Vital Brazil em parceria com a UFRJ, Fiocruz e a IDOR pesquisa um soro para o tratamento da COVID-19
Por Taís Aparecida
Foto: Reprodução do Jornal Hoje
O Instituto Vital Brazil (IVB), com sede em Niterói, desde o início de 2020 pesquisa soro para o tratamento do coronavírus com a colaboração de outras instituições como a UFRJ, Fiocruz e IDOR. Essa iniciativa consiste na produção de soros a partir do plasma de cavalos (parte amarela do sangue), que recebem a proteína S da sars-cov-2 e começam a produzir uma resposta imune, criando anticorpos contra o vírus. O soro é um tipo de tratamento usado há muitos anos contra picada de animais peçonhentos, como o soro antiofídico (para picada de cobras) e o antirrábico contra a raiva.
Atualmente a pesquisa se encontra em fase pré-clínica, que é a etapa onde são feitos os testes em laboratório e animais. Essa fase está sendo realizada nos laboratórios da Vital Brazil, Fiocruz e UFRJ. Além disso, estão sendo elaboradas as respostas à Anvisa da segunda rodada de negociações para receber a aprovação para os testes clínicos e iniciar a testagem em humanos. Mas eles já têm a aprovação do CONEP, que é o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa.
Os testes clínicos, última fase para o soro ser distribuído, serão feitos em parceria com o Instituto D'Or, com sete pacientes na primeira etapa e 34 na segunda. "Os testes clínicos estão programados para serem feitos em pacientes internados que ainda não estão entubados. Temos razão para acreditar que haverá sucesso. Um soro semelhante ao nosso passou por esses testes na Argentina com resultados positivos", disse Jerson Lima da Silva, professor e pesquisador da UFRJ.
Pesquisas de soro para tratamento da COVID-19 vêm sendo feitas em outros locais também. Na Argentina, o soro já está sendo distribuído e mostrou ótimo desempenho no tratamento destes pacientes infectados, evitando que o quadro se agravasse. No Brasil há também o Instituto Butantan em São Paulo fazendo pesquisa semelhante. Atualmente, o soro produzido pelo Butantan ganhou aprovação da Anvisa para começar os estudos clínicos (teste em humanos), que devem ser iniciados neste mês de abril de 2021.
Para a realização desta pesquisa da IVB junto com outras instituições, houve fomento de algumas entidades. A Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado Rio de Janeiro (FAPERJ) contribuiu com cerca de R$2,3 milhões de reais e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq) através do Ministério da Ciência e Tecnologia investiu R$1 milhão. Além disso, há o financiamento das próprias instituições à frente da pesquisa, utilizando sua infraestrutura e aparato tecnológico.
Luís Eduardo Ribeiro da Cunha, pesquisador da Vital Brazil, contou em entrevista, que a pesquisa teve início logo no começo da pandemia da COVID-19, com a vontade do IVB de contribuir de alguma forma para o combate ao coronavírus.
Jerson da Silva explica a diferença entre a vacina e o soro: "A vacina é um processo de imunização ativa. [...] O antígeno (corpo estranho, geralmente usa o próprio vírus) é inoculado (aplicado) na pessoa em uma ou mais doses e o organismo dela faz uma resposta imune produzindo anticorpos e resposta celular contra o vírus real, por exemplo contra o causador da COVID-19, o SARS-CoV-2. [...] No caso do soro é um processo de imunização passiva. É uma terapia. O antígeno é inoculado em animais, geralmente cavalos. Também pode ser utilizado diferentes antígenos. No caso do projeto desenvolvido pela UFRJ e IVB, se utiliza a proteína da espícula viral, a proteína S.”
Etapas da pesquisa:
A 1° etapa foi a obtenção do antígeno, que foi adquirido com a Coppe/UFRJ. Esse antígeno usado foi a proteína S do coronavirus (spike que fica na parte externa do vírus), separada e reproduzida pela professora Leda Castilho.
A 2° etapa consistiu na produção de anticorpos a partir da aplicação dessa proteína nos equinos, que vivem na fazenda do IVB, localizada em Cachoeiras de Macacu. Cinco cavalos receberam o Spike do vírus e após sete semanas os resultados se mostraram promissores. O animal conseguiu produzir até 150 vezes mais anticorpos que o plasma convalescente, que são os anticorpos de humanos que tiveram a doença. Depois desse tempo de inoculação, os cavalos passaram pelo processo de sangria, que é a retirada do sangue para a separação do plasma.
A 3° fase é a parte de purificação desse plasma retirado dos equinos para transformá-lo em soro. Além disso, aqui também acontecem os testes pré-clínicos e clínicos para garantir a segurança do produto e de que não haja nenhum efeito adverso, além de definir a dosagem ideal do soro.
Jerson Lima, em entrevista, diz que depois da distribuição do soro à população, o planejamento é usar essa soroterapia em pacientes com o quadro de saúde de leve a moderado e que estejam nos primeiros dias de infecção, para evitar o agravamento do caso e a necessidade de ventilação mecânica.
Após a aprovação, o pesquisador do IVB, Luís Eduardo, disse que a distribuição do soro será direcionada ao SUS. "É tudo para o SUS. Para o Ministério da Saúde, para a população brasileira; esse é o foco. O Instituto Vital Brazil é uma instituição centenária e faz parte do SUS. Nós somos da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Janeiro e nosso alvo como cliente é o SUS, sem dúvida nenhuma."
Em dezembro de 2020 foi criado em Niterói um Projeto de Lei (PL) de Nº 00266/2020 para dar apoio técnico, científico e financeiro à pesquisa. Porém, o Ofício de Nº 084/2021 vetou esse projeto e o IVB não chegou a receber nenhuma contribuição financeira da prefeitura.
O parecer da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) Nº 033/2021 explicou que a PL foi vetada integralmente por ser uma lei autorizativa que é inconstitucional porque ultrapassa os poderes legislativos ao autorizar ações ao executivo. Até o momento da publicação desta matéria essa PL permanece vetada.
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