Stand-up e quarentena: como a pandemia da Covid-19 abalou o nosso riso

Desde que o primeiro caso da Covid-19 chegou ao Brasil, reformulações aconteceram em diversas áreas, o stand-up foi uma delas. 

 Por Larissa Vitória

 

Era quarta-feira, dia 26 de fevereiro de 2020 quando o primeiro caso do novo Coronavírus aterrissara no Brasil sem anunciar a sua chegada, a previsão do tempo mostrava que aquele seria um dia quente em Niterói, podendo alcançar uma máxima de 34ºC, no dia anterior havia sido a terça-feira de carnaval e a cidade inteira festejava sem noção de que a razão do caos que se estabeleceria no país a seguir já estava ali. Desde então, modificações ocorreram em diversos setores, incluindo o ramo do Stand-Up Comedy, alterando a realidade daqueles que dependiam dessa atividade para obtenção ou complementação de renda. 


Foto: Freepik 

 

A princípio, essas alterações seriam passageiras, a ideia do governo federal era a de que o país passasse por uma quarentena curta, com duração de 15 dias, mas logo notou-se que a situação era muito mais séria e que medidas mais rígidas teriam que ser tomadas, e foi assim que, de mês em mês, o país chegou ao seu um ano e meio de quarentena. 


Algumas das modificações impostas pela quarentena foram sofridas fortemente pelos profissionais do chamado Stand-Up Comedy, a profissão que é majoritariamente exercida na noite teve dificuldades para se manter nesse período. Gabriel Campelo, comediante e estudante de Jornalismo na Universidade Federal Fluminense de Niterói, diz que a sua maior dificuldade foi se reinventar: “A partir do momento em que foi decretado o lockdown no Brasil, toda a profissão foi ficando meio digital, tive, então, uma dificuldade muito grande ao precisar adaptar o meu conteúdo às novas tecnologias e aplicativos (TikTok, Reels do Instagram, IGTV...)”. 


Antes da quarentena, Gabriel costumava se apresentar em espaços de shows no Rio, Niterói, São Gonçalo e adjacências. Niterói que, inclusive, lançou Paulo Gustavo, o ator, que faleceu no dia 4 de maio de 2021 em decorrência da Covid-19, foi um dos principais nomes da comédia brasileira nos últimos tempos e teve a sua carreira iniciada no stand-up


Foto: Gaúcha ZH 

 

Quando questionado sobre o que o fez se interessar pelo universo do stand-up, Gabriel comenta que: “Sempre fui muito ligado nessa questão de atuar, tendo mãe atriz nunca cheguei a fazer um grande curso de teatro de fato, mas o pouco que aprendi me direcionou pra essa área da comédia, porque além de ser algo que eu consumia sempre, pessoas próximas à área de teatro sempre me diziam que fazia o meu perfil. A partir daí acabei pegando mais gosto por escrever as piadas de fato, que precisam ser autorais, e atualmente tenho tido mais vontade de seguir por esse caminho do que por qualquer outro segmento da comédia”. Gabriel comenta ainda, que as suas principais referências do ramo são Diogo Defante pelo humor sem sentido, Murilo Couto e Fábio Porchat: “Eles me chamam muito a atenção pelo gatilho cômico do exagero, eles pegam uma situação muito comum e colocam uma visão mais exagerada, com gestos corporais e improvisos”. 


Com o avanço da vacinação no estado do Rio de Janeiro, alguns clubes têm, aos poucos, sentido confiança para retornar às atividades com a capacidade reduzida, essa lenta reabertura também tem deixado algumas modificações claras para os profissionais do ramo, segundo Gabriel: “Quando teatros e bares começaram a reabrir com a capacidade reduzida, a maior dificuldade imposta foi a plateia que, de fato, quando reduzida pode acabar ficando dispersa, mas o humorista/ator tem mecanismos para chamar a atenção pra si, então só de voltar aos trabalhos de fato é um alívio”.


Foto: Instagram (@ogabrielcampelo) 

 

Um dos locais que concede o seu espaço para shows de stand-up em Niterói, é o Casarão dos Sabores; a pizzaria, que fica localizada no bairro do Barreto, abre o seu palco quinzenalmente para apresentações de comediantes da região. 

Ao contrário do Gabriel, alguns comediantes começam hoje em dia, em sentido oposto ao caminho tradicional, começando a atuar na profissão pelo meio digital, para só posteriormente iniciar a atuação nos palcos, foi esse o caso de Antony Fernandez.  


Antony começou a se interessar pela área da comédia stand-up pouco antes da Covid-19 chegar ao Brasil, logo, pouco tempo depois de dar início à sua carreira nos palcos, teve o seu processo desacelerado pela quarentena: “Eu comecei a fazer minhas gracinhas na internet um pouco antes da pandemia e quando comecei no stand-up já estava rolando a circulação do vírus nos outros países. Fiz uns três shows em bares antes do vírus chegar de fato ao brasil. A minha relação não mudou muito, já que eu tinha acabado de começar a atuar e já estava na internet, porém atrapalhou o meu desenvolvimento pois eu poderia estar fazendo mais shows”.



Foto: Instagram (@antony__fe) 

 

Apesar do momento turbulento atravessado pelos profissionais do ramo, Antony demonstra boas expectativas para quando o cenário se restabelecer, ele diz que: “Minha expectativa para quando a quarentena acabar é de que a cena da comédia carioca possa crescer, voltar aos shows com frequência e que as pessoas se sintam seguras para saírem de suas casas e se divertirem”. 


Para Antony, é importante que as pessoas frequentem mais regularmente shows de stand-up porque "É uma opção de lazer interessante e essencial, principalmente no Brasil que ainda é algo muito novo e tem se expandido, para isso, é essencial que as pessoas possam ir assistir. É muito comum, por exemplo, você fazer um show, perguntar quem nunca foi e uma galera levantar a mão. É uma cultura de comédia diferente da que se popularizou nos programas de televisão e por isso torna-se pra nós, brasileiros, algo novo e interessante. No mais, serve como trampolim para que muitos artistas que sonham em ser humoristas popularizem seu trabalho”. 

 

Mais informações:

Gabriel Campelo: https://www.instagram.com/ogabrielcampelo/

Antony Fernandez: https://www.instagram.com/antony__fe/

 


Comentários

  1. Larissa, gostei muito do texto. Achei muito legal conhecer mais sobre um colega de sala e sobre a realidade do pessoal que dependia das apresentações em meio a pandemia. Texto muito bem escrito, parabéns <3

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