Por João Pedro Sabadini
Foto: Reprodução O Maringá
1916, 1940, 1944 e 2020. O que esses anos têm em comum? A não realização, mesmo que inicialmente confirmada, do maior evento esportivo do mundo: os Jogos Olímpicos de Verão, ou as Olimpíadas. Nas três primeiras datas, o cancelamento se deu devido às Guerras Mundiais que aconteciam em diversos países; já em 2020, houve o adiamento por conta da pandemia da Covid-19, que assola o planeta. Os Jogos, a princípio marcados para o ano de 2020 entre os dias 24 de julho e 9 de agosto, foram remarcados para esse ano e acontecerão de 23 de julho até 08 de agosto, em Tóquio, no Japão, em meio a diversas críticas.
O adiamento trouxe consequências em diferentes escalas tanto para os atletas quanto para o país-sede, mas foi recomendado e necessário segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para a niteroiense Martine Grael, medalhista de ouro na vela na Rio 2016, a prorrogação "não ajudou nem atrapalhou": "Acho que cada um teve uma percepção diferente. A gente não conseguiu testar equipamento, mas acho que tudo bem também, porque temos experiência e conseguimos nos adaptar bem, então vai dar tudo certo", disse a campeã olímpica ao site A Seguir Niterói.
Martine, por sinal, não é a única integrante da já conhecida família Grael, de Niterói, a ir para as Olimpíadas nesta edição. O irmão, Marco Grael, está indo para a sua segunda, após estrear nos Jogos no Rio, em 2016, também na categoria de vela 49er. Ambos, já em Tóquio, estão muito bem acompanhados do pai e técnico Torben Grael, o maior medalhista do Brasil em Olimpíadas em toda a história - junto de seu companheiro de vela Robert Scheidt - com 2 ouros, 1 prata e 2 bronzes. Além disso, o irmão de Torben, Lars Grael, também participou de 4 edições e faturou 2 medalhas de bronze na mesma categoria ao longo de sua trajetória.
Sobre essa relação com a família, Martine ainda comenta: "A minha relação com a vela eu devo muito à minha mãe, porque sempre foi muito apaixonada pelo esporte e ela fez questão de passar esse sentimento de uma maneira muito legal. O meu pai sempre me motivou a me divertir com o que eu estava fazendo. Acho que era a coisa mais importante e para mim, até hoje, eu carrego como um lema na minha vida. A gente precisa se divertir, porque senão fica insuportável."
Foto: Reprodução Instagram Axel Grael
Audiência das modalidades
Apesar da vela ser a segunda modalidade que mais trouxe medalhas para o Brasil na história, com 18 até hoje - atrás apenas do judô, com 22 - essa disparidade de conquistas não se reflete nos números de telespectadores.
O mundialmente conhecido "país do futebol" não tem esse título à toa: segundo um levantamento feito pela Kantar Ibope Media na Rio 2016, dos 10 eventos com maior audiência nas 15 maiores regiões metropolitanas do país, excluindo as cerimônias de abertura e encerramento, 7 foram de partidas de futebol, sendo 5 do masculino e 2 do feminino. A primeira aparição da vela, por exemplo, nesse ranking, é na 39a colocação, com a conquista do ouro da própria Martine Grael e Kahena Kunze, sua dupla.
Repercussão no Japão
Do outro lado do globo, no país-sede Japão, a discussão sobre a realização dos Jogos ainda é muito debatida, mesmo com o início do evento. Uma pesquisa divulgada pelo jornal The Asahi Shimbun, um dos mais importantes do país, mostrou que 55% da população japonesa se opõe à realização dos Jogos neste momento e 68% não acredita que haverá a segurança sanitária necessária para o tranquilo decorrer das Olimpíadas.
Embora tenha tido uma liberação parcial de público exclusiva para residentes no Japão, com o aumento do número de casos de Covid-19 no país, várias cidades - incluindo Tóquio, que entrou em estado de emergência - enrijeceram as medidas de restrição e proibiram a presença de pessoas nas arenas. No entanto, algumas prefeituras, como as das cidades de Miyagi, Shizuoka e Ibaraki, ainda têm a pretensão de liberar até 10 mil espectadores, ou 50% da capacidade, em estádios de futebol e ciclismo.
Além da questão de saúde, um outro fator levantado é a questão econômica. Dois anos atrás, a Tóquio 2020 chegou a ser prevista como a Olimpíada mais rentável da história, com previsões de US$ 800 milhões (ou mais de R$4 bilhões) apenas em vendas de ingressos, um recorde até então. Contudo, o último levantamento oficial, atualizado no fim de 2020, registrou um custo de US$ 15,4 bilhões (ou aproximadamente R$ 80 bilhões) para a realização do evento, sendo US$ 2,8 bilhões (R$ 14 bilhões) adicionados em razão do adiamento, fazendo desta a mais cara já feita. Só com a falta de público estrangeiro e japonês restrito (ou até inexistente), uma projeção do Instituto de Pesquisa Nomura prevê um prejuízo de aproximadamente US$ 1,8 bilhão (ou R$ 9,4 bilhões). Esse mesmo Instituto também calculou que um possível cancelamento do evento resultaria em uma perda de US$ 17 bilhões (ou R$ 88,6 bilhões) ao país.
Envolto a tantas polêmicas, a Tóquio 2020 certamente será muito comentada, debatida e lembrada - positiva e negativamente - pelas próximas décadas.
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