Quem tem boca vai a Roma

 A história, as tradições e a culinária italiana em Niterói

Por Bruna Gomes

Foto: Montagem por Bruna Gomes de arquivos diversos

Spaghetti, Lasagna e Gnocci: a culinária italiana faz sucesso e remonta tradições em Niterói. A imigração de europeus durante o século XX trouxe traços culturais marcantes para a cidade, em especial a presença de restaurantes autênticos geridos por famílias descendentes de povos italianos, conhecidos pela boa comida e atendimento hospitaleiro. 

Após a Segunda Guerra Mundial,  diversas famílias italianas vieram para a cidade de Niterói, capital do estado naquele período e vizinha do porto de entrada dessas pessoas no Rio; o município acolheu aproximadamente 669 pessoas, todas fragilizadas pela situação socioeconômica da Europa pós-guerra. Niterói oferecia boa educação para as crianças e oportunidades de trabalho para os adultos, fazendo com que a instalação dessas famílias na cidade fosse bem-sucedida e garantindo a existência atual dos descendentes de italianos no município, representantes da herança cultural desse povo na Niterói de 2021.

Atualmente, Niterói conta com mais de 90 restaurantes especializados na culinária italiana que fazem grande sucesso entre os moradores da cidade, afinal, a gastronomia faz parte das rotinas e interesses de diversos niteroienses. Marta Vicente, moradora de Niterói, em entrevista ao Blog Alô, Gragoatá!, diz: “A gastronomia faz realmente parte da minha rotina, meu hobby preferido, adoro degustar coisas diferentes em restaurantes diferentes, pois curto quase todos os tipos de comida.”; para a securitária, é, inclusive, bastante difícil escolher um único prato  favorito, pois a culinária italiana é a que mais gosta. 

Foto: Reprodução blog Silvano Formentin

Pesquisando em sites de recomendação de restaurantes, é possível perceber a preferência do público por restaurantes italianos que tenham sido fundados por famílias de descendência, pois, para os clientes, desde o ambiente até os pratos servidos, é possível observar tradição, cuidado e qualidade, como se  estivessem sendo servidos por uma verdadeira nonna italiana. Para Leandro Bessa, morador de Niterói e amante da gastronomia: “Os estabelecimentos geridos por famílias têm maior personalidade e, geralmente, melhor comida.”; o advogado que tem como comida favorita capelleti, acredita que a gastronomia proporciona conforto emocional e abre possibilidade para novas experiências, inclusive culturais. 

Entre os diversos estabelecimentos tradicionais que servem o melhor da culinária italiana, destaca-se o “Da Carmine”, restaurante referência no cenário gastronômico niteroiense que conta com mais de 21 anos de tradição, tendo começado com uma história de amor entre pai e filho; Carmine, um italiano e cozinheiro de mão cheia, abriu o restaurante em sua casa para que seu filho o administrasse. O boca-a-boca ficou responsável por popularizar os pães e massas autenticamente italianos e, atualmente, os negócios de família se expandiram: o grupo Da Carmine possui três restaurantes espalhados por Niterói e uma linha de produtos alimentícios artesanais disponíveis para a venda. 

Foto: Reprodução site Da Carmine

A pandemia da Covid-19 virou de cabeça para baixo a realidade dos proprietários, trabalhadores e clientes de restaurantes dos mais diversos tipos, afetando também os hábitos daqueles que dependiam da boa e tradicional comida italiana. Suzanne Iervolino, colaboradora do grupo Da Carmine, nos conta: “Foi muito desafiador olhar os salões vazios, cadeiras viradas por tantos meses. Era uma dor física, dia após dia ver o restaurante fechado por meses e meses. Mas foi através de lives diárias, do compromisso profundo de manter todos os colaboradores empregados que nos motivamos e adaptamos na esperança de dias melhores. Teremos à frente muitos anos para ter uma recuperação financeira, mas a essência, a alma do restaurante foi preservada e lutamos todos os dias para trazer alegria para nossos clientes.”; já os clientes Marta e Leandro confirmam que abandonaram o hábito de frequentar restaurantes durante o último ano, como forma de garantir a saúde e proteção contra o vírus.

A expectativa para o futuro é que todos possam voltar a degustar as delícias italianas presencialmente, tendo a experiência completa do ambiente de restaurante e todo o acolhimento italiano tão conhecido. Afinal, sentar à mesa e presenciar traços culturais que foram passados de geração para geração torna a experiência gastronômica ainda mais divertida e prazerosa. Nos restaurantes da família de Carmine, por exemplo, além da autêntica culinária regional italiana, existem outras tradições compartilhadas com o público: “Nossa família é uma famiglia musical, e é lindo ver que toda a equipe ama os dias que temos música. Cantam, dançam e se divertem, é lindo de ver.”, diz Suzanne. 

Foto: Reprodução site Da Carmine

É essa mistura de tradições, receptividade e boa comida que garante que os clientes sempre retornem a um restaurante, começando a fazer parte da família fundadora do estabelecimento. Suzanne confirma essa ideia: “Nesses muitos anos, já tivemos casais que namoraram, casaram e tiveram filhos. Acompanhar a trajetória das vidas dos nossos clientes é emocionante, assim como sermos descobertos todos os dias por clientes novos. Conseguimos também reunir no restaurante várias comunidades de calabreses, por exemplo, que começaram a criar festas, e dessa forma conseguiram matar a saudade tanto da língua materna, falar em dialeto, quanto da comida da saudosa Itália.”, conta.

A culinária se torna, além de comida, uma manifestação cultural, emocional e social. Ao frequentar um restaurante os clientes passam a integrar a história e o grupo familiar do local, além de compreender e experimentar mais da herança não-material daquele povo: os costumes, afetos e relações dos colaboradores entre si e para com o público.