Alunas da Universidade Federal Fluminense têm página de leitura de sucesso no Instagram com mais de 109 mil seguidores. Conheça o projeto Vida com Leitura.
Por Ingrid Cury
Foto: Instagram Vida com Leitura
Em meio à ansiedade e pressão do vestibular, em 2018, duas futuras alunas da Universidade Federal Fluminense (UFF), decidiram criar a página no Instagram Vida com Leitura para compartilhar fotos de trechos de livros. Eles continuam sendo encarados como refúgio de dias de estudos árduos e cansativos, um universo de calmaria e afago, tendo que ser conciliado com os estudos da graduação. Produzido apenas por diversão, hoje resulta em uma página com mais de 109 mil seguidores.
Mirella Lima, 23 anos, graduanda de direito da UFF, uma das fundadoras da página, contou que o objetivo inicial, além de compartilhar os trechos que gostavam e se identificavam, era de alcançar mais pessoas com aquelas frases.
A dedicação das postagens periódicas, o amor envolvido pela leitura e a responsabilidade com a página começou a ser divida com a universidade, em 2019, quando Mirella ingressou na UFF.
A estudante conta que a divisão de atenção e tempo entre a página e os estudos alterou a sua rotina. Houve meses que não conseguiu manter uma leitura, principalmente quando começava um livro mais denso da sua graduação. Para ela, dezembro de 2020 foi o pior mês em relação a leitura, sentia muito cansaço e desgaste, focou apenas no estágio e faculdade.
Beatriz Andreolli, 24 anos, estudante de psicologia da UFF, ingressou na universidade já no período remoto. Ela acredita que seria mais fácil conciliar a página com os estudos caso não estivesse em isolamento devido a pandemia da Covid-19. Para Beatriz, a concentração é algo que se cultiva cada vez melhor quando se tem uma rotina estabelecida e, com o cenário pandêmico, há o medo e ansiedade constante.
“O medo e a ansiedade podem ser muito paralisantes e eu me senti paralisada várias vezes nessa pandemia, porque eu achei que não estava produzindo o suficiente, não achei que estava lendo o suficiente. Então, tem sido bem difícil, mas, ao mesmo tempo, a página faz com que tudo seja mais prazeroso, porque como é algo que eu gosto muito, eu faço com muito prazer”, disse Beatriz.
As uffianas realizam lives na página do Vida com Leitura sobre debates de livros com professores de história, como Renato Pellizzari e escritores, dentre eles Andréa Pachá e JL Amaral. No início de 2021, elas participaram de uma palestra, na UFF, sobre “Literatura: Leitura e Redes Sociais” no projeto de extensão "Racionalidades x Sentimentalidades: discussões sobre música, literatura e psicanálise", coordenado pela professora Danieli Machado Bezerra.
A leitura é uma prática que pode conciliar e ajudar em diversas profissões, tanto complementando, como sendo necessária. Beatriz acredita que a psicologia e a literatura podem andar muito juntas, já que há um meio chamado "biblioterapia", em que a terapia é praticada a partir da análise de livros. Conta que um livro pode conter uma série de questões nunca pensadas e pode ajudar a resolver pontos que nunca foram percebidos. Além de exercitar o que existe de mais humano em nós, a nossa compaixão e empatia.
Mirella, por sua vez, crê que a página já está inserida no meio profissional, pois além de ser algo de conhecimento das ciências humanas e clássicos da literatura, há uma relação com o meio jurídico. E, um outro adendo seria a criatividade, a forma de encontrar novas possibilidades de marketing e de como apresentar na internet.
No começo de 2020, os acontecimentos foram sendo mais estruturados e com o número de 100 mil seguidores sendo alcançados, o Vida com Leitura começou a ter parcerias com clubes de leituras e editoras, como o Grupo Companhia das Letras, Pacote de Textos, TAG Livros, Editora Ubu, Globo Livros, Boitempo, entre outros. As fundadoras não têm retorno financeiro ainda, mas ganham livros.
Beatriz Andreolli disse que esse sucesso deve ser um resultado da dedicação, por estarem fazendo algo de forma genuína. Acredita que quando algo é feito com amor e vontade elas naturalmente crescem.
“Quando a gente atingiu a marca de 100 mil seguidores foi um choque. Porque, acho que foi a primeira vez que a gente se olhou e falou: caramba, a gente construiu uma coisa grande e sem intenção”, afirmou Beatriz.
Mirella acredita que alcançaram esse número pelo mesmo motivo que a leitura as encantou e vem fazendo o mesmo com os seguidores. Acha que, muitas vezes, uma frase mexeu com a pessoa, mudou o dia dela e segue a página pois quer receber aquele tipo de conteúdo. Relata que o grande número de pessoas só traz mais responsabilidade e felicidade.
“Eu ainda não tenho a noção e a proporção do que são 100 mil pessoas. É um estádio lotado? É muita gente e a gente tem que ter muita responsabilidade e, ao mesmo tempo, saber que as pessoas estão realmente seguindo porque gostam”, afirmou a estudante de direito.
A essência da página ainda é a mesma, com a soma de novas portas e possibilidades. Hoje o intuito vai além do compartilhamento de trechos e indicações de livros, existe o compromisso em incentivar a leitura, por meio das redes sociais.
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