PULE: a democratização do ensino de línguas estrangeiras na UFF

O programa oferece gratuitamente o ensino de seis diferentes línguas estrangeiras para alunos da UFF em situação de vulnerabilidade econômica.

Por Alice Arueira

 

Foto: Centrodelinguas.uff.br/pule

Universalizar, por definição, significa tornar comum e acessível a muitas pessoas, estender. Nesse propósito, o Programa de Universalização em Línguas Estrangeiras, o PULE, proporciona desde 2012 a oportunidade de estudo durante 6 semestres de um dos idiomas oferecidos nos polos da UFF de Niterói, Volta Redonda e Rio das Ostras. Os alunos atendidos são majoritariamente provenientes do ingresso por cotas afirmativas de renda e de programas de assistência estudantil da Universidade, sendo o critério de vulnerabilidade socioeconômica primordial para seleção.

A demanda e criação

O projeto surgiu pela necessidade de capacitar alunos para programas de mobilidade internacional de forma mais ampla e igualitária. Livia Reis, coordenadora geral do PULE, conta: "Quando entrei na Superintendência, a internacionalização estava em alta, com investimentos na mobilidade. Já existia na Letras o PROLEM (Programa de Línguas Estrangeiras Modernas, curso pago), mas eu achava importante haver um projeto de inclusão. Então criamos uma versão totalmente gratuita, com cinco línguas estrangeiras e com turmas limitadas, usando critérios de entrada como situação socioeconômica e desempenho acadêmico". Além disso, a coordenadora sinaliza o abismo social que aumenta quando se trata de línguas, pois muitos alunos da Universidade não tiveram a oportunidade de estudar idiomas na escola de forma aprofundada, reafirmando o propósito inicial do projeto. 

O programa aceita alunos a partir do segundo semestre da graduação e tem a duração de três anos, objetivando que o aluno obtenha proficiência no idioma escolhido, ao desenvolver habilidades de compreensão e expressão escrita e oral, possuindo certificação ao final do curso. Os instrutores das turmas são estudantes de Letras da Graduação e da Pós-Graduação, orientados pelo Departamento de Letras Estrangeiras Modernas (GLE), para que a qualidade das aulas seja mantida durante o curso.

Nesse sentido, a coordenadora geral enfatiza a importância do PULE como um projeto único no ensino de língua estrangeira, oferecido para alunos de baixa renda e de forma totalmente gratuita. Reafirma que para isso, há uma arquitetura muito complexa, com pessoas qualificadas e envolvendo várias organizações da UFF, com o intuito de oferecer um curso de qualidade. Nesse processo, beneficia-se os alunos e os instrutores, que recebem bolsa e podem praticar a docência, com ampliação do acesso à línguas estrangeiras.

O processo de seleção para o PULE Iniciante ocorre anualmente, seguindo os critérios preferenciais do projeto. Dessa maneira, as vagas são distribuídas, sendo 60% prioritariamente de alunos de programa de assistência estudantil e/ou aluno ingressante por cota afirmativa de renda, e 40% para demais alunos da universidade inscritos, sendo cotistas ou não. O critério para o primeiro grupo é o desempenho acadêmico relativo ao CR. Além disso, para preenchimento de vagas remanescentes, acontece a seleção anual do PULE Nivelamento por meio de um teste.

Clara Lemoigne, aluna do primeiro semestre de inglês, comenta sobre a importância do curso para ela: “Eu queria fazer aulas de inglês desde o fundamental, mas as únicas opções que apareciam eram cursinhos pagos, que não podíamos bancar, ou sorteio de curso de inglês, que eu não conseguia passar (...) Então, eu faço de tudo para estar acompanhando e não perder as aulas, porque sem ele [o PULE], não sei se terei outra oportunidade de estudar inglês de novo.” 

Para além de capacitar para as oportunidades de mobilidade internacional da Universidade, o Programa alcança outra demanda de seus alunos, como a acadêmica. A aluna de Farmácia e de inglês Luany Souza ressalta a necessidade da língua nos seus estudos: “Infelizmente, na minha graduação, os meus professores passam mais de 50% dos textos ou vídeos em inglês, além de todos os artigos serem em inglês e eu precisar entender”. .

Outra demanda recorrente é a profissional, devido à concorrência crescente e a relevância  de se ter uma segunda língua no currículo. Andressa, também do curso de Farmácia e aluna do PULE Francês, pontua: “Eu acredito que falar francês irá abrir oportunidades de estudo e trabalho na França, onde existem empresas de cosméticos e indústrias farmacêuticas famosas e reconhecidas, e também em outros países que falam francês, como por exemplo o Canadá.”

Kátia Modesto, coordenadora do Inglês no Programa, ressalta que o papel do curso vai além de resultados acadêmicos e profissionais: “A língua estrangeira, e o inglês, em especial, realmente abrem portas tanto no mundo acadêmico quanto no mercado de trabalho. (...) No entanto, temos uma visão mais ampla do papel da língua estrangeira — que é justamente a ampliação da visão de mundo do aprendiz-cidadão.”

Adaptação online

Por priorizar o acesso, os materiais são emprestados de forma gratuita e as aulas ocorrem aos sábados, para que não coincida com cargas horárias da graduação. Com a pandemia da COVID-19, as aulas foram adaptadas para o modelo remoto, ocorrendo em plataformas como o Zoom. Adriana Maciel, coordenadora de mobilidade e de projetos do Programa, conta que a adaptação para o ambiente online foi imediata, pois as aulas continuaram ocorrendo desde março de 2020, respeitando as condições de cada aluno e priorizando revisar o conteúdo. Dessa forma, quando o semestre da UFF retornou, em setembro do mesmo ano, os cursos puderam seguir remotamente, com a experiência adquirida nos últimos meses. Os alunos, como Clara Lemoigne, relatam boas experiências com o curso, mesmo online. 

Kátia completa, explicando parte do processo: “Nossos instrutores passaram por um processo de familiarização com ferramentas de videoconferência e também com a versão digital dos materiais utilizados. Novas dinâmicas de sala de aula foram estabelecidas e maior criatividade foi necessária para lidar com os imprevistos que a interação online impõe.”

Foto: Unsplash

Resultados e desdobramentos 

O Programa, que completará 10 anos em 2022, se desenvolveu, gerando outros resultados. Um exemplo é o PULE Servidor, que oferece aulas para funcionários, principalmente aqueles que têm contato com estrangeiros. Adriana, que participou e acompanhou a trajetória do PULE, completa afirmando que o Programa expandiu, não se tratando somente de aulas e um projeto de inclusão, mas sim algo pertencente a um processo de internacionalização da UFF, que envolve o aprendizado de línguas estrangeiras, além de passar por provas de proficiência e qualificação dos servidores.

O PULE é um projeto da Superintendência de Relações Internacionais em parceria com a PROAES (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis), Instituto de Letras, GLE (Departamento de Letras Estrangeiras Modernas) e a Fundação Euclides da Cunha. Para conhecer outras iniciativas de internacionalização da Universidade, acompanhar notícias e informações sobre o programa, o site do Centro de Línguas da UFF é centrodelinguas.uff.br/

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