Eu não acredito que ele mudou. Se ele tivesse mudado, ele já teria mudado as atitudes dele”, diz. 


Ainda questiona: “Que fim que eles deram pra ela? [...] O que foi feito do corpo da minha filha?”, indaga com apreensão. “Ele nunca foi homem para chegar na minha frente ou na frente das pessoas e assumir o ato dele. Quem precisa saber a verdade sou eu e o filho dele”, declara em tom de desabafo.


Já o empresário, mantém a perspectiva já apresentada pelo próprio goleiro em entrevistas para a imprensa, “Em relação ao crime, o que tem a menor culpa na situação é ele. [...] Talvez uma culpa de omissão, de uma situação que fugiu ao controle dele”. Afirma também que a história foi contada de maneira incorreta pela mídia “Interesse político e econômico. Na época o Bruno estava no auge. Imagina uma notícia transformada no nível que foi transformada. Se você parar pra pensar, a imprensa até hoje colhe os frutos de dez anos atrás. [...] O que a mídia criou, não tem nada ver.”, conclui.


Certo é que a retomada do goleiro Bruno ao futebol reativa múltiplas questões. A contratação traz consigo a ânsia do goleiro ao retorno de uma vida normal e, em contrapartida, reflete os sentimentos de uma mãe que nunca obteve respostas sobre sua filha.


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